Chovia, e ninguém arredava pé. Mais de 50 mil pessoas juntaram-se em Fátima no dia 13 de outubro de 1917. O que as movia? A promessa de que algo extraordinário iria acontecer, pois uma senhora vestida de branco deixou-se ver por uns humildes “pastorinhos”, os nossos Jacinta e Francisco Marto, santos, e Lúcia.
A certa altura, Lúcia diz ao povo para olhar o Sol. O Sol parecia bailar, e mesmo os mais aguerridos ateus que por lá estavam para reportar a infantilidade da nação, surpreenderam-se com o inesperado fenómeno. Contudo, mais importante do que um sol que dança, é saber o que viram Francisco, Jacinta e Lúcia. O que viram os pastorinhos?
Lúcia viu três ‘quadros’, dos quais pode ler um breve resumo aqui ou saborear mais aprofundadamente nas Memórias da Irmã Lúcia, disponibilizadas em PDF pelo Santuário de Fátima. No primeiro, viu a Sagrada Família, em que São José e o Menino pareciam abençoar o mundo; no segundo, viu Jesus a caminho do Calvário, acompanhado por Nossa Senhora; e no terceiro viu Jesus e Maria, Maria já sem a espada no coração e Jesus em gestos de bênção sobre o mundo.
Com a nossa oração não mudamos o coração de Deus. O Seu coração não precisa da nossa oração pois jamais deixou de sentir dor pelo sofrimento dos seus filhos. Com a nossa oração mudamos o nosso coração. Abrimos, isso sim, o nosso coração à missão de compaixão de Cristo pelo mundo, ao amor pelos outros.
Demasiadas vezes reduzimos Fátima aos três segredos e suas paisagens de dor e perseguição. Mas acima de tudo, Fátima é esperança, é a possibilidade de renovar e reparar o mundo através do poder da nossa oração. É este o íntimo do Coração de Jesus e o centro da mensagem de Fátima.
Nem sempre podemos aliviar os sofrimentos dos que estão longe. Mas participando na sua dor, rezando o terço com empatia, quebramos o muro da indiferença que enregela o nosso mundo. E a bênção vem. E a bênção desce. E a bênção é.
Com a nossa oração não mudamos o coração de Deus. O Seu coração não precisa da nossa oração pois jamais deixou de sentir dor pelo sofrimento dos seus filhos. Com a nossa oração mudamos o nosso coração. Abrimos, isso sim, o nosso coração à missão de compaixão de Cristo pelo mundo, ao amor pelos outros.
Um coração aberto multiplica os gestos de bondade no mundo. Um coração aberto acompanha o Senhor e a sua Mãe na Via Sacra do mundo, uma Via Sacra que parece não ter fim, mas em que abunda a esperança da Ressurreição.
É pela empatia e participação amorosa nos sofrimentos do mundo, no derrogar da indiferença, que todo o mundo é abrasado no amor de Deus.
Neste mês de outubro, usemos o Rosário como a nossa arma de compaixão, para que a pedra do nosso coração dê lugar à vida divina do amor.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.