Manifesto “Por um país sonhado para todos”

Texto que encerra a iniciativa do Ponto de Cruz destina-se a inspirar os cidadãos neste tempo de eleições, e foi construído com o contributo dos leitores do Ponto SJ. Será também enviado hoje para os partidos com assento parlamentar.

Texto que encerra a iniciativa do Ponto de Cruz destina-se a inspirar os cidadãos neste tempo de eleições, e foi construído com o contributo dos leitores do Ponto SJ. Será também enviado hoje para os partidos com assento parlamentar.

O Ponto SJ publica hoje o manifesto “Por um País sonhado para todos”, no qual expressa a visão de um Portugal mais justo e coeso, mobilizado, a crescer e com futuro. Este texto resulta da iniciativa Ponto de Cruz que, ao longo das últimas sete semanas, tem vindo a refletir e a debater os principais desafios do país à luz da Doutrina Social da Igreja. O texto que se destina a inspirar os cidadãos neste tempo de eleições, e que foi construído com o contributo dos leitores do Ponto SJ, será também enviado para os partidos com assento parlamentar, para que possam ficar a conhecer os anseios desta comunidade digital.

 

MANIFESTO
POR UM PAÍS SONHADO PARA TODOS

Se é pelo sonho que o Homem avança, neste tempo de eleições queremos sonhar um País para todos. Um Portugal digno e coeso, mobilizado, a crescer, com memória e com futuro.

Inspirados na Doutrina Social da Igreja, queremos construir um Portugal que garanta a dignidade a todas as pessoas; que desenvolva políticas orientadas para o bem comum; que pratique a subsidiariedade e a solidariedade de forma próxima e responsável.

Queremos habitar um país justo, que vê nas desigualdades sociais uma ferida à qual não pode ficar indiferente e que providencia, com responsabilidade e coragem, os meios necessários para as corrigir. Um país que combate todas as injustiças, como aquelas que são criadas pela falta de acesso à saúde, à educação, à habitação ou à justiça, e que não quer viver a duas velocidades, com um litoral povoado e em desenvolvimento e um interior desertificado e envelhecido. Um país em que os setores público, privado e social sejam implicados e trabalhem concertadamente em prol do bem comum.

Aspiramos a um país empenhado em quebrar os ciclos de pobreza e exclusão, em garantir que condições difíceis à nascença não são uma sentença para toda a vida; em que a dignidade humana é respeitada e assegurada de igual modo a todas as pessoas, às que cá nasceram, às que aqui escolheram viver, às que estão no início, na plenitude ou no final da sua vida.

Sonhamos com um país a desenvolver-se, a gerar mais riqueza para poder distribuir melhor, sem que isso implique sobrecarregar mais as famílias e as empresas. Um país onde o crescimento da economia gera um desenvolvimento humano integral e não compromete o futuro das gerações e o equilíbrio da Casa Comum.

Projetamos um país onde se formem cidadãos responsáveis e empenhados, numa missão que começa na família e se estende a todas as estruturas educativas. Sonhamos uma escola atenta aos desafios da digitalização, mas que não ignora a importância das humanidades e das artes, da relação pessoal no ato de ensinar, do tempo e da paciência que exige educar. Aspiramos a um sistema de ensino focado nos desafios dos alunos, que não deixe ninguém para trás, e onde escolas com autonomia e responsabilidade possam construir projetos e comunidades educativas sólidas.

Precisamos de um país que invista na cultura, enquanto possibilidade de expressão, de partilha e de diálogo, e que promova a sua independência e pluralidade, cultivando a beleza e abrindo-se à dimensão espiritual da existência humana.

Sonhamos um país onde os jovens possam crescer e formar-se para serem protagonistas do seu futuro, no seu país. Para que, empenhados na construção da sociedade, possam combater a polarização e a intolerância, e ser agentes sociais e políticos livres e responsáveis.

Num mundo global e extremado, onde a incerteza e a insegurança nos roubam a esperança, queremos ser construtores de paz e defensores da democracia. Para isso, precisamos de uma nova ética das relações internacionais, que evite que os esforços de desenvolvimento dos países mais frágeis esbarrem contra a avidez de crescimento dos mais ricos. Queremos que as religiões possam contribuir para a construção da paz e para pensar, com todos, as respostas aos desafios do nosso tempo.

Para alcançar este desígnio coletivo, precisamos de instituições fortes, de uma democracia madura e sólida, de uma justiça acessível, célere no combate à corrupção mas não politizada, de uma imprensa livre, saudável e responsável. Confiamos que os nossos políticos sejam exigentes e sérios na palavra e na ação, capazes de olhar a realidade na sua complexidade e de assumir compromissos realistas que passem por consultas e consensos alargados e medidas exequíveis.

Reconhecemos que este sonho para Portugal só é possível com o contributo de todos, nas suas diferenças, com uma sociedade civil atenta e participativa, que não se demite de dar o seu contributo e fazer ouvir a sua voz para além dos períodos eleitorais.

E porque acreditamos que Portugal pode ser este país, comprometemo-nos já hoje a trabalhar para construí-lo.

4 de março 2024

 

O Ponto de Cruz é uma iniciativa do Ponto SJ, o portal dos jesuítas em Portugal, destinada a sonhar um país para todos e que foi lançada em meados de janeiro. Nas primeiras semanas, foram revisitados os quatro principais princípios da Doutrina Social da Igreja (princípio da dignidade da pessoa humana; princípio do bem comum; princípio da subsidiariedade; princípio da solidariedade) e promovida a reflexão sobre a forma como se aplicam à realidade atual e nacional. Numa segunda fase o Ponto de Cruz passou por quatro cidades do país – Portimão, Lisboa, Braga e Coimbra -, onde debateu os temas das desigualdades sociais, da educação, da economia e da participação cívica e política dos jovens. No final, a comunidade digital do Ponto SJ foi desafiada a participar na construção deste manifesto.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.