Não queremos ser surdos à voz dos pobres

Assinala-se no domingo o II Dia Mundial dos Pobres. A Comissão do Apostolado Social dos Jesuítas em Portugal lança hoje, no Ponto SJ, a iniciativa "Não queremos ser surdos à voz dos pobres". O P. Frederico Lemos, sj explica em que consiste.

Assinala-se no domingo o II Dia Mundial dos Pobres. A Comissão do Apostolado Social dos Jesuítas em Portugal lança hoje, no Ponto SJ, a iniciativa "Não queremos ser surdos à voz dos pobres". O P. Frederico Lemos, sj explica em que consiste.

Ouve-se e lê-se frequentemente que temos de dar voz aos pobres ou, ainda, que desejamos ser a voz dos pobres. Mas na verdade todas as pessoas, independentemente do seu contexto ou da situação em que se encontrem, têm voz. A questão é não deixarmos que os nossos ouvidos adormeçam, é não nos deixarmos anestesiar por uma surdez seletiva. A este respeito, o tema escolhido pelo Papa Francisco para o II Dia Mundial dos Pobres é especialmente significativo: Este pobre clamou e o Senhor o escuta.

Na próxima semana, o Ponto SJ dará espaço a uma iniciativa da Comissão do Apostolado Social dos Jesuítas em Portugal (CAS). Mais do que refletir abstratamente sobre a problemática da pobreza, pretendemos que esta iniciativa nos ajude a olhar e ouvir pessoas e situações concretas. Mais do que falar sobre a pobreza gostaríamos, de um modo simples, de gerar uma maior capacidade de proximidade e acolhimento, uma maior sensibilidade ao clamor dos que sofrem a injustiça. Desejamos ainda que se possa abrir em nós um maior desejo de nos comprometermos com a participação em processos que possam ir libertando o mundo do egoísmo, da soberba, da avidez e da injustiça que enredam tantos inocentes com dramáticas consequências sociais.

Na luta contra a pobreza, todos os meios podem ser insuficientes se, como teme o Papa, «tantas iniciativas, apesar de meritórias e necessárias, visarem mais comprazer-nos a nós mesmos do que acolher verdadeiramente o clamor do pobre». Por isso mesmo serão publicados textos, acompanhados de vídeos, que procurarão ajudar-nos a escutar o clamor de quem vive situações como a toxicodependência, o estar preso, a doença, a precariedade e o isolamento na terceira idade. Como escreveu o Papa Francisco no ano passado, sabemos que a mão estendida dos pobres para nós «é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma».

Para abrir esta iniciativa contaremos com a participação especial do Senhor D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, a quem muito agradecemos. Para concluir esta ação contamos com um artigo de Elena Lasida, do Instituto Católico de Paris, a quem também não podemos deixar de agradecer. Obrigado ainda a todas as pessoas que escreveram os textos e gravaram os vídeos que nos vão acompanhar ao longo da semana.

Esta iniciativa da CAS, mais do que a uma mera reflexão pretende convidar-nos a uma mudança no nosso modo de proceder, para que a pobreza não seja um tema mas uma interpelação que nos leva ao encontro de todos os que, no seu sofrimento, precisam de ser escutados.

 

Todos os textos desta iniciativa podem ir sendo encontrados neste link.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.