Todos os anos, jovens jesuítas organizam um encontro em que se reúnem representantes de todas as províncias europeias da Companhia na Europa. Este encontro, designado como EJIF (sigla inglesa para encontro europeu de jesuítas em formação), procura proporcionar uma experiência que favoreça o vínculo destes jovens com a Companhia de Jesus a um nível universal, ajudando-os a conhecer outras realidades fora da sua própria província ou cultura.
Este ano, os jovens jesuítas estão reunidos em Roma de 28 de julho e 18 de Agosto. São 24 delegados que, inspirados pelo próximo Sínodo dedicado ao jovens, escolheram como tema: “Os jovens, a comunicação e a vocação.” A cada dia vão tendo encontros com outros jesuítas e leigos sobre a juventude, sobre comunicação e sobre as vocações. Normalmente, o dia começa com tempo de oração, seguindo-se depois momentos de partilha em grupo ou exposições relacionadas com a temática do encontro. Há aindatempos de convívio e descontração. Além de tudo isto, os 24 jesuítas farão juntos a experiência dos Exercícios Espirituais em Assis, de 5 a 1.2 de Agosto. Depois voltam a Roma para sintetizar e avaliar este encontro.
Os Encontros com o Padre Geral e o Papa
Mas o encontro deste ano ficou especialmente marcado por dois momentos muito especiais. O primeiro, no dia 31 de julho teve lugar já depois dos jovens jesuítas terem participado na Missa de Santo Inácio presidida pelo P. Geral Arturo Sosa na Igreja do Gesù em Roma. No serão desse dia, o P. Arturo Sosa, reunido com os jovens, alertou-os para a necessidade dos jesuítas darem um testemunho mais claro de “vida religiosa”. O Geral dos jesuítas reconheceu que há uma tensão entre o planeamento e as urgências da missão do dia a dia. Mas alertou que num tempo de rápidas mudanças é necessário um planeamento que oriente e dê horizonte às ações do dia a dia. “É preciso ter um plano concreto de ação, sem reduzir a liberdade e a criatividade.” Dirigindo-se aos jovens jesuítas enfatizou: “os vossos tempos serão difíceis, haverá muitas coisas a fechar e muitas a abrir” não podemos deixar de ter um plano que nos oriente.
O representante português neste encontro, Vasco Teixeira, que estuda filosofia em Roma, declarou ao Ponto SJ que o que mais o impressionou do encontro com o Padre Geral foi “a insistência na preocupação de os jesuítas darem o testemunho próprio de quem optou pela vida religiosa”.
Mas o encontro que mais impressionou Vasco Teixeira foi aquele que tiveram com o Papa Francisco. “O Papa chegou mais cedo do que estava previsto e demorou-se a cumprimentar cada pessoa. E mesmo que não dissesse muitas palavras, parava e contemplava-a como se estivesse a rezar por ela”.
“O Papa chegou mais cedo do que estava previsto e demorou-se a cumprimentar cada pessoa. E mesmo que não dissesse muitas palavras, parava e contemplava como se estivesse a rezar por ela”.
A conversa entre o Papa e os jesuítas durou cerca de meia hora e ficou marcada, explica Vasco Teixeira, pelo “humor” com que Francisco foi conversando e respondendo às perguntas. O Papa recordou de um modo muito especial dois discursos que considera fundamentais para o que a Companhia deve procurar ser hoje no mundo. Relembrou o discurso de Paulo VI à Congregação Geral 32 dos jesuítas em que este enfatizava que a presença dos jesuítas sempre se fez sentir nas encruzilhadas existenciais de cada momento, nos lugares em que o problemas dos homens e mulheres de cada tempo entravam em confronto com o Evangelho. O Papa enfatizou a necessidade de cada jesuíta saber reconhecer os seus dons próprios, usando-os com criatividade, mas sem nunca perder o sentido da obediência e daí, explicou a importância do Padre Geral que, como Pastor, “deve ter o grande dom do discernimento para permitir que cada um dos “sapos” escolha o que sente que o Senhor lhe pede”, sem perder o sentido de ligação ao corpo. Para isso, é preciso muita liberdade interior, “mas sem liberdade não se pode ser jesuíta” tinha já sublinhado o Papa.
Sem liberdade não se pode ser jesuíta,
Francisco recordou também um outro discurso que marcou profundamente a história da Companhia de Jesus, Foi a última intervenção do Padre Pedro Arrupe antes do derrame cerebral que, em 1981, o incapacitou de liderar a Companhia de Jesus. Nesse discurso de Arrupe, feito no avião, que regressava a Roma vindo de um campo de refugiados, Arrupe incentivou os jesuítas “à coragem de irem para os subúrbios, para os lugares onde acontece o cruzamento de ideias, onde há problemas.” Este discurso ficaria conhecido como o seu “canto do cisne”, o testamento que deixou à Companhia.
Os mesmo desejos vividos em culturas diferentes
Para além destes encontros especiais, o EJIF possibilitou aos jovens jesuítas uma visita à Rádio Vaticana, onde o Diretor daquela estação alertou para a necessidade de ajudar as dioceses e os bispos a comunicarem de um modo diferente. Existe a necessidade de ser menos passivo, deixando de esperar que as pessoas nos venham ouvir, “sendo mais breves nas homilías, compreendendo melhor o nosso tempo e dispondo-se a ir encontro das pessoas para as ouvir.”
Resumindo o espírito com que tem vivido este encontro a que foi enviado como delegado da província portuguesa pelo Provincial, P. José Frazão Correia, sj, Vasco Teixeira disse ao Ponto SJ sentir-se tocado pela experiência de uma “Companhia universal em que se percebem as diferenças culturais mas, ao mesmo tempo, se sente que o modo de ver mundo é movido pelos mesmos desejos: levar Jesus aos outros e assim transformar o mundo.”