Voltar à fonte

Neste regresso à fonte saboreio estes passos que por aqui dou. Que por aqui damos. Guardo estes dias a transbordar de vida, de pessoas e histórias de resiliência e força que me inspiram e me ajudam a redescobrir o sentido do somos e fazemos

As características deste tempo tão desafiante que vivemos, obrigou a que muitas mudanças acontecessem nas nossas vidas. Neste tempo, o que não esperamos tornou-se o esperado e os planos traçados deram lugar a muitos caminhos que não se imaginavam. A mim, estes caminhos (in)esperados trouxeram-me até São Tomé e Príncipe.

Enquanto Gestora de Projeto está prevista uma visita anual de aproximadamente 15 dias ao terreno para acompanhar o trabalho que está a ser desenvolvido, no entanto, este ano as muitas situações a que tivemos de nos adaptar e que também condicionaram o envio de voluntários levaram a que fosse necessário ficar mais tempo.

Neste tempo tenho tido o privilégio de regressar à fonte do que fazemos e somos, percorrendo [agora mais de perto] os caminhos que habitualmente faço à distância com todos os voluntários que generosamente dizem que sim à proposta dos Leigos para o Desenvolvimento.

Regressar à fonte que vive em cada uma das comunidades onde vivemos e estamos, fazendo parte da sua dinâmica, dos seus dias.

A fonte que vive em todas as histórias que ganham proximidade, nas suas dificuldades, nos seus desejos, no reconhecimento das suas competências e talentos, a partir de um olhar que vê perto, mas ajuda a ver mais longe. Um olhar que ajuda a abrir horizontes que antes pareciam muito distantes e que devagarinho começam a ser percorridos e concretizados pelas comunidades, verdadeiros protagonistas desta história que escrevemos há 35 anos.

Por estes dias agradeço de forma particular este privilégio de ser acolhida e de me deixar acolher nesta ilha onde me fortaleço na certeza de que esta missão se constrói com todos e todos os dias.

Dias que passam num tempo que corre muito e onde tanta vida vai acontecendo. Nestes dias, o caminho faz-se com a Direção do CREF* que procura definir atividades que garantam que o Centro é capaz de responder às necessidades da comunidade. Faz-se através do Grupo Comunitário de Porto Alegre que após terminar as obras que permitiram que a água potável chegasse a Porto Alegre, prepara a implementação de uma marca que promova e valorize o território, criando oportunidades [ainda a revelar-se] para a comunidade. Faz-se também com o Grupo Comunitário da Boa Morte que procura encontrar soluções para a comunidade continuar a dar resposta à recolha de resíduos no bairro, ao mesmo tempo que se desenha Roteiro Cultural que promova e valorize o bairro. Faz-se ainda com tantos outros em caminhos que se redescobrem e renovam.

Neste regresso à fonte saboreio estes passos que por aqui dou. Que por aqui damos. Guardo estes dias a transbordar de vida, de pessoas e histórias de resiliência e força que me inspiram e me ajudam a redescobrir o sentido do somos e fazemos, certa de que quando os voltar a dar à distância continuarei a fazer estes caminhos e os tantos que, entretanto, ainda vamos descobrir, sempre lado a lado.

Elisabete Oliveira

Gestora de Projetos das Missões de São Tomé e Príncipe

 

*Centro de Recursos Educativos e Formativos em Porto Alegre