O jornalista do JN, Ivo Neto, comenta os resultados da categoria Ponto de Encontro da nossa iniciativa “As marcas que 2019 deixou“.
O ambiente e o Planeta Terra foram o tema dominante de 2019. Nunca se debateu tanto a defesa da nossa casa como no ano que terminou. E a Igreja não podia ficar à margem desta discussão. Assim sendo, é natural a escolha do Sínodo da Amazónia como o “Ponto de Encontro”, mesmo quando havia a opção do anúncio de que as Jornadas Mundiais da Juventude, de 2022, se realizarão em Portugal.
Francisco não esconde o perfil reformista que assume desde o primeiro dia como Papa. Ainda recentemente o fez ao acabar com o segredo pontifício em casos de abuso sexual. A defesa do Planeta é uma causa que é cara ao Argentino. “A defesa da terra”, lê-se no documento, do Sínodo, “não tem outro objetivo a não ser a defesa da vida”. E quem mais sofre com os atentados ambientais do que os povos mais isolados que dependem da natureza para sobreviver? Os incêndios que este ano assolaram a região da Amazónia, grande parte motivados por interesses financeiros, são a prova de que a Igreja deve ser a voz de defesa dos mais vulneráveis.
A ideia de “pecado ecológico”, mais do que uma carga meramente punitiva, serve como um alerta de que o Cristão, independentemente do local onde está, deve ser o exemplo vivo da defesa da casa de Deus. Reciclar, plantar árvores, respeitar o que se come e optar por rotinas alimentares sustentáveis são novas formas de evangelização a que todos somos chamados. Todos. Sem exceção.
A ideia de “pecado ecológico”, mais do que uma carga meramente punitiva, serve como um alerta de que o Cristão, independentemente do local onde está, deve ser o exemplo vivo da defesa da casa de Deus
Até porque o negócio da alimentação é feito, muitas vezes, com a exploração massiva de habitats naturais, dizimando plantas e seres vivos. Os que lá trabalham são invariavelmente vítimas da opressão de quem apenas visa o lucro.
O fenómeno dos refugiados ambientais vai marcar esta década e é uma crise global. Os fogos que varreram a Amazónia repetem-se na Austrália e obrigam populações inteiras a deixaram tudo para trás, ficando à mercê de grupos, mais ou menos organizados, prontos a aproveitarem essa vulnerabilidade. E a exploração do Homem pelo Homem pode ser combatida em casa. À mesa, na escolha dos produtos que comemos. Quando compramos roupa, ao optarmos por materiais verdadeiramente sustentáveis. E, novamente, a Igreja tem um papal central e privilegiado neste apelo.
A hora da mulher é outro dos pontos chave do “documento”. A igualdade de direitos entre homens em mulheres, seja em casa ou nas empresas, é outro dos aspetos que vai marcar os próximos anos. O Sínodo pede que se ouçam e que se atribuam papéis de liderança às mulheres. O exemplo da Igreja abrirá portas a cargos governamentais, facilitará o acesso a mais responsabilidades no interior de empresas. Ajudará a uma sociedade mais justa e equilibrada. Um imperativo, ainda para mais, quando Portugal termina o ano com a mancha de cerca de 30 mulheres vítimas de femícidios, grande parte deles em casa. No local onde mais seguras se deveriam sentir.
Dois pontos distintos, mas que apontam para um objetivo integralmente comum: a defesa dos direitos humanos. Dos mais frágeis. Dos que mais precisam da Igreja como instrumento vivo. O Planeta, e em particular o seu pulmão, não é uma fonte inesgotável e a casa que nos foi entregue deve ser cuidada. As mulheres, em particular as refugiadas que carregam os filhos em busca da esperança, devem encontrar na Igreja a sua casa.
Tratar, cuidar e ouvir. E todos podemos ser um Ponto de Encontro.
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* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.