1. Como mel para a boca
Herodes foi um grande construtor. Este vídeo da maquete de Jerusalém na sua época, produzido pelo Museu de Israel, dá uma ideia do esplendor do seu palácio.
2. Um texto bíblico
Jesus tinha nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes (…) Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e pediu-lhes informações exactas sobre a data em que a estrela lhes tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes:
– Ide e informai-vos cuidadosamente acerca do menino; e, depois de o encontrardes, vinde comunicar-mo para eu ir também prestar-lhe homenagem.
Depois de ter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos para não voltarem junto de Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho. Depois de partirem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe:
– Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar. (…)
Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo, conforme o tempo que, diligentemente, tinha inquirido dos magos. Cumpriu-se, então, o que o profeta Jeremias dissera:
Ouviu-se uma voz em Ramá,
uma lamentação e um grande pranto:
É Raquel que chora os seus filhos
e não quer ser consolada,
porque já não existem.
Evangelho segundo São Mateus 2,1-18
3. O esclarecimento
Herodes é um rei que dispensa apresentações: Mateus nem esclarece quem ele é. É suposto o leitor conhecê-lo e ter dele uma ideia suficientemente negativa, à imagem dos textos antigos.
A principal fonte não-bíblica, que permite esboçar uma biografia de Herodes o Grande, é do historiador judeu Flávio Josefo (37 – 100 d. C.). A sua obra, Antiguidades Judaicas, permite datar com razoável precisão o reinado de Herodes entre os anos 40 e 4 a. C..
Jesus teria, então, nascido à volta de 6 anos antes da data tradicionalmente indicada para o seu nascimento e que serve de referência para o calendário ocidental. É elegante poder dizer: Jesus nasceu no ano 6 antes dele próprio!
Desta fonte podemos reter três traços característicos do reinado de Herodes, o Grande:
- Herodes é um político hábil. No complexo mundo do império romano no Oriente, ele sabe cultivar amizades que lhe permitem não só manter-se no trono, mas também expandir o seu reino. O reino de Herodes é provavelmente o maior que Israel conheceu.
- Herodes é um construtor prodigioso. O visitante moderno pode ainda hoje aperceber-se disso. Para além de um conjunto de fortalezas (Maquero, Jericó, Hircânia, Herodium…), Herodes construiu o porto de Cesareia. A sua obra prima, o templo de Jerusalém, é uma das maiores construções da antiguidade. Foi destruído.
- Herodes aparece também como um homem cruel. Embora o massacre das crianças relatado pela Bíblia não seja contado por Flávio Josefo, o acontecimento corresponde bem à sua personalidade. Herodes mandou matar pelo menos três dos seus filhos. Ordenou vários massacres, entre os quais o massacre de um grande número de pessoas importantes, no dia da sua morte, para… se assegurar de que o país haveria de chorar no dia do seu desaparecimento.
Em baixo, os soldados de Herodes assassinam os recém-nascidos, enquanto Cristo tem tempo para fugir com os seus pais. Em cima, Cristo acolhendo os Santos Inocentes.
4. E ainda uma palavra final…
Na contracapa do livro da sua peça de teatro Massacre dos inocentes, Fabrice Hadjadj retoma esta interrogação profunda de Hannah Arendt:
«Ó meu Deus, como,
Como é possível,
Como é possível que, destes pequeninos que nem sequer sabem falar,
O massacre seja o vosso primeiro testemunho,
E que assim o primeiro testemunho
Seja ao mesmo tempo a primeira objecção?»
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
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