“Rei dos Reis”: o novo “Príncipe do Egipto”?

Reis dos Reis cativou-me, fazendo-me sentir como se a história de Jesus me estivesse a ser contada pela primeira vez. Senti-me criança outra vez, da forma como Jesus nos pede para ser e esse foi um ótimo exercício quaresmal.

Já lá vão 30 anos desde o lançamento de O Príncipe do Egipto. Foi a última vez que foi lançado  em cinemas um filme de animação sobre uma história bíblica. Um filme que ainda hoje – por gente da minha geração que tanto o viu – é falado por crentes e não crentes, com um certo de tom de nostalgia, como uma grande obra de animação por várias razões: por fazer parte de uma das melhores épocas do cinema de animação onde se combinava animação tradicional com Computer Generator Image CGI (outros exemplos deste estilo são Tarzan, O Rei Leão, Atlantis: O Reino Perdido, O Planeta do Tesouro, pelos grandes nomes no seu elenco como Ralph Fiennes, Steve Martin, Sandra Bullok e Val Kilmer (que faleceu recentemente) e pela sua memorável banda sonora, composta por dois gigantes musicais: Hans Zimmer e Stephen Schwartz.

Para além disso, é sempre curioso para mim observar como O Príncipe do Egipto ainda hoje é a referência de tanta gente sobre o Antigo Testamento. Acuso que inclusive na minha infância,  apontava a história de Moisés como a minha preferida, por me lembrar dela em tanto detalhe  graças a este filme que gostava tanto. Talvez agora, três décadas mais tarde, venha uma referência para o Novo Testamento em forma de filme de animação.

Falo de Rei dos Reis, a nova produção da Angel Studios, uma empresa de media e estúdio de  distribuição americana que através de crowdfunding produz conteúdos de muita qualidade  baseados no cristianismo. Já é conhecida por quem se inclina para filmes e séries à luz da fé  como Cabrini e The Chosen.

Rei dos Reis é uma história imersiva e inspirada em A Vida de Nosso Senhor de Charles Dickens, que por sua vez é inspirado no evangelho de São Lucas. Este livro não foi escrito para o olhar público e visava ser uma obra destinada exclusivamente aos seus filhos, recusando o autor a sua publicação enquanto todos eles fossem vivos.

No filme somos convidados a entrar na perspetiva de Charles Dickens, que aproveita o seu jeito  de storyteller para contar ao filho pequeno a história da vida, morte e ressurreição de Jesus  através de um olhar simplificado, envolvente e cativante. Dá-nos assim uma visão muito mais  ampla do Novo Testamento do que O príncipe do Egipto nos deu sobre o Antigo. É um filme que  nos leva às lágrimas quaresmais e que apesar de ser à primeira vista destinado a crianças, toca  nos pontos certos para recentrar qualquer adulto nesta Páscoa que se aproxima. Sei que muita  gente vê anualmente A paixão de Cristo de Mel Gibson com este propósito, e talvez esta possa  ser uma boa alternativa para esse efeito – com a mais valia de que toda a família o pode ver junta. Reis dos Reis cativou-me, fazendo-me sentir como se a história de Jesus me estivesse a ser  contada novamente pela primeira vez. Não sou de filmes infantis, mas ao vê-lo não me senti  “infantilizada”. Senti-me criança outra vez, da forma como Jesus nos pede para ser, e esse foi um  ótimo exercício quaresmal.

O filme estreia nos cinemas portugueses a 10 de abril e tem a duração de 1h40. Na versão  original legendada ouvimos as vozes de Oscar Isaac, Ben Kingsley, Forest Whitaker e Uma  Thurman e conta ainda com uma contribuição musical de Kristin Chenoweth. Na versão dobrada  para português ouvimos Diogo Infante, Mimicat e Ricardo Pereira.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.