Esquerda, direita. Esquerda, direita. A caminhar. Acelera e abranda. Tropeça, às vezes. Começa com frio, termina com calor. Das costas escorrem pequeninas gotas de suor. Sentem-se a descer lentamente… Ali à frente, está uma boa pedra para sentar. Recupera-se, mas recomeça-se. Os olhos postos onde há mundo. Seguimos em frente. Olhamos para trás. Enfim, nascemos para caminhar. Nascemos todos para sermos homens e mulheres de caminho.
Não me lembro do dia em que comecei a andar. Diz a minha mãe que tinha pouco mais de um ano. Não me recordo, mas acredito que tenha sido transformador. Como não? Se pertencemos aos caminhos! A beleza da vida é este caminhar que nos celebra e que nos demora.
Não pertencemos aos lugares. Pertencemos aos caminhos. É por isso que caminhar nos faz sentir tão vivos e o mistério do caminho e a beleza de caminhar está Naquele que faz caminho e que se oferece inteiramente a partir dele. Em Jesus, o caminho transforma- se por completo. Já não é só caminho para chegar a algum lado, é já caminho que nos salva. “Eu sou o caminho”.
Não desejemos os lugares, desejemos antes os caminhos. Não percamos a nossa intrínseca condição errante que nos faz ter esta sede constante de nos pormos ao caminho. Como peregrinos que somos nesta vida tantas vezes indecifrável, sintamo-nos entregues ao caminho, confiantes de que a caminhar nunca estamos sós e que o ritmo é o coração que o impõe. Queiramos corações livres para caminhar e para abraçar ora a fragilidade, ora o vigor, ora o ânimo, ora o desânimo, ora a alegria, ora a tristeza. A eternidade está em todos estes instantes do caminho.
Caros caminheiros, viajantes, peregrinos, andantes. Sejamos tudo isto! Desejemos corações livres para caminhar, corações livres para viver profundamente, inteiramente.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.