«O problema é olharmos para o idoso como alguém que já foi, e não como alguém que ainda é.» Esta frase de José Eduardo Pinto da Costa deve alertar-nos para a riqueza, muitas vezes escondida, que a nossa sociedade insiste em ignorar.
Na sociedade atual, o envelhecimento é frequentemente visto como uma inevitabilidade acompanhada de rótulos. Aos 65 anos, a pessoa não só atinge um marco cronológico, como também se vê inserida numa categoria social que carrega perceções discriminatórias profundamente enraizadas. Este fenómeno, conhecido como idadismo, manifesta-se como um preconceito estrutural e simbólico que tem impacto nas pessoas idosas de maneira abrangente, afetando as suas relações interpessoais e o modo como são tratadas pelas instituições e pela sociedade.
Além de influenciar o olhar da sociedade sobre os idosos, este preconceito afeta profundamente a forma como os próprios idosos percebem a sua identidade e o seu valor. No plano intrapessoal, os estereótipos negativos associados ao envelhecimento agravam o isolamento social e dificultam a participação ativa na comunidade. A interiorização dessas perceções preconceituosas pode levar a uma desvalorização pessoal, com os idosos a exprimirem-se de forma autodepreciativa. Este ciclo de interiorização não só limita a autoestima, como também cria barreiras para que os idosos possam contrariar a visão estereotipada que a sociedade projeta sobre eles. Muitos acabam por se afastar gradualmente das esferas sociais, dificultando ainda mais a sua integração e reforçando as ideias pré-concebidas sobre a velhice.
Este ciclo de exclusão emocional e psicológica é sustentado por símbolos do quotidiano que, embora aparentemente inofensivos, reforçam estereótipos de fragilidade e dependência. A figura curvada com uma bengala ou um andarilho sugere, ao mesmo tempo que procura oferecer proteção, que todas as pessoas idosas são incapazes ou frágeis. Outros símbolos como uma cadeira de baloiço, as árvores desfolhadas ou folhas a cair evocam a ideia de inatividade, uma fase de espera irreversível ou o ciclo de vida, mas que, na prática, podem transmitir a ideia de um fim iminente. É usual também encontrar, inclusive em ilustrações infantis, representações visuais de idosos com óculos de aros grossos e sentados de forma passiva. Estes estereótipos ignoram a realidade diversificada da velhice.
Na realidade, há idosos que permanecem ativos no mercado de trabalho, em atividades desportivas, no voluntariado ou no ensino (seja na figura de docente ou aluno). Além disso, muitos destacam-se em áreas como a inovação, o empreendedorismo, as artes e movimentos políticos, desempenhando papéis de grande relevância social. Estes exemplos mostram que o envelhecimento não é um fim, mas uma oportunidade para redescobrir e criar.
É importante que, no acompanhamento dos alunos, em qualquer fase da sua escolaridade, se contrua uma visão mais inspiradora, que não reforce a representação estereotipada do idoso com uma identidade passiva. Esta construção é possível. Basta que, quando um avô vai buscar uma criança à escola, se encontrem formas de transmitir a mensagem de que o faz porque tem essa oportunidade no âmbito do seu papel de cuidador ativo, e não porque simplesmente não tem nada para fazer. Se a escola quer proporcionar momentos de informação e esclarecimento acerca de percursos profissionais, pode fazê-lo também convocando quem teve mais anos de experiência profissional e de vida. Os encontros intergeracionais, organizados como projetos colaborativos de turma, podem transformar-se em valiosas oportunidades de aprendizagem mútua, evitando que sejam planeados exclusivamente pelos mais jovens e limitando os idosos ao papel passivo de apenas observar e contemplar.
Todas aquelas mensagens simbólicas redutoras, como a bengala e os demais exemplos, são apenas a ponta do iceberg de uma questão muito mais complexa: a marginalização das pessoas idosas e a desvalorização do seu papel social. Os estereótipos de inutilidade e incapacidade também permeiam as relações interpessoais. Muitos familiares e cuidadores, mesmo sem más intenções, começam a ver os idosos como um fardo ou como incapazes de tomar decisões importantes. Esta perceção contribui para práticas abusivas, negligência e até maus-tratos, que, em certos casos, são normalizados pelo preconceito social.
Cada idoso é único. E, enquanto alguns podem enfrentar desafios de saúde ou de mobilidade, outros estarão a viver fases de grande realização pessoal e profissional. Reconhecer esta diversidade e evitar generalizações é essencial para transformar a forma como o envelhecimento é percebido.
Cada idoso é único. E, enquanto alguns podem enfrentar desafios de saúde ou de mobilidade, outros estarão a viver fases de grande realização pessoal e profissional. Reconhecer esta diversidade e evitar generalizações é essencial para transformar a forma como o envelhecimento é percebido.
Superar o idadismo exige uma abordagem ampla e integrada que desafie os preconceitos sociais e valorize a experiência e a sabedoria acumuladas pelos mais velhos. Representações visuais e narrativas que mostrem a vitalidade e o potencial dos idosos são cruciais para mudar a forma como a sociedade os vê.
Combater o idadismo requer mudanças não apenas nas atitudes individuais, mas também nos sistemas que legitimam essas perceções negativas. Apenas assim será possível criar uma sociedade verdadeiramente inclusiva, onde o envelhecimento seja reconhecido como uma etapa da vida rica em potencial e dignidade. Neste contexto, a escola assume um papel fundamental, pois constitui um dos pilares mais importantes para a construção de uma sociedade equitativa.
O processo educativo oferece oportunidades únicas para desconstruir preconceitos, criando uma base sólida para uma visão mais ampla e enriquecedora sobre o envelhecimento. Por meio de ações práticas que promovam a intergeracionalidade, a escola pode ser um catalisador de dinâmicas transformadoras. Estas dinâmicas possibilitam o reconhecimento mútuo entre gerações, valorizando as contribuições únicas de cada pessoa. Mais do que promover a autoestima, estas ações ajudam a construir um sentido de pertença e de vitalidade, desafiando a visão estereotipada do idoso como passivo ou dependente.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.