Há quem diga que a democracia acontece quando existe liberdade para votar. Eu prefiro dizer que a democracia acontece quando aceitamos o resultado político de uma votação livre.
As eleições do passado domingo foram uma mistura intensa de consolações e desolações, de surpresas e de confirmações. Mas tudo se passou na sequência de campanhas estrategicamente trabalhadas e com um fator comum: todas defenderam o melhor para o povo português. As melhores condições de trabalho, o aumento dos salários, a urgência de solucionar os dramas da saúde, da educação, da habitação. Visitaram-se fábricas, escolas, lares de idosos, mercados, feiras. Ouviram-se sindicatos, deram-se abraços, fizeram-se promessas. Debateram-se ideias e ideais.
Mas quando a noite avançou e se revelou a precaridade de um bloco central, a emergência dos extremismos, a fragilidade de uma esquerda que se sente dona da democracia conseguida há 50 anos… quando a noite passou, tocaram as sinetas dos alarmes, a necessidade das convergências e soltaram-se fantasmas e palavras de ordem que pertencem ao passado.
E agora assistimos a ameaças de inviabilizar orçamentos e somos sujeitos à perceção de que serão necessárias novas eleições. Porque o resultado não foi o que queremos para o Portugal democrata, evoluído, europeu, consciente, vamos lá juntar forças para derrubar o resultado de uma votação livre e com maior participação dos últimos anos.
E agora assistimos a ameaças de inviabilizar orçamentos e somos sujeitos à perceção de que serão necessárias novas eleições. Porque o resultado não foi o que queremos para o Portugal democrata, evoluído, europeu, consciente, vamos lá juntar forças para derrubar o resultado de uma votação livre e com maior participação dos últimos anos.
Foi preciso fazer muito barulho para ganhar votos e assegurar a vida partidária; agora que esse passo está dado e o resultado não é o esperado, vamos reivindicar lugares e posições. Não podemos levar a sério quem faz da política esta luta de galos por poleiros. Por um se ganha, por um se perde, foi sempre o que ouvi em criança, quando amuava a jogar com os primos.
Agora é tempo de permitir que quem ganhou, governe. Não queremos que se gaste mais dinheiro com eleições, dinheiro que tanta falta faz, para tanto que não está feito. Não queremos mais demagogias, ataques pessoais, tempos de antena, slogans repetidos à exaustão, cartazes em todas as esquinas com promessas impossíveis de cumprir e denúncias mútuas. Já basta saber os milhões que os partidos políticos vão ter ao seu dispor para cumprirem o que prometeram.
E não podemos esquecer a lição que nos foi dada com o resultado das eleições no Algarve. Acredito que a maioria dos portugueses não tivesse consciência da dimensão do incumprimento das promessas feitas. Mas agora, ninguém poderá negar o sinal evidente de que o povo não se engana eternamente.
Queremos estabilidade, gente séria a governar com o dinheiro da Europa e que Portugal produza riqueza. Queremos que resolvam o drama da educação e da saúde de forma determinada e transparente. Queremos que a segurança e a justiça não sejam uma incerteza e uma desilusão e que os pobres e os migrantes ocupem espaço nas mesas da governação.
A estabilidade política que permite a ação governativa legitimada pelas eleições é um direito de todos, de um modo particular da maioria dos portugueses que paga demasiados impostos, vive pior e não emigrou. Para não falar dos hospitais e dos seguros de saúde, das escolas e do ensino privado, da justiça e da injustiça, da pobreza que escala e da violência que espreita.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.