“De onde vêm os imigrantes que têm chegado ao nosso país?”; Que boas contribuições trazem e que questões se levantam com a sua chegada e a sua maneira de estar?”; “Como somos vistos por um muçulmano?”; “Há razões para termos medo?”; “Que boas práticas de acolhimento de imigrantes existem em Portugal?”; “Em que é que as nossas perceções distam ou coincidem com a realidade?” Questões como estas serão abordadas no “MigraTalks – O sonho de uma imigração saudável”, um dia de reflexão acerca da imigração em Portugal, organizado pelo Centro Comunitário São Cirilo, uma instituição da Companhia de Jesus sediada no Porto que promove a autonomização e integração de imigrantes.

O MigraTalks terá lugar no dia 14 de junho, sábado, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões e contará com a presença, entre outros oradores, de António Vitorino (Presidente do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo e ex-Diretor-Geral da OIM, Organização Internacional para as Migrações), Pedro Góis (atual Diretor do Observatório das Migrações) e Paulo Fernandes (Presidente da Câmara Municipal do Fundão), autarquia que é uma referência da boa integração de imigrantes. Para além de conferências, mesas redondas e entrevistas, o programa inclui outros momentos como um “Border Coffee – Café em posto de fronteira” e a possibilidade do contato direto com imigrantes.

“O MigraTalks pretende ser um espaço de reflexão despretensioso e ponderado acerca das questões relacionadas com imigração que se levantam no nosso país. Muitas pessoas estão confusas e com medo e parece-nos que o tom geral da discussão pública – tantas vezes politizado, ideológico, oportunista – não ajuda”, explica o P. Nuno Tovar de Lemos, presidente do Centro São Cirilo. “Gostaríamos de contribuir para a discussão com uma reflexão serena, humanista, realista, com mais substantivos que adjetivos, e que abrisse portas para o futuro”, acrescenta.

O P. Nuno lembra que a questão que tem dominado o debate é em que medida o País se deve “fechar” ou “abrir” à imigração e quem se deve deixar entrar, mas defende que ainda mais importante é refletir sobre a integração de quem chega à sociedade portuguesa. “Que, no futuro, vamos ser uma sociedade muitos mais multicultural é um dado de facto. Será assim quer queiramos quer não. Mas essa multiculturalidade pode ser uma boa ou má notícia e isso, em grande parte, depende de nós e das medidas que adotarmos hoje.”

Neste encontro será abordado também o tema da “perceção” que é essencial nas conversas sobre imigração. “Hoje em dia, há uma diferença grande entre o que está a acontecer e o que as pessoas pensam que está a acontecer. Isto não acontece só em relação à imigração mas também”, diz o P. Nuno Tovar de Lemos. Por isso, durante o dia haverá oportunidade de ouvir Isabel Rocha Pinto, psicóloga social, que irá explicar como se formam as percepções, sobretudo as que envolvem medo. O Migrataks contará ainda com a participação da socióloga Catarina Reis Oliveira, uma das pessoas que, em Portugal, tem mais dados acerca da imigração.

O Migratalks contará ainda com um orador muito especial: um muçulmano convicto e praticante que irá partilhar como somos vistos pelo Islão. Mohamed Soliman é egípcio, está há mais de 10 anos em Portugal, e conhece bem a cultura portuguesa, até porque se doutorou em engenharia química, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Vive atualmente no Porto e é o responsável pelo ensino religioso das crianças e jovens na Mesquita do Porto da Rua do Heroísmo.

As inscrições para o Migratalks já estão a decorrer e podem ser feitas online no site do evento.

Em 2024, o Centro São Cirilo acompanhou 1.300 imigrantes através da sua equipa técnica e dos seus quase 80 voluntários regulares. Entre muitos outros serviços, o Centro dispõe de um gabinete de emprego, um gabinete jurídico, aulas de Português, workshops de capacitação em diversas áreas e ainda de quartos para acolhimento temporário de imigrantes no seu processo de autonomização.