No passado dia 12 de Março, o Papa Francisco esteve presente na Igreja do Gesù, igreja mãe da Companhia de Jesus, em Roma, na Missa por ocasião do quarto centenário da canonização dos santos Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Teresa de Ávila, Filipe Neri e Isidro Lavrador. Estiveram presentes os Superiores Gerais da Companhia de Jesus, o qual presidiu à Eucaristia, dos Carmelitas e dos Oratorianos e duas dezenas de cardeais e bispos, entre os quais o Arcebispo de Madrid (cidade da qual Santo Isidro é padroeiro) e os jesuítas Luis Ladaria (prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé), Michael Czerny (prefeito interino do Dicastério para o Desenvolvimento Humano e Integral) e Daniele Libanori (bispo auxiliar de Roma).
Voltar à graça originária
A propósito do Evangelho desse Domingo, da Transfiguração (Lc 9,28-36), o Santo Padre começou por lembrar que a vocação de cada um é, justamente, algo que é dado, imerecido, e por isso somos «uma pessoa contemplada com um dom gratuito: o dom da gratuidade do amor de Deus». Neste sentido, o caminho a percorrer deverá sempre partir da «graça originária» da vida que quer desabrochar. Será sempre este o lugar vital que pode renovar o coração, sustentar-nos em momentos de tribulação, recordar-nos da verdade daquele que foi, e é, o amor primeiro, fundante.
Recorda o Papa também que este chamamento, se é a cada um, é também com outros, em comunidade, em companhia. Por isso, aos jesuítas dizia que «somos de Jesus, e somo-lo como Companhia», que «não somos solistas à procura de audiência, mas irmãos organizados em coro», apelando assim a todos a sermos «fermento de fraternidade», cuidando a comunhão entre todos.
Não há glória sem cruz
Com clareza, Francisco recordou que o caminho do esplendor da transfiguração, a glória de Deus, é inevitavelmente através da cruz: «a tentação mundana é buscar a glória sem passar pela cruz». Para o Papa, isto pode verificar-se ao recorrer a modos de fazer e de estar já conhecidos, seguros, mas que são passos «da repetição estéril, da comodidade, do já visto», quando aquilo a que o Espírito Santo nos convida é a abrir novos caminhos, sabendo que Ele «dá paz sem nunca deixar em paz». Daí o perigo, para o Papa, de viver uma fé estacionada, adormentada pela consciência de que a vida corre bem se correr bem para o próprio.
Rezar é levar o palpitar dos acontecimentos até Deus
O Papa Francisco recordou que rezar é «uma missão activa, uma intercessão contínua», que muda o mundo, porque se «rezar é levar o palpitar dos acontecimentos até Deus para que o seu olhar se abra de par em par sobre a história», então a oração dever-nos-ia fazer imergir nesta transformação. Por isso, diz o Papa, rezar é transformar a realidade. Deste modo, o Papa deixou a pergunta a cada um sobre o que é a oração e de que modo, neste momento, estamos a levar à oração a guerra na Ucrânia.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.