Senhor, amante da Vida, todos são teus! (Sab 11, 26)
São teus os que ainda não nasceram e os que viram só agora a luz do dia; são tuas as crianças límpidas e frágeis e as famílias, santuários do amor; são teus os jovens para quem a vida é sonho e promessa e os mais velhos, memória que nos alarga o horizonte; são teus os doentes e os que, no fim da vida, em sofrimento, precisam de um abraço paliativo e protetor; são teus os do norte e os do sul, os de dentro e os de fora e os que são obrigados a sair das suas terras; são teus os que te reconhecem, os que te rejeitam e os que permanecem indiferentes; são teus os crentes, os descrentes e até os duvidosos. Senhor, todos são teus, e cada um vale mais do que todas as aves do céu.
Sabes que não pedimos para nascer, mas acolhemos a vida como dom e tarefa, inefável mistério, maravilha e fascínio. Na condição do nosso existir vivemos na tensão e no drama, entre o doce sabor da beleza da vida e a incerta experiência da sua fragilidade, num ‘entre-tanto’ que ao de leve possuímos, mas no temor e na esperança das surpresas que hão de chegar.
Obrigado, Senhor, pela ciência e pela técnica que nos ajudam a entender o mecanismo da vida, a ‘interioridade’ da matéria, o comportamento das partículas, o ADN que nos constitui. Mas faz com que não nos detenhamos na observação do como e das suas possibilidades, para ousarmos acolher e pensar a origem e a finalidade das coisas, o Quem, o para quê, e o com quem. E dá-nos, Senhor, um coração sábio e inteligente para amarmos sempre a vida e distinguirmos o bem do mal diante das possibilidades novas que hoje temos e que amanhã crescerão.
Sustenta, Senhor, as nossas tentativas de procura e ajuda-nos a descobrir o sentido da existência, o significado de estarmos aqui, e a origem complexa e misteriosa da vida. O nascer, o viver e o morrer trazem ao nosso coração inquietantes perguntas, que tentamos compreender, sem nunca serem totalmente compreendidas. Até a eternidade puseste no nosso coração, sem que alcancemos o sentido das coisas do início até ao fim. Diante de Ti, somos caminhantes de viagens sempre inacabadas e aventureiros de infinitas explorações, porque a vida é sempre um mistério a buscar e um lugar a conhecer.
Que o nosso olhar não se detenha apenas na capacidade de ver a vida terrena como o valor fundamental, mas que se alargue para além dela. Que na nossa vida apressada possamos deter-nos na procura de um significado mais profundo, porque a vida é caminho para um “mais” onde podemos tocar o Teu Rosto, mais luminoso que o nosso, que nos alarga e transcende.
Dá-nos, Pai, a força e a coragem para combatermos todas as ameaças à vida das pessoas e dos povos, sobretudo quando ela é débil e indefesa: o homicídio, o genocídio, o aborto, a eutanásia, o suicídio voluntário; a miséria e a fome, as epidemias e a violência, as guerras e os conflitos; as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violar as próprias consciências; as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, as múltiplas formas de escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens e as condições degradantes de trabalho (Cf. João Paulo II, Encíclica Evangelho da Vida, 3 e 4).
Dá-nos Senhor a capacidade de aceitar que a vida é sempre vida. Que a sua dignidade não depende das circunstâncias em que se encontra nem da fase em que está. Que não somos nós a conferir-lhe valor, mas reconhecemos a sua inviolabilidade na absoluta gratidão pelo que ela é e não no que faz ou pode fazer. Livra-nos, Senhor, de uma visão utilitarista, funcional e puramente horizontal da vida. Faz-nos sobretudo hoje fugir do engano de pensar que podemos dispor da vida ao ponto de legitimar a sua interrupção com a eutanásia, ou de nos obstinarmos com terapias injustificadas e desproporcionadas que querem prolongar a vida indefinidamente.
Faz, Senhor, amante da Vida, que a nossa cultura e a nossa nação, neste tempo e nesta hora, respeitem, promovam, celebrem e amem a Vida.
Pedimos-Te, Senhor, pela vida de cada um dos que são teus e pedimos também que nos faças, como Tu, ‘amantes da vida’, porque toda a vida pede amor.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.