Educar para quê?

Como peregrinos, tendo diante de nós os fins – aquilo que desejamos semear no terreno fértil da vida complexa de cada aluno e aluna –, escutemos, no nosso interior, a frescura das palavras do Papa Francisco na JMJ.

Nos primeiros dias deste novo ano letivo, que se prevê longo, exigente e com muitas lutas, antes que se desperte da hibernação das férias o Adamastor da burocracia, com rajadas de preocupações e gritos acelerados, uma pergunta se coloca a TODOS os educadores: para quê educar?

Como peregrinos, tendo diante de nós os fins – aquilo que desejamos semear no terreno fértil da vida complexa de cada aluno e aluna –, escutemos, no nosso interior, não o peso das frustrações nunca resolvidas ou a asfixia dos comentários ressabiados dos velhos do Restelo, mas a frescura das palavras  do Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude. No eco de cada bem-aventurança, pondo a pessoa no centro, desafiemos TODOS os nossos alunos e alunas a contemplar a vida como desejo eterno de felicidade.

No eco de cada bem-aventurança, pondo a pessoa no centro, desafiemos TODOS os nossos alunos e alunas a contemplar a vida como desejo eterno de felicidade.

1) Bem-aventurados os que educam a cabeça, o coração e as mãos: que se preocupam pelo desenvolvimento integral de todas as dimensões da pessoa e não apenas pelos resultados académicos.

“A educação é importante, não se pode limitar a fornecer noções técnicas para se progredir economicamente, mas destina-se a introduzir numa história, transmitir uma tradição, valorizar a necessidade religiosa do homem e favorecer a amizade social.” – Papa Francisco, Discurso no encontro com as Autoridades Portuguesas, 2 de agosto de 2023.

2) Bem-aventurados os que educam para a verdadeira felicidade: que ensinam cada um a dialogar com o seu interior e a viver os erros como uma oportunidade de crescimento.

“Em momentos de desânimo e de jubilação, deixemos que Jesus suba à barca de novo. Com a ilusão inicial, que deve ser revivida, reconquistada, reeditada. Ele vem procurar-nos nas nossas solidões e crises para nos ajudar a recomeçar.” – Papa Francisco, Encontro com as autoridades Eclesiásticas e Agentes Pastorais, 2 de agosto de 2023.

3) Bem-aventurados os que educam para o serviço e o bem-comum: que desafiam cada um a nunca se cansar de pôr os seus talentos ao serviço dos outros e a comprometer-se com a transformação ativa da sua realidade.

“Na imagem do «peregrino», espelha-se a condição humana, pois todos somos chamados a confrontar-nos com grandes interrogativos para os quais não basta uma resposta simplista ou imediata, mas convidam a realizar uma viagem, superando-se a si mesmo, indo mais além. (…) Com efeito, o título de estudo não deve ser visto apenas como uma licença para construir o bem-estar pessoal, mas como um mandato para se dedicar a uma sociedade mais justa e inclusiva, ou seja, mais avançada.” – Papa Francisco, Discurso aos jovens universitários, 3 de agosto de 2023.

4) Bem-aventurados os que educam para a responsabilidade e a liberdade: que promovem o espírito crítico e ajudam cada um a discernir o seu projeto de vida.

“Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado. Quantos lobos se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade, dizendo que conhecem quem és, mas sem te querer bem, insinuando que creem em ti e prometendo que serás alguém, para depois te deixarem sozinho, quando já não lhes fores útil. São as ilusões do mundo virtual e devemos estar atentos para não nos deixarmos enganar, porque muitas realidades que nos atraem e prometem felicidade mostram-se depois pelo que são: coisas vãs, supérfluas, substitutos que deixam o vazio interior.” – Discurso aos Jovens na Celebração de Acolhimento, 3 de agosto de 2023.

5) Bem-aventurados os que educam para a profundidade e a paciência: que ajudam cada um cuidar das suas raízes e a lutar por aquilo que sonha e acredita.

“Raízes de alegria. Por momentos fechai os olhos e imaginai uma árvore, uma árvore grande e bela… Como consegue aquela árvore resistir às tempestades e aos ventos que a sacodem! Como pode ela permanecer firme? Graças às raízes. Connosco dá-se o mesmo: as raízes dão-nos a estabilidade de que precisamos. São as fontes escondidas da alma.” – Papa Francisco, Vigília, 5 de agosto de 2023.

6) Bem-aventurados os que educam para a humildade e a fraternidade: que ajudam cada um a reconhecer os seus limites, a respeitar a diferença e a dialogar com todos.

“Mas também gostava de vos dizer uma coisa: não nos tornamos luminosos quando nos colocamos sob os holofotes, quando exibimos uma imagem perfeita e nos sentimos fortes e bem-sucedidos. Mas brilhamos quando, acolhendo Jesus, aprendemos a amar como Ele amou. Amar como Jesus – isso faz-nos luminosos, isso leva-nos a fazer atos de amor. Não se enganem, vão ser luz no dia em que tiverem atos de amor. Se em vez de fazermos atos de amor, olharmos para dentro, com egoísmo, a luz apaga-se.” – Papa Francisco, Homilia da Missa de Envio, 6 de agosto de 2023.

7) Bem-aventurados os que educam com entusiasmo e com paixão: que ajudam cada um a descobrir o gosto pela sabedoria, fazendo do dom recebido dom entregue.

“Nestes dias, também vós enfrentastes uma verdadeira onda, não de água, mas de jovens que inundaram esta cidade. Mas, com a ajuda de Deus, com muita generosidade e apoiando-vos mutuamente, vocês desafiaram esta grande onda. Desafiaram esta grande onda, são muito corajosos. Obrigado. Quero dizer que continuem assim, continuem a seguir nas ondas do amor, nas ondas da caridade. Sigam sendo os surfistas do amor. Sejam os surfistas do amor. Esta é uma tarefa que eu vos encomendo neste momento. Que o serviço que fizeram nesta jornada mundial da juventude seja a primeira de muitas ondas do bem; que cada vez sejam levados mais alto, mais perto de Deus, e isto vos permita ver melhor o vosso caminho.” – Papa Francisco, Encontro com os Voluntários, 6 de agosto de 2023.

Bom ano letivo!

Santiago, República Dominicana

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.