Moçambique: uma tragédia ainda por estimar

Missão dos jesuítas na Beira foi afetada mas todos se encontram bem. Os quatro jesuítas portugueses no país (noutras regiões) também estão em segurança. Começa agora o longo e profundo trabalho de reconstrução. FGS já está a angariar verbas

Missão dos jesuítas na Beira foi afetada mas todos se encontram bem. Os quatro jesuítas portugueses no país (noutras regiões) também estão em segurança. Começa agora o longo e profundo trabalho de reconstrução. FGS já está a angariar verbas

O rasto de destruição deixado pelo ciclone Idai na cidade da Beira também atingiu a missão da Companhia de Jesus na região. Mas apesar dos estragos, cuja dimensão ainda não é possível de estimar, os jesuítas que vivem na Beira encontram-se bem, bem como os quatro jesuítas portugueses que estão em missão em Moçambique, noutros locais.

O apoio à recuperação de uma região completamente devastada pelo vento e pelas chuvas começa agora com o diagnóstico da situação no local e a angariação de fundos para apoiar o imenso e profundo trabalho de reconstrução que será necessário. Parte desse trabalho está a ser coordenado pela Fundação Gonçalo da Silveira (FGS), organização da Companhia que está a trabalhar em parceria com  os jesuítas do Zimbabué e Moçambique, a Rede Xavier (rede internacional de ONG jesuítas) e a FEC.

A pior catástrofe a atingir Moçambique nos últimos anos deixou a cidade incontactável, sem energia nem comunicações, e sem acessos por via terrestre, o que tem dificultado o socorro às populações. As primeiras indicações dão conta de milhares de pessoas afectadas, além das duas centenas de mortos já confirmadas pelas entidades locais. A grande maioria das infra-estruturas foi destruída total ou parcialmente e há milhares de pessoas a necessitar de ajuda urgente. As autoridades temem ainda que a situação se venha a agravar, tendo em conta a subida do nível das águas.

Os edifícios da comunidade jesuíta na Beira, a casa do antigo noviciado (onde o P. Abel Bandeira, sj foi mestre de noviços), foram atingidos, bem como os da paróquia de Matacuane, mas não há vítimas a lamentar. Atualmente, os jesuítas portugueses em Moçambique são três: o P. Paulo Teia, sj, que está na Paróquia da Imaculada Conceição, em Satemwa; o P. David Ferreira da Silva, sj, que está em Lifidzi (Angónia) e o P. Manuel Ferreira, sj que está em Maputo. O P. Virgílio Costa, que está colocado no noviciado na Zâmbia, encontrava-se, contudo, de passagem pela Beira, tendo sido apanhado pela intempérie. Mas as informações recolhidas dão conta de que estará bem e em segurança, bem como os noviços que viajavam com ele.

Fundação dos jesuítas angaria fundos para apoiar reconstrução da Beira

O retrato da situação ainda é muito difícil de traçar, admite a FGS, reconhecendo contudo, que a destruição é tão profunda que o trabalho de reconstrução demorará vários anos. “Neste momento, na Beira todos os nossos parceiros e colegas encontram-se incontactáveis. Temos estado em comunicação com os nossos parceiros na Província de Tete e no Zimbabué, que são quem está mais próximo da Beira, e também eles têm tentado entrar em Moçambique via terrestre, mas sem sucesso”, explica Teresa Paiva Couceiro, presidente da Fundação Gonçalo da Silveira (FGS) que tem desenvolvido um trabalho contínuo na na região desse 2009. A ONGD que pertence à Companhia de Jesus ainda está a acertar os pormenores da sua intervenção, de modo a que seja o mais integrada possível com as entidades no terreno, mas adianta que irá atuar em parceria com a Rede Xavier  e a Silveira House –  Jesuit Social Justice & Development Centre (organização que pertence à Companhia de Jesus no Zimbabué e é parceiros locais da FGS).

“Neste momento na Beira todos os nossos parceiros e colegas encontram-se incontactáveis. Temos estado em comunicação com os nossos parceiros na Província de Tete e no Zimbabué, que são quem está mais próximo da Beira, e também eles têm tentado entrar em Moçambique via terrestre, mas sem sucesso”

Teresa Paiva Couceiro, FGS

Será neste enquadramento que na próxima semana a FGS enviará para a Beira (via aérea) uma colaborada da Silveira House, para que possa fazer uma avaliação in loco da situação e dar mais informações de modo a direcionar, do melhor modo possível,  as ajudas recolhidas, concentradas na Paróquia de Matacuane. “Só depois deste primeiro diagnóstico podemos dar conta de mais detalhes, sobre como, quando e onde serão aplicados os fundos angariados”, acrescenta a FGS, adiantando, contudo, que a ação será sempre no sentido da reconstrução de casas e escolas e de recuperação de vida das pessoas.

Até ao momento, a FGS tinha no terreno, em parceria com outras organizações, um projeto de desenvolvimento rural (Semear e Cuidar: impulso ao desenvolvimento com as comunidades de Nhangau) cujo objetivo era a promoção do desenvolvimento económico e social das comunidades de Nhangau na Beira. Este projeto envolvia quatro comunidades e aproximadamente  cinco mil pessoas.

Cá em Portugal, a fundação dos jesuítas está também em contacto com outras organizações (como a Fundação Fé e Cooperação), para desenvolver uma resposta concertada de médio e longo prazo.

Algumas imagens da destruição enviadas por pessoas que estão no terreno.

 

 

Fotografia principal: Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (Moçambique)

Fotografias secundárias enviadas por pessoas que estão no terreno.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.