Terras Vivas de Missão

Tendo a certeza que é desses gestos de amor (…) que nasce a mudança em cada um de nós.

Os Leigos partem para apoiar e promover um projeto muito concreto, aquele que é confiado a cada voluntário, trabalhando para fazer e concretizar muitas vezes objetivos e metas – colocando a “render os seus talentos profissionais e humanos na promoção integral da pessoa, pela vontade de servir, com tudo o que são e têm”1.

E é desta motivação em servir com o que somos, que procuro ser e viver missão. Que através dos encontros e desses pequenos atos vividos em comum, o percurso (recíproco) de crescimento e amadurecimento dos frutos criados em mim e naqueles com quem vivo, seja sempre mais “pelo ser e o estar, do que pelo fazer”2.

Momentos crus de empatia, de relação, imagens que memorizo sentindo-me sempre feliz e grata. Tantas e diferentes situações, que guardo com o rosto de pessoas concretas: a família da Gica no quintal a fazerem juntos as suas tarefas de casa e acolhendo quem chega; a grupeta do Tchibinho, Odigil, Diagonel a passear só por terem vindo do mato, e acabando por ficar cadinho a conversar; a amabilidade da Nha Adelinda dando sempre do que tem em sua casa; as meninas3 a levar à frente a sua missão, desenhando e aprendendo as “coisas da roça”, ficando a contemplar os barcos a sair para a pesca despedindo-se para um amanhã voltar, sorrindo e dando-se nas mais peculiares e diferentes conversas do que partilham.

Há pessoas que me cativam, que me interpelam o coração de uma forma que nem sei explicar. São diferentes, são mais. Considero-as especiais.

Conto-vos um pouco sobre um jovem aqui de Porto Alegre, ele é um dos monitores do CREF4, e um dos amigos que por aqui encontrei. Um rapaz inteligente, com humor e ironia, curioso e com raciocínio de quem procura saber e conhecer mais. Tímido mas de gargalhada fácil. Extremamente comprometido e responsável. Um testemunho de simplicidade e humildade, que me faz ser agradecida por esta amizade. Partilhamos não só do nosso projeto – pelo trabalho que realizamos juntos, pelo tempo que lhe dedica e do quanto está envolvido – mas pelo que confiamos do dia a dia. Confiamos o que somos, o que pensamos e sentimos, o que fomos e vamos vivendo, seja individualmente ou juntos. Confiamos até o abraço.

São estas relações que me fazem valorizar e reconhecer, a gigantesca importância e responsabilidade que temos na vida uns dos outros. E não é fácil ser fiel ao facto de cada um ser lugar sagrado, ser terra viva de missão, para ser cuidado e amado. Mas tenho em mim o desejo de que este olhar se torne natural, e permaneça onde e com quem esteja.

Aqui vou afirmando em mim, que o foco são as pessoas a quem nos entregamos, a quem amamos neste tempo. Tendo a certeza que é desses gestos de amor – conversas de verdadeira partilha, sorrisos genuínos, encontro com fragilidades e dons, momentos de confiança e de outro olhar sobre a esperança – que nasce a mudança em cada um de nós.

 

Maria Lagos

Porto Alegre, São Tomé e Príncipe,  2019-2020

 

1 VEM – Vida em Missão
2 Idem
3 Manas de Comunidade LD
4 Centro de Recursos Educativos e Formativos – Projeto na Missão LD em Porto Alegre, São Tomé e Príncipe