1. Como mel para a boca
Uns homens barbudos cantam um hino a Maria. São monges ortodoxos de Valaam, na Rússia. O cântico chama-se Agni Parthene e foi adaptado ao francês com o título “Alegra-te, esposa nunca desposada”, que é o refrão que os monges repetem na canção.
Atenção: O canto começa a partir de 1 minuto e 27 segundos.
2. O texto Bíblico
Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.
Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.»
Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela. (Lc 1, 26-38)
3. O esclarecimento
Maria é a mulher mais citada no Corão: 34 vezes. Aliás, é mesmo a única mulher que é citada pelo nome.
Por exemplo, a passagem da Anunciação é citada no Corão na Sura 45. O Corão refere também a conceção virginal de Maria graças ao Espírito Santo, afirmando mesmo: “Oh Maria! Deus escolheu-te, em verdade; purificou-te; preferiu-te a todas as mulheres do Universo” (3,42)
A passagem da Anunciação é citada pelo menos duas vezes no Corão. No entanto, o verso crucial é sempre omitido: “O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus.” (Lc 1, 35)
Há, portanto, uma diferença fundamental entre a Bíblia e o Corão sobre a figura de Maria.
Essa diferença tem que ver com a pessoa de Jesus, seu filho. Para o Corão, “o filho de Maria” é um profeta, mas não é o Filho de Deus: “Aqueles que dizem: ‘Deus é, verdadeiramente, o Messias, filho de Maria’ são ímpios” (5, 17). “Sim, Jesus como é como Adão, em relação a Deus: Deus criou-o da terra e depois disse-lhe: “existe”, e ele existiu.” (3, 59)
Nos Evangelhos, pelo contrário, Jesus é Deus incarnado na humanidade.
Esta grande diferença muda completamente o lugar de Maria. Para o Islão, ela é apenas um modelo para os crentes. Para os cristãos, ela também é a mãe de Deus.
Este lugar particular de Maria altera definitivamente o lugar das mulheres na história bíblica. Essa alteração tem que ver com a divindade de Jesus, que não é reconhecida pelo Islão.
Com Eva, o género feminino poderia ser acusado de ser o principal responsável pela queda original. Com Maria, como Mãe de Deus, o lugar das mulheres não só é restaurado, como é exaltado: uma mulher leva o Todo-Poderoso no seu ventre.
4. Uma palavra final
Paul Claudel exalta assim a Virgem Maria, de forma maravilhosa, em “A Virgem ao meio-dia” (Poemas de Guerra, N.R.F., 1914-1915):
“É meio-dia. Vejo a igreja aberta. Devo entrar.
Mãe de Jesus Cristo, não venho rezar.
Não tenho nada a oferecer, nada a pedir.
Venho simplesmente, Mãe, para vos contemplar.
(…)
Pois vós sois bela, pois sois Imaculada.
A mulher por quem a Graça nos foi dada,
Saída de Deus, pela manhã, no original esplendor,
A criatura, no princípio e no fim da vida honrada.”
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
Ajude os Frades Dominicanos da École Biblique et Archéologique Française de Jerusalém a difundir a sabedoria e a beleza que nasceram das Escrituras. Obrigado pela sua generosidade e por acreditar no projeto!
Um projeto cultural, destinado ao grande público, da responsabilidade dos Frades Dominicanos da École Biblique et Archéologique Française de Jerusalém.
Sob a direção dos Frades Dominicanos de Jerusalém, mais de 300 investigadores do mundo inteiro estão a desenvolver um trabalho de tradução e anotação das Escrituras, que será oferecido numa plataforma digital que recolherá mais de 3000 anos de tradições judaico-cristãs. Para saber mais, clicar aqui.
PRIXM é o primeiro projecto, destinado ao grande público, fruto deste trabalho. A iniciativa quer estimular a redescoberta dos textos bíblicos e dar a conhecer tudo o que de bom e belo a Bíblia inspirou ao longo dos séculos e até aos nossos dias.