Onde param os jovens?

A família e a escola têm de trabalhar lado a lado na educação e na formação cívica. A responsabilidade tem de ser partilhada. Mas não é isso que acontece. Senão veja-se que legitimidade tem um Estado para criticar o insucesso escolar se permite que os seus alunos fiquem sem professores durante meses?

A família e a escola têm de trabalhar lado a lado na educação e na formação cívica. A responsabilidade tem de ser partilhada. Mas não é isso que acontece. Senão veja-se que legitimidade tem um Estado para criticar o insucesso escolar se permite que os seus alunos fiquem sem professores durante meses?

A Jornalista da RTP e da Antena 1, Rosário Lira, comenta os resultados da categoria Ponto de Interrogação da nossa iniciativa as marcas que ficam de 2019.

Onde param os jovens? É a pergunta que me ocorre quando olho para o painel “ponto de interrogação” que tem a violência doméstica como tema mais votado.

Sou jornalista há mais de 30 anos. Já perdi a conta às reportagens que fiz, em diferentes áreas, mas há um trabalho que me vem sempre à memória. Uma reportagem sobre violência doméstica, feita no tempo em que ainda não havia internet, redes sociais ou telemóveis com fotografias. Nesse tempo chocou-me ouvir o relato de mulheres e homens que com o apoio da APAV tinham conseguido libertar-se do seu agressor, física e psicologicamente. Falaram-me da sua experiência pessoal e descreveram com pormenor as situações de violência a que repetidamente eram sujeitos. Nem a minha imaginação alguma vez poderia ir tão longe.

Mas isso leva-me a pensar que se hoje em dia a violência doméstica continua a ser um dos crimes mais presentes na nossa sociedade então é porque falhamos como jovens e continuamos a falhar com os nossos jovens, na educação e nos valores que transmitimos. Mais: Os últimos inquéritos revelam que o problema tende a agravar-se entre os jovens. Segundo um estudo da UMAR para 2019, 58 por cento dos jovens já foram vítimas de violência doméstica, mais 2 por cento do que em 2018 e 67 por cento, mais de metade, acha isso natural!

Estes jovens um dia vão ser pais e o ciclo voltará a repetir-se porque os valores transmitidos serão os da aceitação de comportamentos violentos, como sendo normais!

A família e a escola têm de trabalhar lado a lado na educação e na formação cívica. A responsabilidade tem de ser partilhada. Mas não é isso que acontece. Senão veja-se que legitimidade tem um Estado para criticar o insucesso escolar se permite que os seus alunos fiquem sem professores durante meses? Se permite que só quem tem dinheiro possa aceder a uma escola de reconhecida qualidade?

É preciso investir nos jovens. É um bom investimento e tem retorno garantido. Veja-se o exemplo de Greta Thunberg que também aparece neste painel associada à pergunta podem os jovens mudar o mundo? Eu diria: Devem mudar o mundo! E nesse aspeto, ao contrário do que se passava há 30 anos, hoje em dia está tudo facilitado. Mobilizar é mais fácil porque se comunica rapidamente e porque os indivíduos estão recetivos a tudo o que os rodeia.

Talvez seja isso que precisamos em Portugal. Exemplos inspiradores. Bons exemplos que façam a diferença, na saúde, na educação, na religião, na política e na economia.

Greta Thunberg não é exemplo único. Há na atualidade outras jovens que lutam pelos Direitos Humanos, com histórias diferentes mas propósitos comuns, como Malala Yousafzai, Farida Khalaf ou Rupi Kaur.  Ou seja, é possível mudar, é possível despertar consciências, é possível reverter a situação. Perguntam: Quando? Quando há um exemplo inspirador que lidera e arrasta multidões de forma natural.

Talvez seja isso que precisamos em Portugal. Exemplos inspiradores. Bons exemplos que façam a diferença, na saúde, na educação, na religião, na política e na economia.

Não ter estes exemplos abre caminho aos outros, àqueles que prometem fazer ouvir a voz do povo, cansada das elites, da corrupção, da má gestão e da desigualdade. Lideres que nascem do poder da comunicação, aproveitando o descontentamento e o desgaste de uma democracia liberal que não se soube cuidar. E isto acontece em todos os sectores.

O parlamento atual que foi disputado por 21 candidaturas, um número recorde, é o reflexo da procura por uma alternativa mas simultaneamente a prova de que há espaços e novas questões que os partidos ditos tradicionais descuraram.

Esta foi a pergunta que ficou em último lugar nas votações: O que mudou no Parlamento? Mais importante é perceber o que é que esta nova composição vai trazer de novo às decisões a tomar. Todos os que ali estão chegaram por igual direito e não serem tratados de igual modo é o pior erro. Mas será que as decisões vão refletir essa diversidade? Dificilmente isso acontecerá. Um erro!

Tal como será errado não aproveitar a capacidade mobilizadora dos jovens, desvalorizando as suas opiniões e criando politicas que não espelham as suas necessidades.

Onde param os jovens que vão fazer a diferença em Portugal? Eles existem. Estão cá dentro e lá fora. Precisamos deles para que o futuro seja melhor! Não podemos falhar!

Conheça todos os resultados aqui.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.