Seis anos após o lançamento da encíclica Laudato Si, as questões ambientais são uma preocupação cada vez maior no dia a dia e na atividade das obras e comunidades da Província Portuguesa da Companhia de Jesus (PPCJ), determinando opções concretas mas também iniciativas comunitárias e pastorais de reflexão e oração. Entre as maiores preocupações estão a redução do uso de plástico, do desperdício de água, a promoção da partilha de bens e também o uso de energias renováveis.
Estas são algumas das conclusões do inquérito proposto no ano passado pelo jornal digital 7 Margens e pela Família Cristã a todas as dioceses e congregações religiosas e aplicado internamente às obras e comunidades da Província Portuguesa da Companhia de Jesus. Nesta semana dedicada à quarta Preferência Apostólica Universal – Colaborar no Cuidado da Casa Comum -, o Ponto SJ recuperou e tratou os dados preenchidos por 27 comunidades e obras da Companhia ou de inspiração inaciana, com o intuito de refletir sobre o caminho percorrido e sobre o que ainda há a percorrer.
Comecemos pela reciclagem, onde as práticas parecem já estar bem enraizadas: 92% dos inquiridos separam o lixo e 74% confessam ter tomado medidas concretas para reduzir o uso de plástico. Por exemplo: eliminar a loiça descartável, as cápsulas de café, as garrafas de água ou os sacos de plástico. Mas se a separação do lixo já parece estar implementada, o aproveitamento dos materiais reciclados ainda não é uma realidade em todo o lado, nomeadamente no que diz respeito ao papel, com 50% das obras/comunidades inquiridas a afirmarem que ainda não utilizam papel reciclado.
A escassez de água é outra preocupação que perpassa as obras e comunidades inacianas, com mais de metade dos inquiridos a afirmarem que têm em implementação estratégias de redução do desperdício. As medidas são variadas, desde as mais óbvias – como avisos nos autoclismos e torneiras com temporizadores – até a outras mais exigentes, como colocar baldes na banheira para captar a água enquanto aquece para o banho ou ter uma atenção especial na altura de escolher o tipo de plantas para ter num jardim.
No que diz respeito à mobilidade, já há boas intenções a serem postas em prática em mais de metade das obras e comunidades que responderam ao inquérito, mas trocar o transporte individual pelo coletivo, ou substituí-lo por meios não poluentes, como a bicicleta, ainda está longe de ser uma realidade para todos.
No que diz respeito à mobilidade, já há boas intenções a serem postas em prática em mais de metade das obras e comunidades que responderam ao inquérito, mas trocar o transporte individual pelo coletivo, ou substituí-lo por meios não poluentes, como a bicicleta, ainda está longe de ser uma realidade para todos.
O consumo de energia elétrica através de fontes renováveis, como energia solar, térmica ou eólica acontece já em 37% das obras e comunidades que participaram neste inquérito, com destaque para os painéis solares fotovoltaicos. Mas se o tema da produção e do consumo energético é já uma preocupação evidente, outras questões relacionadas com a natureza, como por exemplo, com o bem estar animal, não parecem determinar ainda as opções de consumo dos inquiridos, com 75% a responderem não ter cuidado na escolha de produtores que não maltratem os animais. Ainda assim, noutro aspeto relacionado com o consumo há sinais de sensibilização social e ambiental, com 35% dos entrevistados a admitirem preferir comprar produtos aos agricultores locais.
Ainda dentro das obras e comunidades, o cuidado com a justiça nas relações laborais foi outro aspeto que o inquérito tentou aferir, nomeadamente através da análise dos vínculos laborais. Os resultados mostram que 87,5% dos colaboradores a tempo inteiro têm contrato de trabalho e não estão em situação de precariedade, por exemplo, a recibos verdes. Ainda dentro deste tema laboral, e sempre inspirado por pontos concretos da Laudato SI, o inquérito quis saber quantas organizações da PPCJ ou a ela ligada tinham funcionários a auferir o salário mínimo. A resposta foi 7.
há uma intuição e um desejo que perpassa todo o documento papal: o de uma vida mais simples. E este aspeto também já começa a ser trabalhado (40% admitem fazê-lo) junto dos colaboradores e beneficiários das obras e comunidades da PPCJ, seja através de oficinas ou workshops ou ações de sensibilização.
Dentro do tema da ecologia integral, o cuidado com os mais frágeis é uma prioridade, bem expressa no documento escrito pelo Papa Francisco em 2015. E as obras e comunidades da PPCJ parecem já ter interiorizado esta preocupação e desenvolvido práticas concretas para atender às necessidades dos que mais sofrem. Por exemplo: há oito obras/comunidades que têm estruturas que já foram dedicadas ao acolhimento de pessoas refugiadas; e outras três que têm propriedades/estruturas com serviço de habitação social, com renda acessível, garantindo a função social da propriedade privada prevista na Doutrina Social da Igreja. Mais de 66% dos inquiridos responderam ainda organizar campanhas ou iniciativas de recolha de alimentos produzidos em excesso para os redistribuir por membros mais desfavorecidos da comunidade.
Outras respostas do inquérito demonstram ainda que o tema da ecologia integral é também cada vez mais integrado nas atividades pastorais, seja em workshops e encontros de formação ou na produção de conteúdos (artigos, materiais) que ajudem a trabalhar e refletir sobre estas temáticas. Há também um desejo crescente de envolver outras organizações da sociedade civil nesta dinâmica e, embora com muito menor expressão, de associação a crentes de outras confissões religiosas.
Por último, há uma intuição e um desejo que perpassa todo o documento papal: o de uma vida mais simples. E este aspeto também já começa a ser trabalhado (40% admitem fazê-lo) junto dos colaboradores e beneficiários das obras e comunidades da PPCJ, seja através de oficinas ou workshops ou ações de sensibilização.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.