UCA: Companhia de Jesus nega acusações de terrorismo (atualizada)

Superior Geral dos Jesuítas, P. Arturo Sosa, considerou totalmente infundadas as acusações de terrorismo imputadas pelo governo da Nicarágua à Universidade Centro Americana, que pertence à Companhia de Jesus.

Superior Geral dos Jesuítas, P. Arturo Sosa, considerou totalmente infundadas as acusações de terrorismo imputadas pelo governo da Nicarágua à Universidade Centro Americana, que pertence à Companhia de Jesus.

O Superior Geral dos Jesuítas, P. Arturo Sosa, considerou ontem totalmente falsas e sem qualquer fundamento as acusações de terrorismo que foram dirigidas pelo governo da Nicarágua à Universidade Centro Americana (UCA) e que conduziram ao seu  encerramento e à apreensão de todos os seus bens móveis e imóveis. Em carta dirigida ao Provincial da Província Centro Americana, P. José Domingo Cuesta, o P. Arturo Sosa expressou a sua surpresa e dor pelas consequências que o encerramento da UCA provocarão na juventude e em todo o povo da Nicarágua e manifestou a sua solidariedade para com todos os jesuítas, pessoal docente e administrativo da prestigiada universidade jesuíta.

Já no dia 16 de agosto, a Província Centro Americana da Companhia de Jesus tinha emitido uma declaração pública em que dava conta do ofício decretado pelas autoridades judiciais da Nicarágua que acusa a UCA de ser um “centro de terrorismo” e de ter atraiçoado a confiança do povo nicaraguense, além de ter “transgredido a ordem constitucional, jurídica e de ordenamento que rege as instituições de ensino superior do país”. Nesse comunicado, os jesuítas negavam todas as acusações que lhe eram imputadas e classificavam esta decisão governamental de confiscar a UCA como “o preço a pagar pela busca de uma sociedade mais justa, pela proteção da vida, pela verdade e a liberdade do povo nicaraguense, em consonância com o seu lema ‘A verdade nos tornará livres´'”.

A Província Centro Americana considerava ainda que esta decisão do regime de Daniel Ortega y Rosario Murillo não era um ato isolado, mas fazia parte de uma série de ataques injustificados contra o povo da Nicarágua e de outras instituições educativas e sociais da sociedade civil, que está a gerar um clima de violência e insegurança e a agudizar a crise sociopolítica do país. A partir de 2018, como consequência da defesa da vida das pessoas que estavam a ser reprimidas por forças estatais e parapoliciais, a UCA foi alvo de assédio e intimidação por parte das instâncias governamentais, que se fez sentir através de vários mecanismos, como por exemplo a não emissão de certificados necessários ao seu funcionamento.

Os jesuítas que vivem na Nicarágua consideram, por isso, que se trata de uma política governamental que viola sistematicamente os direitos humanos e parece estar orientada para a consolidação de um estado totalitário. Nesse comunicado divulgado há três dias, imputavam ainda ao governo todos os danos causados à comunidade educativa da UCA, cerca de cinco mil alunos e mais de 500 docentes. Exigiam ainda aos governantes que revertessem as medidas tomadas e cessassem a agressão contra a universidade, e ainda que se empenhassem na criação de uma solução nacional em que imperasse a justiça, a verdade, o diálogo e a liberdade de educação.

Também o Superior Geral dos Jesuítas, P. Arturo Sosa, exigiu a reversão e a correção da medida judicial imposta à UCA, de modo a que a universidade possa prosseguir o trabalho que vem desenvolvendo há 63 anos de promoção da reflexão, de educação aberta, democrática e livre.

 

em atualização

No domingo, dia 20, a comunidade de seis jesuítas que eram responsáveis pela supervisão da Universidade Centro-Americana (UCA) foi despejada pelas autoridades judiciais. Os jesuítas foram forçados a abandonar a sua residência e estão agora a residir em local seguro.

Mais recentemente, no dia 23, o governo da Nicarágua emitiu um oficio que cancelou o estatuto legal da Companhia de Jesus na Nicarágua e estabeleceu que a Procuradoria-Geral da República transferia ao Estado os bens imóveis e móveis da mesma.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.