Há uns dias, no meio de uma reunião de trabalho, perguntaram-me o que me motivou a vir em missão com os LD. Uma pergunta inesperada, dado o contexto, à qual procurei responder com verdade e rapidez, mesmo sabendo que, muitas vezes, estas duas palavras se atropelam. Naquele momento, certamente no rescaldo das notícias de segunda-feira, dia 21 de Abril, aquilo que me veio à cabeça de imediato foi a necessidade e a vontade de chegar a “todos, todos, todos”, de me dispor a servir “todos, todos, todos” e, algo que não revelei naquele momento, poder responder a esta necessidade, a esta vontade, enfrentando medos, sendo corajoso, andando para a frente.
No fundo, fazer a experiência daquilo a que o nosso querido e, atrevo-me a predizer, santo Papa Francisco exortou todos os jovens e toda a Igreja a fazer, no seu discurso inaugural das JMJ Lisboa 2023. Deste discurso, que procurei reler, retive duas mensagens: por um lado, a de que “na Igreja, há lugar para todos” e, por outro, “não tenham medo, tenham coragem, vão em frente, sabendo que estamos amparados pelo amor de Deus”.
Ora, reconhecendo que, com a primeira frase, o Papa Francisco quis, a meu ver, afirmar que a Igreja deve ter as portas abertas a todos aqueles que a procurem, penso que também é possível ampliarmo-la para incluir a imperiosidade de cada católico procurar o seu próximo e servi-lo, seja ele quem for. Sendo missionários, claro, desenvolvemos algum trabalho pastoral nas comunidades que servimos, mas a nossa ação foca o desenvolvimento de toda a comunidade, incluindo “todos, todos, todos” – católicos, protestantes, são-tomenses forros, são-tomenses angolares, são-tomenses de origem cabo-verdiana, pescadores, palaiês, adultos, crianças, idosos. Afinal, parafraseando o documento que orienta o nosso modo de vida – a VEM –, movemo-nos pelo desenvolvimento integral das pessoas e das comunidades onde missionamos. Tudo isto enriquece o nosso trabalho. Diferentes pessoas, diferentes experiências, mais ricas as soluções e o caminho para o desenvolvimento individual e de toda a comunidade.
A par disto, a missão LD, que (inacreditavelmente) conta já com 7 meses, tem sido uma experiência de confiança em Deus, de confiança que permite enfrentar medos. Uma experiência de acalmar receios, de equilibrar planeamento e abraçar o que não o foi, de conhecimento próprio, de confiar na Providência, de atribuir a cada dia o seu desafio, a sua preocupação, sem precisar de me deter a pensar em tudo simultaneamente. Lembro-me de que, ao longo da formação, uma dúvida constante foi a seguinte: “terei capacidade de levar a bom porto um projeto LD? Terei capacidade para isso, dada a minha formação e experiência, que nada têm a ver com desenvolvimento e com a realidade que vou encontrar?” Pois bem, a quem tiver a mesma dúvida, afirmo que é possível. Basta confiar que “estamos amparados pelo amor de Deus”, que nos vai capacitando.
Concluindo, penso – sinto – que este testemunho não ficaria completo sem uma referência à comunidade LD, que me acompanha e me complementa naquilo que me falta (e vice-versa) – a Bia e a Inês – e à minha família e aos meus amigos, que me acompanham a partir de Portugal. Tenho descoberto que a confiança em Deus é, em parte, alimentada pela possibilidade de confiar em quem Ele escolheu para me acompanhar nesta missão e na minha vida. Obrigado a todos!
Jornalista: Gonçalo Mendes, missionário dos Leigos para o Desenvolvimento na Missão em Praia Melão, São Tomé e Príncipe.