Tem entre mãos um álbum fotográfico de inícios, perdas e recomeços. Comovente e inspirador, ao mesmo tempo. Aqui se faz memória ilustrada e comentada de tantos rostos, lugares concretos e momentos particulares que foram tecendo a história mais recente da Companhia de Jesus em Portugal. Sem dúvida, uma história aberta, feita de itinerância. Ilustrar o seu legado educativo e científico é o propósito do autor, Francisco Malta Romeiras, investigador da ciência em Portugal, nomeadamente nas instituições e práticas educativas dos jesuítas portugueses. Ciência, Prestígio e Devoção. Os Jesuítas e a Ciência em Portugal (Séculos XIX e XX), de 2015, é um dos frutos maduros da sua dedicação a este campo de estudo.
Aqui se faz memória ilustrada e comentada de tantos rostos, lugares concretos e momentos particulares que foram tecendo a história mais recente da Companhia de Jesus em Portugal.
Recordando à Companhia a sua própria história, gesto de simpatia a que ficamos sinceramente gratos, e partilhando este álbum de família com um público alargado, o autor quis associar-se à comemoração dos 160 anos da restauração da Companhia de Jesus em Portugal, depois de ter sido expulsa do país em 1759 e suprimida como ordem religiosa em 1773, desde a fundação do Colégio de Campolide, em 1858, até aos nossos dias. Apesar da restauração da Companhia ter sido oficialmente proclamada pelo Papa Pio VII em 1814, a ordem só foi efectivamente restaurada em Portugal mais de quarenta anos depois, em 1858. Num período em que as motivações para a expulsão dos jesuítas e os feitos do Marquês de Pombal eram recuperados na imprensa e nos debates parlamentares, mostra-se como a Companhia de Jesus procurou, em primeiro lugar, rebater as acusações de obscurantismo, promovendo a educação e a prática das ciências, concretamente através dos colégios de Campolide (1858–1910) e de São Fiel (1863–1910). A vontade de recomeçar é evidenciada com a fundação de novos colégios no exílio, depois de 1910, período durante o qual se manteve a publicação da revista Brotéria (1902). Depois do regresso a Portugal em 1932, fundaram-se novos colégios em Santo Tirso (1932), Lisboa (1948) e Cernache (1955), e pôs-se grande empenho na criação de uma Faculdade de Filosofia, que viria a acontecer em Braga, em 1957.
De começo em começo, adaptando-se às particularidades dos tempos e dos lugares, com um misto de desprendimento para deixar e de coragem para recomeçar, virtudes que, hoje, nos tocam e desinstalam, os jesuítas portugueses foram escrevendo novos capítulos de uma história mais antiga, começada em meados no século XVI, de dedicação ao ensino religioso, humanístico, filosófico, artístico e científico. Contrariando a perda da memória e distorções que tendem a tornar-se lugares comuns, estas são páginas ilustradas de uma história que podemos folhear e da qual continuar a tirar proveito.
As feridas que se expõem não geram ressentimento ou queixume. Há tempo para receber e há tempo para deixar, com a mesma liberdade. Geram, sim, admiração comovida e maior desejo de avançar.
Faz-nos bem voltar aqui. Digo-o enquanto jesuíta e como responsável actual pela Companhia de Jesus em Portugal. As feridas que se expõem não geram ressentimento ou queixume. Há tempo para receber e há tempo para deixar, com a mesma liberdade. Geram, sim, admiração comovida e maior desejo de avançar. Quanto desprendimento para deixar encontramos nestes companheiros que nos precederam. Quanta resiliência e coragem para recomeçar, quase sempre a partir do zero, do ponto de vista material, mas, sobretudo, a partir da liberdade e da criatividade que nascem do Evangelho e do vasto património imaterial adquirido com a experiência, muito concretamente no campo da educação e do ensino. No momento das expulsões, este tesouro espiritual não carregou a pouca bagagem que os jesuítas puderam levar consigo, mas foi levado na mente e no coração, apto para fazer iniciar e sustentar outros processos, noutros lugares. Nestas páginas, vemos, pois, derrocadas que foram estaleiro para novas primeiras pedras. Por isso, faz-nos bem exercitar a memória. Por ela, o nosso presente dá lugar àquela promessa que não cessa de nos chegar do passado e nos compromete com o futuro. Na verdade, é capaz de esperança quem for capaz de memória, já que a esperança é a renovação de uma promessa que não cessa de prometer. É a memória curada e grata que gera esperança e desejo de futuro.His
Como no passado, o tempo que vivemos traz enormes desafios à nossa missão educativa, desde o fim dos contactos de associação com escolas privadas, decidido abrupta e unilateralmente pelo Estado, deixando-as profundamente feridas, até ao impacto das mudanças antropológicas e da inteligência artificial no ensino, passando pela crise do modelo tradicional de escola. São desafios que tocam directamente o propósito da educação jesuítica, tanto de promover a competência científica (litterae), como de favorecer a transformação humana e espiritual dos educandos (virtus). Exigem atenção, discernimento, coragem, decisão. Para isso, inspirados e encorajados por aqueles que nos precederam, cabe-nos aceitar deixar o que seja preciso deixar, como condição para alcançar o que precisamos de alcançar. Sempre para a maior glória de Deus e o bem de todos.
Os Jesuítas em Portugal depois de Pombal – História ilustrada
Autor: Francisco Malta Romeiras Edição: Lucerna
Comprar o Livro: aqui
Lançamento: dia 30 de Outubro – 18h30 – Igreja da Encarnação – Sala da Irmandade, Lisboa
(Mapa Google) – Metro Baixa – Chiado (linha azul)
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A apresentação do livro estará a cargo do P. António Júlio Trigueiros, sj – Diretor da Revista Brotéria
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.