A (prima) Tina da Boa Morte

“É aqui que todos conhecem o seu sorriso e a sua mão estendida. É aqui que todos conhecem o seu acolhimento (que só poderá ser dom de Deus).”

Maria Cristina Lima Gomes Viana Carvalho Cravid, nascida a 10 de Abril de 1972, corrobora com a teoria de que, em São Tomé e Príncipe, “Somos Todos Primos”.

A verdade é que Cristina cresceu na Boa Morte. Foi no bairro que criou os seus quatro filhos: Hilquias, Débora, Maria e Noé. É aqui que trabalha diariamente e onde assiste ao seu culto. É aqui que todos conhecem o seu sorriso e a sua mão estendida. É aqui que todos conhecem o seu acolhimento (que só poderá ser dom de Deus).

Só por uma vez subi e desci a Boa Morte com a Cristina (ou prima Tina, como a maioria dos “primos” a tratam), todas as outras vezes que tenho o prazer de estar com ela encontramo-nos ou em sua casa ou nas reuniões do Grupo Comunitário da Boa Morte. Foi com a Tina que a graça do “somos todos primos” foi para além da piada associada à pequena/grande ilha de São Tomé.

Foi numa manhã de domingo que, sem pressas, subimos (e descemos) esta estrada que nos é tão familiar. Era bem cedo, e talvez por isso, mas também por ser domingo, poucas eram as pessoas que estavam junto à estrada, ao seu negócio ou apenas à janela. Fiquei boquiaberta (e com um sorriso de orelha a orelha), ao ver a forma como a cada dez metros andados, três ou quatro pessoas eram cumprimentadas, mesmo estando dentro de um quintal fechado ou em janelas aparentemente vazias. Como isto será certamente recorrente. Todos estes cumprimentos, são dirigidos a uma “prima” em concreto, quase sempre envolvem uma pergunta em relação a um outro “primo” querido. Todos estes cumprimentos estão carregados de um carinho gigante e são retribuídos como de se família se tratasse. Nesse mesmo dia, já de regresso a sua casa, ainda houve tempo para uma conversa junto ao tanque, para comer uns frutos e tirar uma bela selfie, para eternizar aquela manhã bem passada. Por quantas vezes dou por mim a sorrir com a tranquilidade com que o tempo é encarado.

Este cuidado cai também sobre nós (recorrentemente). Não há vez que passemos em casa da prima Tina e em que ela não ofereça algo e nos pergunte pelos nossos pais, pela Lala, pelas raparigas do Sul… A sensação que fica, é que pergunta por aqueles que nos cuidam na sua ausência. Pergunta por aqueles que são nossa família, e por isso sua.

Afinal, somos “primos”!

Mariana Costa

São Tomé cidade, São Tomé e Príncipe, 2019-2021