P. Arturo Sosa: o 30º sucessor de Inácio visita Portugal

Atual Superior Geral do Jesuítas chega a Portugal no sábado para a sua primeira visita à nossa Província que durará cinco dias e passará por algumas das principais zonas de ação apostólica da Companhia: Algarve, Lisboa, Braga e Porto.

Atual Superior Geral do Jesuítas chega a Portugal no sábado para a sua primeira visita à nossa Província que durará cinco dias e passará por algumas das principais zonas de ação apostólica da Companhia: Algarve, Lisboa, Braga e Porto.

Foi pela mão do pai que o pequeno Arturo foi descobrindo a Venezuela, ainda criança, acompanhando-o nas suas viagens de negócios e tomando contacto direto e profundo com a realidade do seu país. Esta consciência dos problemas sociais e políticos foi depois alimentada dentro de casa, ao longo da sua juventude, pelas conversas e ações que via acontecerem à sua volta, com o país no rescaldo do fim da ditadura militar e um pai, profundamente implicado na vida política, que dizia que “era impossível que a sua família estivesse bem se o país estivesse mal”.

Nos anos 60, já como aluno do Colégio de Santo Inácio, em Caracas, voltou a sentir-se inquieto e impressionado pelas condições de vida dos que habitavam os bairros pobres da cidade e das crianças que estavam no Hospital Pediátrico dos Irmãos de São João de Deus, lugares que visitava nas atividades extracurriculares do colégio e que o puseram de novo a olhar para os mais frágeis e descartados da sociedade. Estas experiências marcantes vividas nos primeiros anos de vida foram forjando a vocação jesuítica de Arturo Sosa, atual Superior Geral do Jesuítas, que chega a Portugal no sábado para uma visita à nossa Província que durará cinco dias e passará nalgumas das principais zonas de ação apostólica da Companhia. No livro “A Caminho com Inácio”, publicado no ano passado, o P. Arturo Sosa conta que a sua vocação não adveio de nenhum evento especial ocorrido na sua vida – à semelhança, por exemplo, do próprio Inácio de Loiola – mas de vários momentos que foram acontecendo ao longo da sua história. Se a Congregação Mariana que frequentou durante os cincos anos de bacharelato lhe permitiu aprofundar a relação com Jesus, já os Exercícios Espirituais de mês feitos durante o Noviciado foram a confirmação de que o caminho era por ali.

As questões sociais e a preocupação com a justiça e o bem comum perpassam todo o percurso do agora Superior Geral dos Jesuítas, hoje com 74 anos e que, em 1966, apenas com 17, entrou no Noviciado da Companhia de Jesus na Venezuela, levando consigo um único livro: os documentos do Concílio Vaticano II, que acabara de se realizar.

As questões sociais e a preocupação com a justiça e o bem comum perpassam todo o percurso do agora Superior Geral dos Jesuítas, hoje com 74 anos e que, em 1966, apenas com 17, entrou no Noviciado da Companhia de Jesus na Venezuela, levando consigo um único livro: os documentos do Concílio Vaticano II, que acabara de se realizar. A sua opção de se tornar jesuíta, mais do que propriamente ser padre, foi também despertada pela proximidade e bondade dos irmãos jesuítas que conheceu no colégio da sua juventude, e, acrescenta, pela forma especial com que se relacionavam com os jovens e com o mundo. O desejo de servir a população mais necessitada, que diz estar profundamente associado à sua vocação, deitou por terra o sonho de ser médico, despertado pelo fascínio pela anatomia e a biologia, bem como outros projetos, como casar e constituir família.

Arturo Sosa Abascal nasceu em Caracas a 12 de novembro de 1948, no seio de uma família numerosa – é o mais velho de seis irmãos – e num ambiente familiar marcado por muita gente e uma intensa animação. Neto de um emigrante espanhol e filho de uma venezuelana que, na impossibilidade de terminar os estudos universitários, se dedicou a tempo inteiro aos filhos, diz ter sido educado na responsabilidade pessoal e na liberdade acompanhada. Aos 10 anos, assistiu ao fim da ditadura militar venezuelana e o seu pai assumiu funções políticas relevantes, primeiro como ministro e depois como membro da Junta do Governo que organizou as eleições democráticas.

