Uma exposição para ver novas todas as coisas

Exposição sobre Conversão e canonização de santo Inácio de Loyola estreia hoje na galeria de exposições temporárias do Museu de São Roque, em Lisboa. Evento acontece no Ano Inaciano, em que se celebram os 500 anos da conversão de Inácio.

Exposição sobre Conversão e canonização de santo Inácio de Loyola estreia hoje na galeria de exposições temporárias do Museu de São Roque, em Lisboa. Evento acontece no Ano Inaciano, em que se celebram os 500 anos da conversão de Inácio.

Ver novas todas as coisas. Da conversão à canonização de Inácio de Loyola.” É este o nome da exposição que estreia hoje, quarta-feira, na galeria de exposições temporárias do Museu de São Roque, em Lisboa, e que assinala dois momentos importantes da vida do fundador dos jesuítas: o V Centenário da sua Conversão em 1521 e o IV Centenário da sua Canonização, ocorrida a 12 de março de 1622. Indo buscar o nome ao mote do Ano Inaciano que a Companhia de Jesus celebra agora, em todo o mundo, a propósito dos 500 anos da conversão do seu fundador, é isso que esta exposição promete ser: uma nova forma de olhar para Inácio. Para quem já domina o universo inaciano, e está familiarizado com a vida e a conversão espiritual de Inácio, esta pode ser uma oportunidade para conhecer o outro lado do peregrino, presente na sua iconografia e nas peças que retratam o contexto histórico e eclesial em que viveu. Para quem chegou a Inácio através da História e da cultura esta é uma oportunidade de conhecer também o homem espiritual e a forma como se desenrolou a sua conversão a Deus.

Para os dois comissários desta exposição, o P. António Júlio Trigueiros e Maria João Pereira Coutinho, a exposição que hoje abre portas é o resultado de um processo e um caminho com muitos meses de trabalho, e que contou com a colaboração de inúmeras entidades, desde museus, bibliotecas, e comunidades religiosas, e muitas pessoas, entre jesuítas, historiadores e particulares amigos da Companhia. “Todos aderiram muito bem à ideia. E apesar de termos construído um guião, no início, este foi um processo que se foi construindo à medida que íamos sabendo mais e falando com mais pessoas”, explica Maria João Pereira Coutinho, recordando alguns momentos importantes deste processo. António Júlio Trigueiros, reitor da Igreja de São Roque e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, sublinha também que “esta exposição foi pensada para diversas faixas etárias, com peças mais apelativas para as camadas jovens ou conteúdos interativos e outras mais atrativas para um público mais conhecedor do universo inaciano”. Além disso, nesta exposição chegam a público algumas peças que nunca foram expostas, como um redescoberto quadro de Santo Inácio da autoria do pintor jesuíta Domingos da Cunha, o Cabrinha ou dois preciosos relicários de Santo Inácio da comunidade dos Jesuítas do Porto.

O convite para este olhar novo sobre a vida de Inácio dá-se logo, de forma surpreendente, ao entrar na Igreja de São Roque, onde um elefante com mais de três metros de altura interpela os visitantes, indicando com a sua tromba o lado esquerdo do altar, local de entrada para a exposição. O elefante era um símbolo da universalidade dos recém canonizados Inácio e Xavier, representando as quatro partes do mundo e unindo as esferas régia e religiosa, e foi veículo para alegoricamente chamar a atenção sobre as áreas geográficas que a Companhia de Jesus havia alcançado entre os séculos XVI e XVII. Este exemplar de autor desconhecido, que serviu para ilustrar um cortejo nas comemorações da cidade nos anos 40, sai agora do Museu de Lisboa para saudar os visitantes que entram na Igreja de São Roque.

A exposição está dividida em quatro núcleos temáticos, que abordam os temas da Conversão, Construção de uma iconografia, Canonização e Celebração, como explicam os comissários do que aqui se pode ver, umas horas antes de a exposição abrir portas. No núcleo da conversão, destacam-se algumas peças da época de Inácio cavaleiro, como um elmo e um peito de couraça, e uma maquete do Santo Sepulcro de Jerusalém, onde o peregrino rumou no início da sua conversão. Nesta primeira sala, a novidade vai para os dois manuscritos autógrafos de Santo Inácio, originais que escreveu a Francisco Xavier autorizando-o a pregar em nome de Cristo e a interpretar a palavra de Deus, (1545 e 1549), bem como a primeira edição dos Exercícios Espirituais (1553) e exemplos pictóricos que remetem para a sua devoção mariana. A destacar ainda neste núcleo dedicado à conversão, um quadro de Nossa Senhora a ensinar o menino Jesus a ler, atualmente exposto no Noviciado da Companhia de Jesus.

No segundo núcleo, construção de uma iconografia, apresenta-se uma sucessão de retratos de Inácio de Loyola e de Francisco Xavier – alguns pertença das várias comunidades jesuítas do país -, de diferentes tipologias plásticas, entre os quais se destaca a grande tela redescoberta de Inácio dormindo sob as arcadas de Veneza, da autoria do pintor jesuíta, o irmão Domingos da Cunha, o Cabrinha. O núcleo encerra com um ponto multimédia onde se podem explorar sete percursos gráficos de ciclos da vida de Santo Inácio de diferentes proveniências.

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Inácio de Loyola em Veneza dormindo sob as arcadas. Quadro de Domingos da Cunha, o Cabrinha

O terceiro núcleo é dedicado à Canonização de Santo Inácio, cujos 400 anos se celebraram no passado dia 12 de março. Aqui apresenta-se em escultura, pintura, gravura e objetos devocionais aspetos diversificados do processo de 1622, que canonizou o fundador da Companhia de Jesus, juntamente com Francisco Xavier, Filipe de Nery, Teresa de Ávila e Isidro o Lavrador. Podemos ainda encontrar neste núcleo um quadro inédito de Santo Inácio com São Filipe Néry, cedido por um particular,  bem como uma reprodução da bula de Urbano VIII de canonização de Inácio.  A destacar uma medalha de Santo Inácio e um relicário com partículas de Santo Inácio e de outros santos da Companhia de Jesus.

O último núcleo da exposição refere-se à Celebração da Canonização, e conta com exemplares representativos das artes decorativas da Companhia de Jesus, tais com relicários, porcelanas, ourivesaria, alfaias litúrgicas, e objetos alusivos à música executada nos cerimoniais festivos.

A acompanhar estes meses da exposição, haverá também um ciclo de conferências em torno da figura e conversão de Santo Inácio, num total de sete conversas que começarão a decorrer já na próxima semana, em modo presencial e online. O primeiro colóquio, dedicado ao tema da conversão, caberá ao P. António Júlio Trigueiros.

A exposição “Ver novas todas as coisas” estará patente na Igreja de São Roque até dia 19 de junho. A coordenação geral é de Maria Margarida Montenegro, a coordenação executiva de Teresa de Freitas Morna e coordenação científica do P. António Júlio Trigueiros e Maria João Pereira Coutinho.

 

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Relicário de Santo Inácio

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.