Reconhecimento da virtude do Padre Arrupe

P. Manuel Morujão conheceu o P. Arrupe, nas suas passagens por Roma. Sublinha o espírito missionário no Japão, no tempo de Hiroshima, a firmeza no pós Concílio Vaticano II e a obediência na relação, nem sempre fácil, com João Paulo II.

P. Manuel Morujão conheceu o P. Arrupe, nas suas passagens por Roma. Sublinha o espírito missionário no Japão, no tempo de Hiroshima, a firmeza no pós Concílio Vaticano II e a obediência na relação, nem sempre fácil, com João Paulo II.

O anúncio do início da causa de canonização do Padre Pedro Arrupe enche-nos de alegria. Não apenas aos jesuítas, mas a todos os que se identificam com o estilo de ser Igreja do Concílio Vaticano II. Uma Igreja de fé sólida, mas realisticamente aberta aos desafios do mundo contemporâneo. Usando uma imagem do inaciano Papa Francisco, o Padre Arrupe promoveu como Superior Geral, de 1965 a 1983, uma Igreja Hospital de Campanha, enfrentando as dificuldades com coragem, curando feridas e abrindo horizontes de esperança.

Conheci o Padre Geral Pedro Arrupe sobretudo nos anos em que estudei Teologia em Roma (1971-1976), na Congregação Geral 33 (1983), em que pediu a sua demissão por falta estrutural de saúde e foi eleito o seu sucessor P. Peter-Hans Kolvenbach, e nalgumas visitas que lhe fiz na Cúria Geral, durante os largos anos de enfermidade até ser promovido à companhia de Jesus eterna.

Eis alguns traços que mais me ficaram gravados da sua personalidade:

Um Padre Geral missionário no Japão e em Roma

Pela primeira vez na história desde o início da Companhia de Jesus em 1540, foi escolhido um Geral vindo de um país fora da Europa. Tendo nascido em Bilbao, cedo foi destinado ao Japão, onde foi Mestre de Noviços durante os tempos da II Guerra Mundial. Na tragédia provocada pela bomba atómica, em 1945, aproveitando o saber do seu curso de medicina, o Noviciado dos Jesuítas em Hiroshima passou a ser um improvisado hospital de campanha. Mais tarde veio a ser nomeado Provincial do Japão, cargo que exercia quando foi eleito Geral da Companhia.

O timoneiro do barco da Companhia nos mares da modernidade

Arrupe foi eleito Superior Geral dos Jesuítas no ano em que se concluiu o Concílio Vaticano II, em 1965. A lufada de ar fresco renovador do Concílio provocou também ondas no mar da vida da Igreja e da Companhia. O Padre Arrupe não recuou nas reformas que havia a implementar, também como Presidente da União de Superiores Maiores das Ordens e Congregações religiosas. Nas vezes em que o encontrei e escutei, recordo-me da sua grande amabilidade, delicadeza e sentido de humor. Mas tudo isto era temperado com firmeza e decisões claras. Cordial sim, mas inimigo da ambiguidade e das meias verdades.

Modelo de sentir com a Igreja

O Papa João Paulo II teve uma forte intervenção na vida da Companhia ao nomear um Delegado pessoal para o seu governo, quando o P. Arrupe ficou fundamentalmente limitado na sua saúde, em 1981. Podemos dizer que acabou por ser um seu admirador, pois esta sua intervenção foi aceite sem contestação e na paz da obediência eclesial. Além disso, várias vezes veio à Cúria Geral visitar o P. Arrupe enfermo.

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Arrupe a receber a bênção de João Paulo II

A abertura do processo da causa de canonização do P. Pedro Arrupe é uma estimulante boa notícia. É o reconhecimento de que vale a pena seguir os passos de quem viveu intensamente a sua missão apostólica, homem de Deus para os outros. O grão de trigo da sua vida lançada à terra seguirá dando frutos abundantes.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.