A escola vive hoje um conjunto de desafios: a falta de professores, que já se constata no momento presente, e que poderá ter repercussões muito significativas num futuro próximo, sendo que este constrangimento afetará sobretudo, e uma vez mais, os alunos que se encontram em situação de desvantagem social; ou a necessidade urgente de envolver (mais) nos seus processos de aprendizagem uma geração de crianças e jovens – nativos digitais que vivem intensamente o “aqui e o agora” –, já que o envolvimento tem sido identificado como variável preditora do (bom) desempenho dos alunos.
Ao mesmo tempo, o Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentou esta semana dados que indicam que a taxa de abandono precoce da educação e formação desceu em Portugal, ainda que com variações por regiões, pelo 6º ano consecutivo, continuando abaixo da média europeia. Alguns desafios persistem, contudo, quando se olha para alunos em situação de desvantagem social e económica, para alunos com origem imigrante e para comunidades ciganas ou Roma. Também a melhoria significativa em todas as disciplinas avaliadas pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) – leitura, matemática e ciências – refletindo uma trajetória positiva encontrada em poucos países, foi destacada recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
A aposta na educação inclusiva – focada na procura de respostas para as necessidades de todos os alunos – surge também em maior destaque desde então.
Como podemos ler estes resultados? O Ministério da Educação tem vindo a apostar, sobretudo desde 2018, em políticas de autonomia e flexibilidade curricular, que visam a promoção de estratégias que impliquem um maior diálogo com famílias, alunos e com as comunidades. O recurso a Instrumentos como o Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, ou o Apoio Tutorial Específico, entre outros, têm sido apontados como aspetos chave para esta trajetória positiva.
A aposta na educação inclusiva – focada na procura de respostas para as necessidades de todos os alunos – surge também em maior destaque desde então.
A educação inclusiva em Portugal foi, também recentemente analisada num estudo da OCDE intitulado “força pela diversidade”, o qual destaca os progressos que Portugal tem feito ao longo destes anos, não obstante os constrangimentos provocados pela pandemia de COVID-19. Apesar dos pontos positivos, são também feitas um conjunto de recomendações importantes, das quais destaco: a promoção de políticas de recrutamento inclusivo (professores de diferentes origens étnicas, culturais e linguísticas), sobre as quais desconheço existir alguma estratégia, e o fortalecimento de processos de monitorização e avaliação das práticas existentes. Apesar das mudanças sentidas nos últimos anos em Portugal, existe ainda uma cultura que minimiza a monitorização e a avaliação da eficácia de práticas. Sobre este ponto torna-se fundamental referir que são as práticas baseadas em evidência as que apresentam indicadores de qualidade e eficácia robustos, e análises de custos-benefícios sustentados, essenciais para os processos de tomada de decisão feitos pelos agentes políticos.
Fotografia de: Jess Bailey – Unsplash
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.