Após os estudos de Filosofia, feitos na Universidade Católica Andrés Bello, pertencente à Companhia de Jesus, em pleno ano de 68, com a sociedade e a vida universitária em polvorosa, fez o magistério no Centro Gumilla, dedicado à promoção social da Venezuela, onde pode aprofundar o estudo e a investigação em torno dos temas sociais. Ainda aspirou a prosseguir os estudos na América Latina, onde se dava a explosão da teologia latino-americana da libertação e onde queriam estar todos os jesuítas da sua geração, mas acabou por ser enviado para estudar Teologia em Roma, onde tinha acabado de abrir o Colégio Internacional do Gesù. Uma mudança radical que foi custosa, admite, mas que acabou por ser muito proveitosa para a sua formação.

Ordenado padre em 1977, regressou ao seu país para terminar o quarto ano de Teologia e para se tornar coordenador do apostolado social dos jesuítas e também diretor do Centro Gumilla, onde dirigiu entre 1979 e 1996 a revista SIC. Foi por essa altura que fez o doutoramento em Ciência Política na Universidade Central da Venezuela, onde também foi professor. Durante esse período, lidou de perto com os movimentos de extrema esquerda, dos quais foi defensor, tendo conhecido Hugo Chávez, com quem conversava com frequência e que visitou na prisão após a sua detenção na sequência do golpe militar de 1992. Ficou célebre o episódio em que o P. Arturo Sosa, juntamente com um jesuíta que trabalhava na Procuradoria-geral da República e um bispo, acompanharam a transferência de Chávez para outro estabelecimento prisional. O objetivo era estabelecer pontes na sociedade, recorda no livro A Caminho com Inácio, por isso se ofereceram para essa missão, mas a verdade é que foi uma viagem de carro carregada de tensão, pois temia-se que o líder político fosse alvo de alguma tentativa de morte durante o percurso. Apesar desta proximidade com Chávez, o P. Arturo Sosa veio a tornar-se um forte crítico do chavismo e da sua conceção de poder que resumiu nesta imagem: uma única cabeça com um pé militar, civil e político. Hoje, é com enorme tristeza que olha para o seu país: “Choro mais de dor do que de raiva. Nunca pensei que se pudesse destruir tanto”, confessa no livro que saiu no ano passado, por altura do Ano Inaciano.

Apesar desta proximidade com Chávez, o P. Arturo Sosa veio a tornar-se um forte crítico do chavismo e da sua conceção de poder que resumiu nesta imagem: uma única cabeça com um pé militar, civil e político.

Com apenas 34 anos participou na 33ª Congregação Geral, o órgão máximo da Companhia de Jesus a nível mundial, onde foi eleito o Superior Geral que sucedeu ao P. Pedro Arrupe, o holandês Peter-Hans Kolvenbach. Desse tempo, o mais jovem delegado dessa Congregação Geral recorda as visitas diárias ao P. Arrupe, que já se encontrava na enfermaria da Cúria Geral, e o seu discurso emocionado de renúncia que abriu espaço à sua sucessão.

Foi em 1996 que o P. Geral o indicou como Provincial da Venezuela, cargo que assumiu até 2004, tendo conduzido a província num profundo processo de discernimento, do qual resultou um plano e uma visão que duraram 20 anos. No final desse período, foi designado reitor da Universidade Católica de Táchira, em San Cristóbal, a cerca de 1200 quilómetros de Caracas, junto à fronteira com a Colômbia.

Em 2008, o P. Adolfo Nicolás nomeou-o conselheiro do P. Geral e seis anos mais tarde foi chamado a Roma, para integrar a comunidade da Cúria Geral, como delegado para as casas internacionais da Companhia, que incluem a Pontifícia Universidade Gregoriana, o Instituto Bíblico, o Observatório do Vaticano e a Civiltà Cattolica, bem como as casas de formação dos jesuítas em Roma.

A sua eleição como Superior Geral decorreu em 2016, tendo sido eleito o 30ª sucessor de Santo Inácio de Loiola no dia 14 de outubro, cargo que deverá exercer vitaliciamente. Da sua experiência de líder máximo dos jesuítas sublinha a responsabilidade da tomada de decisões, que, diz, “devem decorrer segundo um processo de discernimento e não segundo a primeira coisa que me ocorre ou me pareça a mim. Não se trata apenas de estudar e discutir as questões.”

 

O programa da visita do P. Geral é aberto a toda a comunidade inaciana e pode ser consultado aqui.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.