Comunidade S. Pedro Claver celebra 25 anos de missão apostólica e social na Caparica / Pragal

A Comunidade jesuíta vive nos bairros desfavorecidos da Caparica/Pragal desde 1999, onde desenvolve trabalho pastoral e social junto das populações mais frágeis. Mas a presença da Companhia na Margem Sul começou muito antes, em 1970.

A Comunidade jesuíta vive nos bairros desfavorecidos da Caparica/Pragal desde 1999, onde desenvolve trabalho pastoral e social junto das populações mais frágeis. Mas a presença da Companhia na Margem Sul começou muito antes, em 1970.

Celebram-se hoje 25 anos da criação e integração da primeira comunidade jesuíta na Caparica / Pragal, Almada, à qual se deu o nome de Comunidade São Pedro Claver. Assinalamos este dia com a memória cronológica desta história, ilustrada com imagens e um vídeo testemunhal de um dos jesuítas que esteve na sua origem, o P. Abel Bandeira, sj.

A história dos jesuítas na margem sul fica incompleta se não for enquadrada com os primeiros passos, dados em 1970, pelo P. Noberto Martins, sj, com a assunção da capelania do Monumento a Cristo Rei, permitindo assim enraizar a missão apostólica e social da Companhia nesta geografia.

 

A história da origem da paróquia e do Centro social de Cristo Rei e os jesuítas que tiveram na sua génese:

O P. Norberto Martins, sj, assumiu, em 1970, a capelania do Monumento a Cristo Rei, em Almada. Dedicou-se inteiramente ao serviço da capelania e o movimento religioso cresceu, graças ao seu zelo apostólico, atingindo intensa atividade litúrgica. Habitava nas dependências do Monumento. A 21 de maio de 1972 foi criado o Vicariato de Cristo Rei, elevado a paróquia em 1973, sendo nomeado pároco o P. Norberto. A sede do Vicariato passou a ser a Ermida de Nossa Senhora Mãe de Deus e dos Homens, do Pragal, que sofreu uma remodelação, onde também se instalou um anexo com o indispensável para ali se habitar.

O então bispo de Setúbal, D. Manuel da Silva Martins, criou a 21 de novembro de 1976 a Paróquia de Cristo Rei de Almada, tendo nomeado como primeiro pároco o P. Norberto Martins, sj que deixou a capelania do Monumento e dedicou-se exclusivamente ao cuidado desta paróquia. A área atribuída à paróquia era bastante vasta: uma parte da freguesia civil de Almada, a zona do Pragal e uma parte importante da freguesia civil do Monte da Caparica (do outro lado da auto estrada), onde começavam a surgir novos bairros (bairro branco em 1980, bairro amarelo, bairro cor de rosa). A pequena igreja do Pragal encontrava-se descentrada do conjunto da paróquia, mas contava com o Centro de Culto das Torcatas (inaugurado a 4 de maio de 1969), e um espaço na quinta de S. Francisco de Borja onde, desde 1973, se celebrava missa semanal na tarde de sábado. Esta celebração aos sábados deu início a uma comunidade cristã onde se dava catequese às crianças, se praticava a reflexão bíblica, entre outras coisas, uma situação que se prolongou até 1985.

Em 1983, devido a problemas de saúde o P. Norberto deixou o Pragal e em sua substituição foi nomeado pároco o P. José Afonso Marques Pinto, sj. Continuando as diligências já iniciadas pelo P. Norberto, o P. José Afonso conseguiu que o Fundo de Fomento Habitacional dispensasse à paróquia um armazém (na Rua do Lago, n. 8) que depois de reparado foi inaugurado como local de culto, no dia 12 de outubro de 1985.

Em 1987 o Centro Social Paroquial de Cristo Rei, na Rua da Bela Vista, situada no Monte da Caparica, iniciou as suas atividades que integravam um Jardim de Infância e um ATL.

Em 1987 o Centro Social Paroquial de Cristo Rei, na Rua da Bela Vista, situada no Monte da Caparica, iniciou as suas atividades que integravam um Jardim de Infância e um A.T.L.

