Caminhar com os pobres. Partilha de Advento

Não me é pedido que resolva ou salve o mundo. Isso é tarefa de Deus! A mim, apenas me é pedido para “caminhar com” quem me é confiado, com amor e dedicação.

Não me é pedido que resolva ou salve o mundo. Isso é tarefa de Deus! A mim, apenas me é pedido para “caminhar com” quem me é confiado, com amor e dedicação.

Este texto é uma partilha sobre o meu Advento, por isso, gostava de dar uma breve contextualização:

Sou o Zé Maria, sou jesuíta desde 2017 e estou no magistério.

O magistério é uma fase de formação de um jesuíta, um período de dois anos entre os estudos de filosofia e os de teologia, onde a principal missão é a participação no trabalho apostólico e nas obras da Companhia. O meu magistério é na comunidade jesuíta de S. Pedro Claver, no Monte da Caparica, a trabalhar no Serviço Jesuíta aos Refugiados, a ser educador no Centro Juvenil P. Amadeu Pinto sj e a colaborar na paróquia de S. Francisco Xavier. Pode-se dizer que tenho uma missão onde é mais explícita a dimensão jesuítica de “caminhar com os pobres e descartados”.

O Advento deste ano está marcado, para mim, pela confiança, leveza e alegria. São moções que me chegam principalmente pela minha atual missão, mas não me parece que sejam exclusivas para um jesuíta em formação. Acho que podem ser graças que Deus nos está a querer a todos. Passo a explicar:

Confiança

Penso muitas vezes “Que posso eu fazer por esta pessoa nesta situação tão delicada?”.

Acredito sinceramente que Deus trabalha muito mais e muito melhor do que eu por cada uma das pessoas com quem trabalho e a quem me dedico. Deus trabalha, sem parar, na vida de cada pessoa e na salvação do mundo. É Ele quem faz justiça, que traz a solução dos problemas sociais, que é o protagonista da construção do Reino. Por muito que eu queira fazer o bem, Deus faz sempre mais e melhor.

Isto também se aplica na vida de cada um, nas suas relações, na família, com os amigos, no emprego, no trabalho voluntário… Deus faz sempre mais e melhor. E age, muitas vezes, sem que percebamos, sem que entendamos o Seu plano.

O nascimento de Jesus é o exemplo mais perfeito disto: o próprio Deus que encarna, quase na anonimidade, na pobreza, na periferia, sem lugar na hospedaria, cheio de “problemas sociais”… e é por aí que Deus prepara a salvação do mundo.

Por isso, como não confiar? Como não acreditar que Deus trabalha? Como não ter fé que, apesar de tudo o que acontece na nossa vida, o Senhor está em ação e, como não pode deixar de ser, nós mesmos e aqueles por quem rezamos estamos nas mãos de Deus.

Leveza

Com esta confiança vem uma leveza incrível. Há uma certa desresponsabilização pessoal. Não me entendam mal, pois nada tem que ver com uma menor empatia ou menor sentido de missão e seriedade no trabalho… não é isso.

Não me é pedido que resolva ou salve o mundo. Isso é tarefa de Deus! A mim, apenas me é pedido para “caminhar com” quem me é confiado, com amor e dedicação. Sou chamado a trabalhar, sim, mas não preciso de assumir todo o peso e responsabilidade da solução. Tento fazer a minha parte bem feita, entrego o pouco que sou e posso no altar, e Deus fará a parte dele.

Que descanso é trabalhar quando o peso e a tensão são entregues a Deus.

Parece-me que Deus prefere a nossa vida assim: “Venham a mim os que estão cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei… O meu jugo é suave e a minha carga é leve.”

Alegria

À confiança e leveza segue-se a alegria, porque não há melhor missão no mundo do que trabalhar para Deus. É que somos criados para isso! Cada um com a sua vocação, a responder ao desejo de Deus para a sua vida, com autenticidade, da maneira como Deus nos sonha e cria.

Este Advento pode ser uma oportunidade para aprofundar esta alegria. Para mim está a ser. E por isso é tão importante rezarmos uns pelos outros, pedindo as enormes graças da descoberta e fidelidade às próprias vocações. Arrisco-me a pedir este favor: que rezemos pelas várias vocações dentro da Igreja, para que cada um descubra onde Deus o quer a caminhar e a trabalhar.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.