1. Como mel para a boca
Funny fact! Os Beatles participavam numa emissão de rádio numa segunda-feira de Pentecostes – que os ingleses chamam Whit Monday. Depois de From Us to You, os quatro músicos começam a entoar, espontaneamente, um Whit Monday to You, para surpresa dos ouvintes.
Uma bela maneira de começar o dia…
https://www.youtube.com/watch?v=_jtmWyuMFrA
2. Um texto bíblico
Quando chegou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam. Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem. Ora, residiam em Jerusalém judeus piedosos provenientes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou estupefacta, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam:
– Mas esses que estão a falar não são todos galileus? Que se passa, então, para que cada um de nós os oiça falar na nossa língua materna? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus!
Estavam todos assombrados e, sem saber o que pensar, diziam uns aos outros:
– Que significa isto?
Outros, por sua vez, diziam, troçando:
– Estão cheios de vinho doce.
Atos dos Apóstolos 2,1-13
3. O esclarecimento
Sabia que o Pentecostes era, na origem, uma celebração agrícola? Depois tornou-se uma festa religiosa judaica, no contexto da qual teve lugar um dos momentos fundadores do cristianismo.
Para os curiosos que querem saber um pouco mais sobre o triplo significado do Pentecostes:
1. Sete semanas depois da Páscoa (pode fazer as contas!), o povo de Israel celebrava a “festa das semanas”, que marcava o fim da colheita do trigo. Depois de terem penado sob o calor, chegava o tempo da consolação e da alegria – como na altura das vindimas! É seguramente por isso que a multidão suspeitou que os Apóstolos estavam embriagados, “cheios de vinho doce”, como diz o texto…
2. Mais tarde, atribuiu-se um significado religioso à festa. O povo eleito transformou este dia no dia da comemoração do dom por excelência, muito além dos frutos da terra: o dom da Lei a Moisés no monte Sinai. Quando compreendemos a importância da Lei no judaísmo, podemos bem imaginar a importância deste dia…
3. É precisamente neste dia de festa que os discípulos reunidos em Jerusalém receberam o Espírito Santo. A festa do Pentecostes foi então enriquecida com um novo significado: além dos dons da terra e da Lei, é a festa do dom do Espírito!
A fé do povo eleito do antigo Testamento tem o seu fundamento na Lei escrita por Moisés em tábuas de pedra e permanentemente atualizada na vida dos crentes – a Nova Aliança tem o seu fundamento na lei interior, escrita no coração dos fiéis pelo Espírito Santo, o Sopro divino.
O que é que há então a reter disto tudo?
Os primeiros cristãos, em Jerusalém, era praticamente todos judeus e estavam, por isso, profundamente impregnados pelo espírito das suas festas religiosas. Estavam também interessados em sublinhar a continuidade simbólica, ao mesmo que a novidade de Cristo. Esta é a razão pela qual, para ler corretamente o Novo Testamento, é absolutamente essencial conhecer bem o Antigo. Porque o Antigo Testamento oferece-nos não só o contexto no qual o Novo Testamento está enraizado, mas também a linguagem, isto é, as palavras, as imagens e os símbolos que os primeiros cristãos utilizaram para contar a história de Jesus Cristo.
4. E ainda uma palavra final…
A possibilidade de um ser humano ser subitamente iluminado por um sentimento quase divino atravessa a história da filosofia e da literatura. Não se fala de inspiração por acaso… É, de fato, como se o dom do Espírito descesse sobre os seres humanos em determinados momentos. O genial Goethe, citado por Stefan Zweig, evoca as palavras inspiradas de certos seres humanos na hora da morte:
“No fim da vida, as ideias até aqui informes aparecem claramente ao espírito, erguem-se sobre os cumes do passado como génios brilhantes e alegres.”
Citado em Stefan Zweig, Marie-Antoinette (1932)
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
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