O solar da quinta de S. Francisco de Borja foi recuperado da sua degradação pelo Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado (IGAPHE), e, a 11 de novembro de 1989, foi entregue a chave da nova igreja, possibilitada pela recuperação da velha adega e da vacaria anexas ao solar da quinta. Foi também arranjado um pequeno edifício que serviu para erguer a sede dos escuteiros. A celebração da primeira missa na igreja foi no dia de Cristo Rei, 25 de novembro de 1989. O edifício recuperado foi cedido pelo IGAPHE à paróquia de Cristo Rei em regime de comodato, por um período de dez anos. Entretanto, na sequência de diligências feitas pelo P. Vicente, em janeiro de 1996, celebraram-se dois contratos promessa de compra e venda da quinta de S. Francisco de Borja, entre a paróquia de Cristo Rei e o IGAPHE. Segundo o que escreve o P. Vicente na sua autobiografia, a escritura da quinta (área construída e o terreno correspondente) foi assinada no dia 1 de agosto de 2006. Presentemente, trabalha-se na realização do projeto da nova igreja de S. Francisco Xavier da Caparica, já aprovado pela Câmara Municipal da Almada.

Em 1992 o P. José Afonso Marques Pinto, sj foi para Vila Nova de Santo André, após nomeação como pároco de Melides e de Santo André, onde esteve até 1997, ano em que voltou para Moçambique. O P. José Vicente Martins, sj, foi nomeado pároco da Paróquia de Cristo Rei no dia 22 de novembro de 1992, tendo tomado posse no dia 10 de janeiro do ano seguinte, ficando a residir no Largo da Ermida, no anexo da igreja. Após um estudo do campo de trabalho, o P. Vicente constatou que a paróquia, por não ter uma igreja suficientemente ampla, possuía três lugares de culto: a igreja do Pragal (a sede) onde apenas celebrava missa aos domingos; a capela das Torcatas, onde celebrava missa todos os dias; e a igreja da quinta de S. Francisco de Borja. O P. Vicente já sonhava com a aquisição desta quinta pois oferecia um espaço com boas características para um Centro Social e um local de culto para a população daquela zona, contudo não lhe parecia ser o lugar ideal para edificar a igreja paroquial, uma vez que a multiplicação de lugares de culto exigia um aumento de trabalho, inúmeras deslocações e, acima de tudo, não favorecia a construção de uma comunidade unida.

Após um estudo do campo de trabalho, o P. Vicente constatou que a paróquia, por não ter uma igreja suficientemente ampla, possuía três lugares de culto: a igreja do Pragal (a sede) onde apenas celebrava missa aos domingos; a capela das Torcatas, onde celebrava missa todos os dias; e a igreja da quinta de S. Francisco de Borja.

O estudo que o P. Vicente fez da geografia humana levou-o a distinguir três estratos sociais na área da paróquia: o Pragal antigo e tradicional, constituído por uma população de classe média baixa, muito trabalhada por ideologias políticas reivindicativas e uma acentuado desconhecimento religioso, no entanto reconhecendo-o relativamente acomodado e pacificado; o Pragal novo e progressivo, constituído por uma população que considerava ser média alta; e o terceiro estrato, na zona mais ocidental da paróquia, confinando e entrando no Monte da Caparica, problemático, por ser constituído por pessoas retornadas (naturais de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné), desalojados de outras zonas degradadas e reconhecia-se também um número considerável de ciganos.

Nesta amálgama tão diferenciada de gente era fácil encontrar problemas de habitação, desintegração, marginalização, droga, prostituição, violência, entre outros. Por si só, esta parte, dizia o P. Vicente, justificaria uma ação específica. Apesar de tudo, existiam todos os movimentos paroquiais e todas as atividades básicas pastorais, como a catequese, grupos bíblicos ou grupos de animação litúrgica.

Nesta amálgama tão diferenciada de gente era fácil encontrar problemas de habitação, desintegração, marginalização, droga, prostituição, violência, etc. Por si só, esta parte, dizia o P. Vicente, justificaria uma ação específica. Apesar de tudo, existiam todos os movimentos paroquiais e todas as atividades básicas, como: a catequese, grupos bíblicos, grupos de animação litúrgica, etc.

O P. Vicente dedicou-se à paróquia com todo o entusiasmo, animando o que já existia e arquitetando novos projetos, fruto da sua criatividade e génio empreendedor. Dedicou especial atenção ao Centro Social e Paroquial, que na altura já tinha sala de computadores, centro de atendimento e ajuda a desempregados. Durante a renovação da Ermida, e dos anexos do Pragal, chegou a habitar um apartamento adaptado na casa da quinta de S. Francisco de Borja.

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Celebração em S. Francisco Xavier de Caparica

A história da comunidade Jesuíta S. Pedro Claver – 1999

A comunidade jesuíta de S. Pedro Claver teve início no dia 6 de novembro de 1999 com um padre e um escolástico. Nasceu como comunidade de inserção, num meio desfavorecido, dependente da residência de S. Francisco Xavier, em Lisboa. Estava inserida na paróquia de Cristo Rei do Pragal, cujo pároco, o P. José Vicente Martins, sj, contava com a sua ajuda.

