A vulnerabilidade é uma parte essencial da condição humana. Corresponde à essência – à natureza – do ser humano, que é limitado, frágil e, por isso, pode ser ferido: assim, qualquer ser humano habita o paradigma da vulnerabilidade. Porém, existem pessoas que são particularmente vulneráveis em virtude de fatores intrínsecos (e.g. idade, doença, deficiência) ou extrínsecos (e.g. privação de liberdade, imigração).
Apesar de ser essencial, a vulnerabilidade é, muitas vezes, vista e retratada como algo negativo, como se fosse algo contra o qual devemos lutar e, não sendo possível eliminá-la, algo que devemos esconder. Algo que é difícil amar e que, por vezes, nos leva a duvidar que somos (incondicionalmente) amados.
Hoje, o dia presta-se a focar o nosso olhar sobre a violência sexual cometida contra um grupo particularmente vulnerável: as crianças e jovens. Neste dia, assinala-se o Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual. Este dia começou a ser assinalado na sequência da campanha “One Five” lançada pelo Conselho da Europa. Esta campanha tinha como objetivo alertar a sociedade para o facto de que uma em cada cinco crianças ser vítima de violência sexual na infância – dado altamente preocupante e, infelizmente, atual.
Além de várias formas de violência sexual contra as crianças e jovens, como o crime de abuso sexual, a criação ou detenção de material sexual de exploração infantil (aquilo que a lie refere como “pornorgrafia de menores”), solicitação sexual ou aliciamento sexual, somam-se, agora, formas de violência sexual através de meios digitais que também nos devem preocupar.
Além de várias formas de violência sexual contra as crianças e jovens, como o crime de abuso sexual, a criação ou detenção de material sexual de exploração infantil (aquilo que a lei refere como “pornografia de menores”), solicitação sexual ou aliciamento sexual, somam-se, agora, formas de violência sexual através de meios digitais que também nos devem preocupar. Assim, neste ano, o Conselho da Europa definiu que o tema trabalhado este ano será: “Tecnologias emergentes: ameaças e oportunidades para a proteção das crianças contra a exploração sexual e o abuso sexual”. Através destes meios digitais, podemos pensar em formas de violência sexual como a partilha de fotografias íntimas ou que sexualizem as crianças, a exposição a conteúdos sexualizados ou o aliciamento sexual online (online grooming).
Importa, aqui, relacionar o tema da particular vulnerabilidade das crianças e jovens com as dimensões da violência sexual que vão ganhando destaque através do digital. De facto, o fenómeno do aliciamento online é inquietante pela maneira como explora a vulnerabilidade da criança.
Tenta-se ensinar às crianças e jovens que não se deve falar com estranhos e, muito menos, se deve confiar neles. Esta abordagem é problemática por colocar o foco em pessoas que estão fora do círculo de ligações sociais da criança, quando sabemos que a maioria das situações de violência sexual contra crianças é cometida por pessoas que estão dentro desse círculo. É, também, problemática porque parece pouco eficaz para combater a violência sexual cometida contra crianças e jovens online. De facto, uma pessoa que participe num jogo online ou que troque numerosas mensagens com uma criança deixa de ser um estranho para essa criança, mesmo que a criança nunca a tenha visto.
Assim, se essa pessoa quiser marcar um encontro com a criança, a criança poderá aceder. Se essa pessoa pedir à criança informações muito pessoais ou íntimas, a criança poderá fornecê-las. Se essa pessoa pedir fotografias íntimas ou sexualizadas à criança, a criança poderá enviar. A vulnerabilidade da criança, na medida em que não consegue ter uma perceção tão grande do perigo ou tanta capacidade de pesar as possíveis consequências de uma sua ação, de se defender ou pedir ajuda, pede um cuidado acrescido de todos.
A vulnerabilidade da criança, na medida em que não consegue ter uma perceção tão grande do perigo ou tanta capacidade de pesar as possíveis consequências de uma sua ação, de se defender ou pedir ajuda, pede um cuidado acrescido de todos.
No sentido de assumir a sua responsabilidade e compromisso, no que toca à prevenção e combate à violência na infância, a Província Portuguesa da Companhia de Jesus lançou, há exatamente três anos, o Serviço de Escuta – inserido no Serviço de Proteção e Cuidado – criado para dar resposta às vítimas de violência sexual. Hoje, o Serviço de Escuta é um canal que serve, também, para receber suspeitas e denúncias de qualquer forma de violência.
Afinal, “quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor, 12:10).
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.