Um dia, Jesus disse: “… os pobres sempre os tendes convosco…” (Jo 12,8). É uma verdade e uma evidência, mas é, ao mesmo tempo, uma realidade que nos deve inquietar e interpelar.
Jesus não diz que não há nada a fazer e muito menos que as coisas estão bem assim. Pelo contrário, este Jesus que nos diz que sempre teremos pobres é aquele que se faz pobre. Nasce pobre, vive pobre e morre pobre. Vive na simplicidade e sempre com uma atenção especial aos mais pobres. Por isso nos diz: “Bem-aventurados os pobres em espirito”; bem-aventurados os que são humildes, os que não se ensoberbecem, os que respeitam e cuidam dos outros, os que não procuram vantagens egoisticamente, mas que se preocupam com o bem comum.
Este Jesus é também aquele que se compadece com os pobres e que nos diz que o Reino de Deus está reservado para aqueles que alimentaram os famintos, deram de beber aos que tinham sede, acolheram os que não tinham casa, vestiram os que estavam nus, visitaram os que estavam doentes e visitaram os que estavam presos (cf. Mt 25, 31-46).
“Os pobres sempre os tendes convosco…”, soa como apelo a uma atenção cuidada e constante. O Dia Mundial dos Pobres, que se assinala no domingo, é um dia para estarmos em sintonia com todos os pobres e todas as formas de pobreza. É um dia para ter presente a necessidade diária de cuidar dos mais abandonados e desprezados deste mundo. É um dia para dizer a todos os pobres: não estão esquecidos!
Em 2017, dizia-nos o Papa Francisco, na sua primeira mensagem para este dia, que não amassemos com palavras, mas com obras. Nesta mensagem o Papa fazia também um apelo ao encontro com os pobres e a dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida. Pedia ainda às comunidades cristãs para se empenharem na criação de momentos de encontro e amizade, de solidariedade e ajuda concreta.
Um ano depois a mensagem do Papa teve como mote as palavras do salmista: «Este pobre clama e o Senhor o escuta» (Sal 34, 7). O Senhor escuta o pobre, o pobre não está abandonado. O Senhor não só escuta, mas também responde e liberta. E todos nós somos instrumentos de Deus nesta mesma lógica de escuta e resposta libertadora.
No último ano a mensagem do Papa Francisco teve como título: “A esperança dos pobres jamais se frustrará”. Francisco, nesta mensagem, denuncia um mundo que, de diversas formas, reduz o pobre à condição de escravo, marginalizando-o.
Por fim, a mensagem deste ano, tomada do livro de Ben-Sirá, apela a “estender a mão ao pobre”. Como podemos ajudar? Como podemos estender a mão? O cristão não pode delegar noutros a resposta a estas perguntas.
Com frequência a atitude diante da pobreza é a da impotência ou da indiferença. A impotência paralisa-nos, fazendo sair, facilmente, da nossa boca: o Estado que resolva, ou; há tantas instituições, elas que resolvam. Já a indiferença despreza, ignora o outro. Pelo contrário, o estender a mão, o dar algum tempo de atenção, o interessar-se pelas histórias de sofrimento oferecem uma outra lógica. Aquele que estende a mão descobre que este gesto traz um sentido enorme. Aquele que dá recebe muito mais.
Somos todos convidados a estender a mão, de um modo especial neste tempo de pandemia, onde têm surgido novos pobres, com o aumento do desemprego e da solidão, sobretudo dos mais idosos e doentes.
Os pobres estão e sempre estarão connosco (cf. Jo 12, 8), com refere o Papa Francisco, para nos ajudarem a acolher a companhia de Cristo na existência do dia a dia.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.