A época de futebol acabou. Que maravilha! A pré-época é a fase do ano desportivo de que mais gosto. Os ajustes nos planteis, as trocas de cadeiras de treinador, os jogos de bastidores, as maquinações da imprensa induzidas pelas influências dos interessados (empresários e não só), as novelas e namoros dos clubes por reforços. Fascina-me.
Para quem gosta de olhar e analisar as coisas de fora, imaginar como é aquele craque se vai enquadrar na equipa e ao treinador, e estar sempre atento aos jornais para saber de todos os boatos e discuti-los em tempo real é uma delicia.
Por mais que goste da dinâmica envolvida e do que nos leva a fazer, o futebol e, invariavelmente, o desporto, deixou de existir tal como o conhecíamos. Ao comparar, por exemplo, um jogo de Rugby de há 20 anos e um jogo atual é impossível não notar as diferenças gritantes: os jogadores são mais rápidos, maiores, mais fortes e o jogo é mais rápido, mais complexo, mais dinâmico. E tudo isto por causa da profissionalização e da introdução do “vil metal” nesta modalidade.
Como é normal, o dinheiro mudou tudo. As equipas passaram a ser empresas. Os grandes clubes mundiais fazem partes de grandes clubes empresarias (com o City Investment Group à cabeça). O mercado de transferências (que não é exclusivo do futebol) gera milhões de euros todos os anos. É público que o “Super-Agente” Jorge Mendes esteve envolvido em transferências avaliadas em mais 500 milhões de euros só na pré-época do ano passado e já tivemos jogadores profissionais de futebol a assumir que se sentiam, não como desportistas, mas como ativos financeiros.
Com o desporto a ser um meio de fazer dinheiro, deixamos de o ver no seu real sentido – do francês “disport”, que significa divertimento – passando a ser algo sério, que só aborrece as pessoas. Não é por acaso que o resultadismo ou “pôr o autocarro à frente da baliza” são sempre tema de conversa.
No filme “Bobby Jones: a Stroke of Genius”, um filme biográfico sobre a vida de um golfista amador dos anos 30, que luta contra o poder do dinheiro sobre o desporto, tem como a frase mais marcantes “being an amateur is to love the game. Once you play for money, you can’t call it love anymore”[1]
A transformação do desporto em indústria tem as suas coisas boas e as suas coisas más, mas mais que dinheiro a circular, os empregos que cria e as discussões na esplanada, perdeu-se o amor pelo jogo. E com isso, a pureza do desporto.
E a pureza é uma coisa que só se perde uma vez.
[1] “Ser um amador é amar o jogo. A partir do momento em que jogamos por dinheiro, já não lhe podemos chamar amor” (tradução livre).
Fotografia de Maxim Hopman – Unsplash
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.