Moçambique: a força da resiliência

Fundação Gonçalo da Silveira esteve no terreno a inteirar-se da situação, dois meses após o ciclone Idai. População ainda está sem habitação e com pouco acesso à alimentação. Mas reconstrução de escolas primárias já está a ser projetada.

A Fundação Gonçalo da Silveira (FGS) regressou há dias de Moçambique onde esteve a fazer um levantamento dos danos causados pelo ciclone Idai e a inteirar-se, junto dos parceiros locais, dos trabalhos de reconstrução em curso. Apesar de a prioridade da intervenção passar ainda por garantir a alimentação das populações e a recuperação das suas habitações, a FGS e os parceiros no terreno já identificaram outras infraestruturas essenciais que serão alvo de recuperação. Assim, em parceria com a Arquidiocese da Beira e com os jesuítas da Província Zimbabwe-Moçambique da Companhia de Jesus, sinalizaram-se duas escolas primárias a precisar de intervenção na zona rural e mais três escolas nas zonas urbanas.

Na primeira semana da visita a Moçambique de Sandra Fernandes, da FGS, realizou-se um trabalho conjunto (Workshop Beyond Cyclone Idai) em Maputo entre a Rede Xavier (em representação da qual esteve também a FGS), juntamente com jesuítas da Província Zimbabwe-Moçambique da Companhia de Jesus e da Província Malawi-Zâmbia da Companhia de Jesus. Além da identificação dos setores prioritários de intervenção nos três países atingidos pelo ciclone Idai – Moçambique, Zimbabué e Malawi -, foram definidos os grupos de beneficiários prioritários: crianças, mulheres, idosos, pessoas com necessidades especiais, viúvas. De uma forma transversal, foram identificados também outros setores-chave onde é preciso trabalhar: as questões de género, as preocupações ambientais, a capacitação, a pastoral e a comunicação.

Sandra Fernandes, técnica da FGS, explicou ao Ponto SJ que nos 15 dias em que esteve no terreno teve também oportunidade de visitar as comunidades de Nhangau (nomeadamente Nhangulo, Nhambira, Tsími e Nhanduvo), com quem a FGS tem trabalhado nos últimos anos. “Foi possível perceber a fragilidade das comunidades, não só urbanas, como também rurais, no que se refere a condições de habitabilidade, uma vez que a maioria das casas se encontra sem telhado. O acesso à alimentação constitui também uma preocupação, embora nas zonas rurais já tenha sido possível verificar que as comunidades começaram a cultivar a terra e esperam poder colher os resultados dessas mesmas culturas dentro de três meses.

 

“Foi muito significativo poder observar a importância do trabalho conjunto, colaborativo e comunitário na resposta às dificuldades geradas com a passagem do ciclone Idai. Apenas dois meses passados, as comunidades reconstruíram, com os recursos naturais à sua disposição, algumas das infraestruturas existentes anteriormente, como casas e espaços comunitários” – Sandra Fernandes, FGS

Outro aspecto a salientar desta visita à Beira, nomeadamente às comunidades rurais, tem que ver com a sua capacidade de resiliência, afirmou Sandra Fernandes, acrescentando: “Foi muito significativo poder observar a importância do trabalho conjunto, colaborativo e comunitário na resposta às dificuldades geradas com a passagem do ciclone Idai. Apenas dois meses passados, as comunidades reconstruíram, com os recursos naturais à sua disposição, algumas das infraestruturas existentes anteriormente, como casas e espaços comunitários.”

Escolas primárias vão ser reabilitadas

Nas zonas rurais, serão reconstruídas a Escola Primária de Nhambira e a Escola Primária de Nhangulo. Na primeira – com uma turma do primeiro e outra do segundo ano e um total de 23 alunos – a perspetiva da melhoria da infraestrutura poderá ter um papel determinante no aumento de alunos/as nesta comunidade, uma vez que se trata de uma comunidade, cujo acesso é muito difícil. Além disso, neste edifício funcionam também  aulas de alfabetização de adultos, divididas em 2 turmas, num total de 36 estudantes. Quanto à escola de Nhangulo, abrange um universo de 66 estudantes do primeiro ciclo, havendo ainda também aulas de alfabetização de adultos, cujo número difere em função da época de cultivo e colheitas.

Na área urbana, prevê-se requalificar a Escola primária de Manga-Mascaranhas, um estabelecimento de ensino público, atualmente com 1099 alunos/as e dividida em 11 salas de aula. Serão ainda intervencionadas as Escolas comunitárias S. José da Mukassa, S. Pedro e S. Paulo, cuja reabilitação irá implicar a colocação de telhado, a pintura dos edifícios e a aquisição de livros.

Ao longo desta visita, os parceiros/atores locais com quem a FGS estabeleceu articulação foram a Província Zimbabwe-Moçambique da Companhia de Jesus; a Província Malawi-Zâmbia da Companhia de Jesus; a Arquidiocese da Beira – através do seu bispo, D. Cláudio ; Centro de Investigação de Santo Agostinho (CISA) da Universidade Católica de Moçambique e as associações rurais comunitárias das comunidades de Nhangau.

Foi possível também, no âmbito da Rede Xavier, recolher alguns testemunhos de habitantes locais. Histórias que nos falam do dia do ciclone mas também das semanas que se seguiram.

Testemunho de Jacinta Vasco, agricultora, comunidade de Nhangulu, Beira, Moçambique

Testemunho de Julio Celestino, 28 anos, comunidade de Nhangulu, Beira, Moçambique

Testemunho de Marquinha Manueli, agricultora, comunidade de Nhangulu, Beira, Moçambique

Testemunho de Irmã Anna, coordenadora do Centro de Investigação Santo Agostinho, Universidade Católica de Moçambique, Beira

Estes testemunhos foram gravados no âmbito de uma visita de avaliação das necessidades da área a intervir por parte da Rede Xavier, feita por três técnicas (Sandra Fernandes da FGS e Ennie Chiramba da Silveira House Zimbabué e Pilar López-Dafonte da EntreCulturas).

Campanha já permitiu angariar 90 mil euros

A Fundação Gonçalo da Silveira, em consórcio com a Fundação Evangelização e Cooperação e a Associação VIDA, prossegue a sua campanha de angariação de fundos para ajudar à reconstrução de Moçambique. Até ao momento, a recolha de donativos da Campanha “Somos Moçambique” já permitiu angariar 90.902.20€.

Créditos: Irene Galera (JRS) / Rede Xavier.