A democracia que se cumpriu
A democracia, de facto, não é fácil de praticar. Mas convém cultivá-la nos seus traços essenciais, sob pena de minarmos a casa comum e de não nos darmos (nem merecermos) ao respeito.
A democracia, de facto, não é fácil de praticar. Mas convém cultivá-la nos seus traços essenciais, sob pena de minarmos a casa comum e de não nos darmos (nem merecermos) ao respeito.
Não desperdicemos a avassaladora disponibilidade de tantos de nós (são mesmo centenas de milhares). E comecemos por cultivar esse pulsar democrático que, às tantas, não sentimos ou não praticamos.
Porque afinal, os filhos, surpreendentemente, ajudam-nos a perceber melhor a história e a sua importância. O que tanto vale para o 11 de Setembro de 2001, como para um ex-Presidente da República na hora da justa homenagem pela sua partida.
Sabemos pouco. Julguemos menos. Porque a justiça da justiça não se faz (não se pode fazer) de manchetes, de literacia incompleta, e em ambiente de preconceito.
Surpreendentemente, era um homem sem a predisposição da indiferença, ainda não corrompido pela insídia do silêncio destes sábados de manhã e sem esse instinto da mão e da inteligência reféns do Smartphone.
O caso de Reguengos convoca-me para a relação dos pais com os filhos e dos filhos com os pais. E conduz-me sofregamente à certeza de que estaremos a falhar. Há um caminho que teremos de percorrer, que estamos obrigados a cumprir: humanizar.
Nós, que ouvimos e lemos as notícias, e que face aos números da triologia («infectados, internados, mortes») em menos de três meses transitámos da tensão para a habituação – quando não desprezo –, só nos podemos sentir pequeninos.
Se ontem estávamos certos da nossa divisão, amanhã, quando as diferenças regressarem, haverão de estar influenciadas por essa experiência de igualdade, de partilha de condição, de justiça, ainda que de uma justiça diferente.
A vida nova vem com a velha, onde estão os nossos (pais, irmãos, filhos, amigos, colegas), onde moram os defeitos e as virtudes que nos condicionam, onde reza a história do que fizemos e prometemos fazer. Onde estão – numa palavra – as nossas circunstâncias que não são, nem devem ser, descartáveis.
Anima-os sobretudo o direito a serem tratados com hombridade – não serem ignorados, participarem das decisões relevantes que implicam com as suas terras, as suas gentes e as suas vidas. No fundo, serem respeitados.