A nova comunidade instalou-se num apartamento alugado na Rua de Alcaniça. Para além de colaborarem na pastoral da paróquia, o P. Abel Bandeira, sj era professor de religião no Ensino Oficial e o escolástico Miguel Almeida colaborava na pastoral do Secundário, no Colégio de S. João de Brito, interessando-se por levar grupos de alunos à zona desfavorecida da Capariga / Pragal. Foi desta forma que se foi concretizando o ideal jesuíta de abrir uma comunidade inserida num bairro socialmente desfavorecido.

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Primeiro apartamento da comunidade na Rua de Alcaniça

Em 2001, o escolástico Miguel Almeida deixou a comunidade para continuar os seus estudos e o Ir. Abílio Nunes, vindo de Moçambique, começou a fazer parte desta comunidade. Em 2003 passou a depender da Residência Beato Inácio de Azevedo, na Charneca da Caparica e no ano seguinte deixaram de habitar no apartamento da Rua de Alcaniça e estabeleceram a residência na Rua dos 3 Vales, tendo sido benzida no dia 14 de março de 2005.

A nova comunidade instalou-se num apartamento alugado na Rua de Alcaniça. Para além de colaborarem na pastoral da paróquia, o P. Abel Bandeira, sj era professor de religião no Ensino Oficial e o escolástico Miguel de Almeida colaborava na pastoral do Secundário, no Colégio de S. João de Brito. O Miguel interessava-se por levar grupos de alunos à zona desfavorecida do Pragal. Foi desta forma que se concretizou o ideal de alguns jesuítas jovens de abrir uma comunidade inserida num bairro socialmente desfavorecido.

Por decreto de 29 de Junho de 2006, D. Gilberto Canavarro, bispo de Setúbal, criou a paróquia de S. Francisco Xavier da Caparica. O primeiro pároco, o P. José Pires Nunes, era também Superior da Residência Beato Inácio de Azevedo, porém residia na casa S. Pedro Claver que recebeu nesse ano dois companheiros que colaboravam na paróquia, para além de exercerem outros ministérios sacerdotais: os padres Amadeu Pinto, sj e Paulo Teia, sj.

O P. José Vicente Martins, sj continuou como pároco da paróquia de Cristo Rei. Em 2005, terminadas as obras de fundo, na velha ermida do Pragal, foi inaugurado, no dia 18 de outubro, o novo templo, com uma missa solene, presidida por D. Gilberto Canavarro.

O espaço do novo Centro Juvenil da paróquia de S. Francisco Xavier foi inaugurado no dia 19 de março de 2010, tendo como primeiro diretor o P. Paulo Teia, sj.

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P. Paulo Teia sj, P. Pires Nunes, sj e Ir. Abílio, sj e D. Céu, chefe da secretaria do CSPCR

Em 2017 a Companhia de Jesus entregou à diocese a responsabilidade pastoral das paróquias de Vale Figueira e Charneca da Caparica, como já tinha feito, em 2015, com a paróquia de Sobreda. Assim, a presença da Companhia na diocese de Setúbal ficou concentrada na Caparica, na Residência S. Pedro Claver, que passou a contar com cinco padres. Esta decisão foi tomada em ordem a melhorar as condições e assim concretizar, mais claramente, o desejo de uma presença apostólica consistente, com um forte cunho social.

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Comunidade a celebrar o aniversário do P. Luís Ferreira do Amaral, pároco de S. Francisco Xavier da Caparica

No dia 3 de dezembro de 2018 foi criada a Associação Padre Amadeu Pinto, sj passando o Centro Juvenil a ser uma obra autónoma, deixando de pertencer à paróquia.

No catálogo da Província Portuguesa da Companhia de Jesus do ano de 2024 a Residência S. Pedro Claver conta com cinco padres e um escolástico. Trabalham na paróquia de S. Francisco Xavier, sendo pároco o P. Luís Ferreira do Amaral, no Centro Juvenil e Comunitário Padre Amadeu Pinto, sendo diretor geral o P. Lourenço Eiró, e no Centro Social e Paroquial do Cristo Rei que tem como presidente da direção o Engenheiro Manuel Fraga.

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P. Lourenço Eiró, José Maria Caldeira Ribeiro, P. Fernando Ribeiro, P. José Pires, P. Luís Ferreira do Amaral e P. Abel Bandeira.

Veja aqui o testemunho do P. Abel Bandeira que esteve na origem da constituição desta comunidade

 

Texto e recolha de informação: P. Francisco Correia, sj

Vídeo: P. Fernando Ribeiro, sj

Cedência de fotografias: Diogo Gaspar, sj

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.