Pedro Strecht: “Muitas vítimas fazem pela primeira vez a descrição do que viveram”

Coordenador da Comissão Independente diz que os relatos das vítimas são de uma emoção brutal e acredita que a sua revelação é pacificadora. Lembra que é preciso acompanhar estas pessoas para que não fiquem sozinhas e abandonadas outra vez.

“Os testemunhos são muito impactantes, com uma emoção brutal”, afirma Pedro Strecht, coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, onde têm chegado nas últimas semanas dezenas de relatos e testemunhos de pessoas que foram abusadas sexualmente durante a infância por membros da Igreja. O pedopsiquiatra que está responsável por este organismo, criado a pedido da Conferência Episcopal Portuguesa no final do ano passado, sublinha ainda o enorme sofrimento por que passaram estas pessoas. Não só por terem vivido uma situação de abuso, mas por terem guardado silêncio sobre o que se passou durante décadas, movidas pela vergonha, a culpa, o medo e a exclusão. “Muitas fazem pela primeira vez a descrição do que viveram. São pessoas completamente desamparadas e o traumatismo emocional que resultou do que aconteceu bloqueou e distorceu fases do seu crescimento.”

Ao fim de quase dois meses de atividade, Pedro Strecht afirma que já foram recolhidos registos e testemunhos (via inquérito online, presencialmente ou pelo telefone) de mais de duas centenas de pessoas, sendo que grande parte dos casos reporta-se a situações que aconteceram há décadas. Contudo, está consciente de que também poderão ser encontrados casos de crimes ainda não prescritos ou de abusadores que ainda estão vivos e em funções. Por isso, a comissão mantem uma ligação muito próxima com a Procuradoria geral da República e no final do trabalho deverá dar a conhecer o seu trabalho a todas as dioceses. “É muito importante para saber se o assunto cessou ou sobre a mesma pessoa e o mesmo local permanecem dúvidas de que possam continuar a acontecer”, acrescenta.

Pedro Strech afirma ainda que a comissão pretende aceder aos arquivos históricos das dioceses e reconhece que este trabalho está a abrir portas e que, quando terminar o seu mandato, no final do ano, ficarão muitas outras áreas para as quais é preciso olhar.

 

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