Uma aposta no futuro de todos nós

A sociedade deve estar sensibilizada para a revalorização da velhice. O futuro é este. A qualificação e especialização dos profissionais que exercem funções na área do envelhecimento é urgente.

A sociedade deve estar sensibilizada para a revalorização da velhice. O futuro é este. A qualificação e especialização dos profissionais que exercem funções na área do envelhecimento é urgente.


Nos últimos anos tenho vindo a aperceber-me de uma tendência por parte dos alunos: a tentativa de escolha de estágios curriculares fora do âmbito da Gerontologia. Esta inclinação reflete bem o baixo estatuto e pouca relevância das pessoas idosas na sociedade. Assumo igualmente que as exigências emocionais, as situações de dependência e a prevalência de casos de demência levam à confrontação: não somos eternamente jovens.

Igualmente, os diferentes profissionais que trabalham em respostas para adultos mais velhos são considerados pelos seus pares como tendo um menor estatuto profissional, assumindo-se uma falta de complexidade na prática profissional. (Não nos podemos esquecer que em muitos casos também se reflete no vencimento auferido).

Enquanto assistente social que também exerce funções numa IPSS com resposta para pessoas idosas, esta realidade gera inquietude. Especialmente porque trabalhar com adultos, mais velhos, é tão desafiante e pertinente como qualquer outra área ou faixa etária. Por falar em pertinência, basta pensar que, de acordo com os Censos 2021, o índice de envelhecimento da população portuguesa é de 182 pessoas idosas por cada 100 jovens.

Estes factos colocam em evidência a necessidade da construção de apoios e cuidados mais especializados para os mais velhos, com profissionais preparados, motivados e altamente qualificados.

Estes factos colocam em evidência a necessidade da construção de apoios e cuidados mais especializados para os mais velhos, com profissionais preparados, motivados e altamente qualificados.

O combate à pobreza, às situações de isolamento, o idadismo, a solidão, o abandono e os maus-tratos são preocupações a trabalhar.

Diz-se que na cultura nuráguica os antigos sardos faziam os mais velhos, que não tinham capacidade de cuidar de si próprios, beber chá de uma planta que causava espasmos semelhantes a um sorriso. Assim que os mais velhos ficassem sorridentes, eram atirados de um penhasco. Não era apenas uma forma de sorrirem perante a morte. Era uma forma de tranquilizar os que os atiravam: morreram felizes.

Não queremos um sorriso sardónico aplicado aos nossos tempos. A sociedade deve estar sensibilizada para a revalorização da velhice. O futuro é este. A qualificação e especialização dos profissionais que exercem funções na área do envelhecimento é urgente.

Investir nos mais velhos é pensar no próprio futuro.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.