Papa Francisco protege as crianças

Presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção de Crianças e Jovens sublinha a vontade do Papa dotar a Igreja de pessoas especializadas no tema dos abusos sexuais. E diz que é preciso apostar na prevenção.

Presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção de Crianças e Jovens sublinha a vontade do Papa dotar a Igreja de pessoas especializadas no tema dos abusos sexuais. E diz que é preciso apostar na prevenção.

Foi com alegria que li os 21 pontos de reflexão do Papa Francisco sobre o caminho que a Igreja deve seguir para combater com profundidade o problema dos abusos sexuais de crianças.

Este documento vem no seguimento de outros onde o Papa continua a demonstrar a sua profunda preocupação e sofrimento com o mau estar dos mais frágeis.

A coragem de elaborar um manual prático no qual serão especificados os passos a dar para uma maior proteção das vítimas de abusos sexuais diz muito sobre a pessoa de Francisco e o rumo que ele pretende dar à Igreja Católica.

Diz a academia, que a omissão e o medo de enfrentar o abuso sexual constituem os maiores aliados de quem vive este problema, seja por parte das vítimas ou seja de quem convive com elas, potenciando o silêncio, a negação e o secretismo durante anos e, por vezes, durante toda uma vida.

Contra estes problemas o Papa Francisco deseja dotar a Igreja Católica de “estruturas de escuta compostas por pessoas treinadas e especializadas”, bem como “acompanhar, proteger e tratar as vítimas oferecendo-lhes todo o apoio necessário para uma recuperação completa”.

A violência sexual contra crianças e jovens é um fenómeno de extrema complexidade e o apoio a essas vítimas deve pautar-se por uma ação integrada quer no que respeita ao compreender, quer no que respeita ao proceder, pelo que, cada vez mais, urge uma ação interdisciplinar e interinstitucional para melhor se conhecer e intervir nesta matéria.

A violência sexual contra crianças e jovens é um fenómeno de extrema complexidade (…) pelo que, cada vez mais, urge uma ação interdisciplinar e interinstitucional para melhor se conhecer e intervir nesta matéria.

Esta violência acarreta implicações profundas na saúde física e psicológica das vítimas, suas famílias/cuidadores, amigos, não só nos momentos dos atos abusivos, mas com potencial para afetar todo o processo de vida.

Por isso, o Papa Francisco reforça a necessidade de “fortalecer a cooperação com todas as pessoas…” e “com os meios de comunicação afim de reconhecer e distinguir os casos verdadeiros dos falsos”.

Segundo a OMS, a violência sexual contra crianças e jovens pode ser prevenida.

A maioria do trabalho na área da prevenção consiste na identificação precoce de casos de violência sexual e nas intervenções com vista a proteger as vítimas. Existem muitos mitos comummente partilhados, associados ao abuso sexual de crianças e jovens, que importa desconstruir e clarificar pois contribuem também para o secretismo que funciona a favor dos agressores e nunca a favor das vítimas.

O Papa Francisco pede que se formulem “códigos de conduta obrigatórios para todos os clérigos, religiosos, pessoal de serviço e voluntários” e que se faça “uma revisão periódica de protocolos e normas para salvaguardar um ambiente protegido para as crianças em todas as estruturas pastorais”, bem como criar mecanismos de “consciencialização sobre as causas e consequências do abuso sexual por meio de iniciativas de formação permanente” de todos os agentes da Igreja Católica.

Para possibilitar uma redução significativa da incidência de abusos sexuais é absolutamente necessário que se repensem e utilizem estratégias dirigidas aos fatores responsáveis e às causas subjacentes.

A chamada de atenção do Papa Francisco para a necessidade de “delinear os limites apropriados nas relações pessoais” é fundamental para que as crianças e os jovens acreditem que a sociedade da “globalização da indiferença” pode ser transformada numa sociedade atenta e protetora.

É preciso construir um futuro saudável e feliz. Saibamos todos combater a indiferença!

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.