O espírito do Sínodo chegou ao Porto

Fórum da Juventude organizado pelo CREU refletiu sobre uma geração inquieta mas que vive afogada na própria auto-realização sem conseguir distanciar-se das plataformas digitais. Resultados do Sínodo também estiveram em análise.

No passado sábado reuniram-se no Creu mais de 300 pessoas, entre os quais muitíssimos jovens universitários e profissionais para o Fórum da Juventude: Os jovens, a fé e o futuro.

A ideia do Fórum nasceu do desejo de trazermos até ao Porto o espírito do Sínodo dos Bispos sobre a Juventude realizado em Roma em outubro. Neste sentido foi importante a participação de cerca de 30 universitários de CREU na Missa do Encerramento do Sínodo onde foi possível beber do “bom espírito” que pairou sobre o sínodo e que continua presente, muito para além do documento final, texto que pelo seu carácter “brando” deixou a uns “aliviados” e a muitos outros, um pouco ou muito decepcionados.

Ao longo do ano fomos acompanhando os passos que a Igreja foi dando na preparação deste sínodo, com particular destaque para o documento preparatório, o pré-sínodo que pode contar inclusive com a presença de três jovens portugueses e as diversas iniciativas que se foram realizando por todo o mundo.

A ideia do Fórum não foi a de fazer um Congresso ou um pequeno sínodo local mas suscitar em cada um a possibilidade de um “exercício” intelectual, de parar para pensar.

Assim nasceu o programa do Fórum que incluía 3 breves conferências, 2 painéis e 4 ateliers, com o justo destaque para as intervenções do P. José Frazão, Provincial dos Jesuítas e de D. António Augusto Azevedo, Bispo auxiliar do Porto e delegado português no Sínodo dos Jovens.

O Fórum começou com a intervenção do P. Carlos Carneiro sj, Director do CREU, que se encarregou de apresentar o perfil de uma geração “inquieta” desafiada pelas circunstâncias pessoais, culturais e eclesiais a da actualidade a saber viver em conformidade com os seus desmedidos desejos e a impotência nem sempre conhecida dos seus limites. Estava dado o tom para um dia que se queria de reflexão franca, aberta, séria e esperançada sobre os mundos juvenis, a sua verdade e os seus contextos.

No 1º Painel, pretendia-se mostrar a surpresa de encontrar um “tesoiro escondido” quando se entra na realidade dos “planetas” juvenis. O arquitecto Nuno Valentim, ligado ao mundo dos campos de férias, abriu a reflexão e mostrou as razões pelas quais a política deixou de ser para muitos jovens um modo de transformação do mundo, mas também como essa transformação é muito mais “viável” quando é fruto de uma intervenção a partir do belo como novo critério moral.

Para uma Igreja que quer mudar o seu paradigma pastoral e habitar a realidade dos diversíssimos mundos juvenis, urge assumir sem medos e com humildade os contextos culturais cada vez mais secularizados, onde se agravam as dificuldades na transmissão da fé.

A psicóloga Ana Bahia, coma graça que lhe é habitual, traçou um acutilante retrato dos jovens “millenials” que vivem afogados na própria auto-realização sem conseguirem distanciar-se das plataformas digitais, tudo fazendo para viver desde muito cedo uma precoce autonomia. Finamente, o P. Duarte Rosado sj, director adjunto do CUMN, deixou-nos as “provas” de uma geração que não precisa de ser rebelde para ter causas ou grandes interesses, que não vive “sentada” à espera de um amanhã que não lhe saia das mãos, e que, portanto não se “encaixa” nos estereótipos de uma geração fútil, vencida ou apática, onde a amizade é um pilar existencial inegociável.

O P. José Frazão Correia, servindo-se dos seus recursos sapienciais, próprios de quem faz uma leitura teológica da realidade, desinstalou-nos com palavras sem medo, próprias de quem acredita que é legítimo esperar mais da Igreja, inclusive que era expectável esperar mais do documento final do Sínodo que, segundo a sua leitura, deixou questões importantes sem resposta ou pelo menos com pouca. Para uma Igreja que quer mudar o seu paradigma pastoral e habitar a realidade dos diversíssimos mundos juvenis, urge assumir sem medos e com humildade os contextos culturais cada vez mais secularizados, onde se agravam as dificuldades na transmissão da fé. Por isso, será necessário investir no distanciamento crítico e na liberdade profética, fugindo ao endeusamento da juventude nem restringindo as pretensões da Igreja deixando-se desejar ser só uma realidade eternamente jovem.

