Para haver desenvolvimento, é necessário tempo. É semear hoje sem saber se no futuro haverá colheita, é acreditar que vale mesmo a pena apostar nas pessoas e construir com elas, envolvendo-as na definição do seu próprio caminho. Nos Leigos para o Desenvolvimento (LD) esta é uma das nossas marcas, algo que nos caracteriza desde o início e nos leva a trabalhar não para o imediato, mas para o longo curso.
Por isso, histórias como a do Fernando Barbante – que começou por receber formação dos LD em 2009 no Bairro da Graça em Benguela, e em 2023 foi convidado a ser formador num projeto LD no Alto Catumbela, também em Angola – são um bom exemplo da nossa forma de atuar e de resultados a que só se chega a longo prazo. Entre uma data e outra, colaborou nos projetos LD em Benguela, tornou-se mentor, criou a sua própria empresa e viu nos voluntários LD uma forma de estar que o marcou, querendo retribuir o que nele foi semeado: «a missão de partilhar e transformar outras vidas».
Esta aposta em que pessoas e comunidades sejam os protagonistas do seu próprio desenvolvimento é o que nos leva a não ter receitas formatadas. No início de cada novo local de missão, começamos por observar, ouvir e aprender. É importante perceber com quem vive em cada local quais as verdadeiras necessidades e não aquelas que nós, vindos de outra realidade, achamos que o são. Para o fazer juntamos pessoas e entidades locais num grupo comunitário – que percorre também ele um caminho de trabalho conjunto que pode levar 2-3 anos a consolidar – na busca das melhores abordagens locais aos problemas identificados pelos próprios. A partir de cada grupo comunitário vão surgindo projetos que com o tempo se autonomizam. Para dar alguns exemplos: o Gabinete de Apoio à Inserção na Vida Ativa (GAIVA) em Benguela; o projeto Bairro Limpo no Bairro da Boa Morte, em S. Tomé; o percurso interpretativo Diários de um Quotidiano no Monte da Caparica em Portugal.
O desenvolvimento acontece também nos voluntários LD, que vivem junto das comunidades onde atuam, numa lógica de pobreza e simplicidade cristãs. O local de missão é casa e é aí que cada voluntário é acolhido, mas também desafiado e desinstalado. É nesta reciprocidade que se faz a missão. Umas vezes damos e noutras recebemos, umas vezes apoiamos e ajudamos a crescer e noutras somos acolhidos e ajudados a crescer no meio das fragilidades que nem sabíamos que tínhamos.
É esta vivência que nos transforma e nos faz regressar diferentes, mais capazes de olhar para a realidade que nos rodeia e procurar abordagens conjuntas e multifacetadas para os problemas, mais sedentos de dar continuidade a esta forma de ser e estar no mundo. Por vezes, é após esse regresso que tomamos grandes decisões: uma mudança para um trabalho que tenha em conta preocupações sociais, uma vocação religiosa, uma formação que nos ajude a dar rumo ao muito que aprendemos. São os frutos no tempo do desenvolvimento.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.