Luzes com sombras

Chumbo da legalização da eutanásia foi o ponto de luz mais votado. Em segundo lugar, ficou o resgaste das crianças na Tailândia e em terceiro a libertação de Asia Bibi. Eunice Lourenço, jornalista da RR analisa resultados.

Chumbo da legalização da eutanásia foi o ponto de luz mais votado. Em segundo lugar, ficou o resgaste das crianças na Tailândia e em terceiro a libertação de Asia Bibi. Eunice Lourenço, jornalista da RR analisa resultados.

O ‘chumbo da eutanásia’, ou seja a rejeição da legalização da morte assistida, foi o ‘ponto e luz’ de 2018 mais votado pelos leitores do Ponto SJ. Teve 227 dos 606 votos, alcançando 37 por cento. Logo a seguir, fico o resgaste das crianças na gruta da Tailândia (180 votos, 30 por cento). Em terceiro lugar, já mais distanciado, ficou a libertação de Asia Bibi (74 votos, 12 por cento). Lisboa: um oásis da tolerância religiosa teve 71 votos (12por cento) e a eleição de Andria Safirakou como  melhor professora do mundo em 2018 teve 54 votos (9 por cento).

O resgate das crianças da gruta na Tailândia, que foi eleito como acontecimento internacional do ano em vários órgãos de comunicação social, foi, de facto, um acontecimento luminoso, daqueles que nos vêm lembrar que a esperança deve ser mesmo a última a morrer e nunca devemos desistir dos outros. Mas o chumbo da eutanásia e a libertação de Asia Bibi – e até o estudo que deu conta que Lisboa é uns “oásis” de tolerância religiosa- são pontos de luz, mas de uma luz da qual é preciso cuidar, porque ainda não venceu as trevas, nem tem a vitória garantida.

A legalização da eutanásia só não foi aprovada em Portugal porque o PCP votou contra. E foi por um triz. O projeto de lei do PS foi o que esteve mais perto de passar, com 110 votos a favor, 115 contra, e 4 abstenções.  Não fosse a decisão do PCP e todos teriam passado. Mas este é um assunto que vai voltar em breve ao debate político.

Ainda antes de uma votação diferente, há o risco de um debate não só fraturante, como fragilizante dos mais frágeis, com potencial para quebrar relações de confiança entre pais e filhos, entre doentes e médicos.

O Bloco de Esquerda prometeu, de imediato, não desistir da legalização da eutanásia. E uma nova composição do Parlamento saído das eleições já marcadas para 6 de outubro pode dar um resultado muito diferente. Para além de um eventual reforço do PS e/ou do Bloco de Esquerda nesse novo Parlamento, também é provável que mais deputados do PSD sejam favoráveis à eutanásia, já que serão eleitas feitas pelo atual líder, Rui Rio, que é um dos subscritores do manifesto pela legalização da morte assistida, que esteve na origem deste processo legislativo.

Ainda antes de uma votação diferente, há o risco de um debate não só fraturante, como fragilizante dos mais frágeis, com potencial para quebrar relações de confiança entre pais e filhos, entre doentes e médicos. “Debatam tudo, com liberdade, mas não criem feridas desnecessárias e complicadas de sarar”, apelou o Presidente da República, na sua mensagem de Ano Novo. Não estaria a referir-se em concreto a este assunto, mas não há tema a que mais se recomende ponderação, bom senso e cuidado com o outro.

Também a libertação de Asia Bibi é um ponto de luz tremeluzente.  Como recordava o texto do ponto sj, esta mulher cristã paquistanesa foi condenada à morte por blasfémia em 2009, saiu da prisão no início de novembro, quase dez anos depois de ter sido presa, e por ordem do Supremo Tribunal do Paquistão. A decisão surpreendeu um mundo que já se parece ter habituado a relatório que dão conta de cada vez mais ataques à liberdade religiosa.

Contudo, a libertação de Asia Bibi provocou ondas de protestos e de ameaças, que mostraram como a decisão do Tribunal que a libertou também a poderia levar à morte. O Canadá ofereceu-se para a receber e à sua família, mas até ao momento nada se sabe se certo e verificável sobre o seu paradeiro.

Nos antípodas da falta de liberdade religiosa do Paquistão parece estar Lisboa, segundo o estudo “Identidades religiosas na Área Metropolitana de Lisboa”, promovido pela Fundação  Francisco Manuel dos Santos. A diversidade cultural e religiosa desta área metropolitana tem-se acentuado; é aqui que, segundo o trabalho coordenado por Alfredo Teixeira, se concentra o pluralismo religioso em Portugal. Mas, neste campo da liberdade religiosa, como no campo da democracia, nunca é demais lembrar que a vitória da luz nunca é definitiva, tem de ser exercida todos os dias.

PONTO DE LUZ – Resultados Finais 

Chumbo da Eutanásia (37%, 227 Votos)
Resgate de 12 crianças numa gruta da Tailândia (30%, 180 Votos)
Libertação de Asia Bibi (12%, 74 Votos)
Lisboa: um oásis da tolerância religiosa (12%, 71 Votos)
Andria Safirakou- A melhor professora do mundo em 2018 (9%, 54 Votos)

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.