A tarde prosseguiu com quatro ateliers, à escolha, onde foi possível aprofundar os caminhos de autenticidade que as novas gerações já vivem ou ousam percorrer.

No 1º Atelier “Estilo ou Atitude”, Francisco Branco, treinador de rugby, João Pedro Mortágua, engenheiro aeroespacial e Helena Trigueiros, responsável por uma agência de viagens, procuraram responder a três questões muito atuais: pode haver sucesso sem disciplina? Porque não chegam mestrados e doutoramentos para vencer na vida? Por que vive hoje a juventude em constante itinerância?

No Atelier “Escolhas ou Obrigações”, o P. José Pedro, da Pastoral Universitária do Porto, Luís Mascarenhas e Bendita Abreu Lima, casal de médicos, e Helena Kendal, Cant’autora, presentearam os participantes com a sua reflexão e testemunho pessoal, respondendo a questões como a da possibilidade radical de deixar tudo por Deus, a de casar para viver o Evangelho e não apenas ser feliz, a de levar a fé até aos ambientes mais inesperados, como os palcos e os concertos.

No Atelier nº 3, “Experiências ou Compromissos”, João Sousa Guedes, animador do Camtil, João Pedro Ferreira, estudante da FEUP e responsável pela Missão País, e Teresinha Folhadela, recém-chegada de um campo de refugiados, abriram o coração dos presentes falando da “magia” espiritual dos campos de férias, da seriedade das experiências de missão que deixam o “bichinho” de anunciar o Evangelho ao longo da vida, e da abissal “descida ao infernos” ao partilhar a condição humana de quem vive num campo de refugiados.

No Atelier “Factos ou Palavras”, Carlos Grijó, das Equipas de Jovens de Nossa Senhora, e Maria Luís, dos Campinácios, Susana Santos, Doroteia, e o P. Pedro Cameira sj, Diretor adjunto do CREU responderam com tenacidade a questões tão atuais como a linguagem da Igreja, o afastamento dos jovens, em particular da missa que consideram inútil e incompreensível, a questão da substituição do confessor pelo psicólogo e a gestão das pretensões e frustrações juvenis.

Do programa do Fórum, depois do justo “coffee break”, constava um outro painel dedicado à Igreja e à sua capacidade profética de poder responder a três desafios juvenis incontornáveis: o acompanhamento pessoal, a educação e a sexualidade. O Prof. Carlos Gonçalves, Carmelita, a Dra. Fátima Gonçalves, do Colégio do Rosário, e o P. Miguel Almeida sj, Assistente Espiritual do CAB, verdadeiros “especialistas” em Psicologia, Educação e Teologia Moral, brindaram-nos com reflexões de excelência, alargando-nos os horizontes do que significa acompanhar, educar e, finalmente, da necessidade urgente de um encontro “desarmado” entre a sociedade, que só sabe falar de sexo, e a Igreja que muitas vezes é incapaz de apresentar de forma credível uma proposta própria de quem vê na sexualidade uma bênção e muito mais do que um obstáculo à santidade.

O dia terminou com a intervenção de D. António Augusto que trouxe até ao Fórum o espírito e as conclusões do recente sínodo dos jovens, deixando-nos linhas concretas de orientação para a continuidade e aplicação do estilo sinodal proposto aos Pastores, às Comunidades, às Estruturas sempre com a participação e presença das jovens gerações; um estilo sinodal próprio de quem não tem medo de escutar, de acompanhar e discernir. O sínodo foi, continua a ser, a graça de um processo que se quis “inacabado” e que precisa agora de encontrar modalidade locais para que se desenvolva e neste desenvolvimento possa paradoxalmente permanecer. Foi neste entendimento que D. António manifestou a sua alegria pela realização deste Fórum e sugeriu outras iniciativas que o possam continuar.

Depois da intervenção do Bispo do Porto pudemos ainda usufruir de um breve concerto dos Meninos do Coro e manifestar, num simples porto de honra, o nosso tributo a S. João Paulo II, a Bento XVI e ao Papa Francisco pelo seu empenho pastoral em favor dos mais jovens, augúrio de uma unção de esperança que “amplie horizontes, dilate o coração e transforme as estruturas que paralisam, separam e afastam a Igreja dos jovens” (Papa Francisco, homilia da Missa de abertura do Sínodo dos Jovens).