Laudate Deum – a urgência do Papa Francisco

Laudate Deum é a exortação que atualiza encíclica Laudato Si e foi publicada hoje, dia de S. Francisco de Assis. Em Portugal, a ecologia é cada vez mais uma prioridade. Província conta já com delegado para ecologia e cuidado da casa comum.

Laudate Deum é a exortação que atualiza encíclica Laudato Si e foi publicada hoje, dia de S. Francisco de Assis. Em Portugal, a ecologia é cada vez mais uma prioridade. Província conta já com delegado para ecologia e cuidado da casa comum.

O Dia de São Francisco de Assis, que se assinala hoje, foi o dia escolhido pelo Papa Francisco para divulgar a exortação Laudate Deum, uma espécie de segunda parte da encíclica Laudato Si dedicada ao tema da ecologia. O texto acaba de ser divulgado pelo Vaticano e pode ser consultado aqui. Nele o Papa fala da urgência de agir e alerta para o ponto de rutura na crise climática, apelando a todos para que façam da próxima cimeira das Nações Unidas (COP28 no Dubai no final de novembro) um encontro de decisões históricas.
Na Província Portuguesa da Companhia de Jesus, as questões em torno da sustentabilidade são também cada vez mais uma prioridade, e a Província conta agora com um delegado para a ecologia e o cuidado da casa comum: o P. Frederico Lemos.

O cuidado com a Casa Comum não é possível sem termos consciência do impacto que tem o uso daquilo que passa pelas nossas mãos. Impacto, tanto no local de onde provém a matéria prima, como onde vai parar depois de o usarmos. Numa sociedade globalizada e complexa como a nossa, esta consciência é mais difícil de ter do que quando os bens utilizados eram maioritariamente de origem local”, afirma o novo delegado da Província. E acrescenta: “Esta tomada de consciência pode ser algo profundamente espiritual. Na contemplação para alcançar amor, dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, somos desafiados a «considerar como Deus trabalha e opera por mim em todas as coisas criadas sobre a face da terra, isto é, procede à semelhança de quem trabalhasse. Por exemplo, nos céus, nos elementos, nas plantas, nos frutos, nos animais, etc., dando-lhes ser, conservação, vegetação e sensação, etc. Depois, refletir em mim mesmo, considerando, com muita razão e justiça, o que eu devo, de minha parte, oferecer e dar a sua divina majestade.» (EE 236) Portanto, tomar consciência é um passo essencial, mas ainda insuficiente para cuidar da Casa Comum. Depois desse passo há-que tomar decisões para, com muita razão e justiça, agirmos!”

Tomar consciência é um passo essencial, mas insuficiente para cuidar da Casa Comum. Depois desse passo há-que tomar decisões para, com muita razão e justiça, agirmos! – P. Frederico Lemos.

As preocupações ambientais e a necessidade de fazer mais para alterar estilos de vida e de trabalho já tinha sido expressa há dois anos no inquérito que foi feito às Obras e comunidades dos jesuítas. Nesta consulta proposta pelo jornal digital 7 Margens e pela revista Família Cristã a todas as dioceses e congregações religiosas e aplicado internamente às obras e comunidades da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, surgiram como maiores preocupações a redução do uso de plástico, do desperdício de água, a promoção da partilha de bens e também o uso de energias renováveis.

Os dados preenchidos em 2021 por 27 comunidades e obras da Companhia ou de inspiração inaciana mostravam já algumas práticas bem enraizadas: 92% dos inquiridos separavam o lixo e 74% confessavam ter tomado medidas concretas para reduzir o plástico. Por exemplo: eliminar a loiça descartável, as cápsulas de café, as garrafas de água ou os sacos de plástico. Mas o aproveitamento dos materiais reciclados ainda não era uma realidade em todo o lado, nomeadamente no que diz respeito ao papel, com 50% das obras/comunidades a afirmarem que ainda não utilizavam papel reciclado.

A escassez de água era outra preocupação que perpassava as obras e comunidades inacianas, com mais de metade dos inquiridos a afirmarem que têm em implementação estratégias de redução do desperdício. As medidas são variadas, desde as mais óbvias – como avisos nos autoclismos e torneiras com temporizadores – até a outras mais exigentes, como colocar baldes na banheira para captar a água enquanto aquece para o banho.

No que diz respeito à mobilidade, já há boas intenções a serem postas em prática em mais de metade das obras e comunidades que responderam ao inquérito, mas trocar o transporte individual pelo coletivo, ou substituí-lo por meios não poluentes, como a bicicleta, ainda está longe de ser uma realidade para todos. Outras questões relativas à sustentabilidade foram colocadas por este inquérito, cujas principais conclusões podem ser lidas aqui.

O tema da ecologia e da sustentabilidade está entre as prioridades da Companhia de Jesus, não só em Portugal mas em todo o mundo, constando como uma das quatro Preferências Apostólicas Universais (PAU) – uma espécie de linhas pastorais para toda a Companhia para a década 2019-2029. Colaborar no Cuidado da Casa Comum é a quarta PAU e uma orientação para todos os jesuítas e leigos ligados à Companhia e uma área onde  ainda muito caminho a percorrer. Na entrevista recente que deu ao Ponto SJ, o Superior Geral dos Jesuítas, P. Arturo Sosa, admitiu que no balanço que foi feito do cumprimento das PAU na Congregação de Procuradores, em maio, ficou claro que é preciso trabalhar mais nesta área, e “ir mais fundo. “Há um mea culpa coletivo em relação à quarta preferência. Temos feito e organizado livros, cursos, nas universidades… Mas a nossa vida segue igual. Ou seja, não mudamos a nossa maneira de utilizar a energia, a nossa maneira de viver, de nos transportarmos… Estamos iguais à sociedade, que vê o tema mas acaba por não tomar as medidas transformadoras”, afirmou o P. Geral.

Para ler a exortação em português clique aqui.

Para ver o vídeo de apresentação clique aqui.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.