Feliz ano novo…

As férias acabaram mas o PRIXM deseja-nos bom ano … judaico! Saboreie o significado de Roch Hachana, o Ano Novo judaico, Jerusalém numa canção e a importância da memória, sob o pincel de Domenichin e as palavras de Georg Simmel.

As férias acabaram mas o PRIXM deseja-nos bom ano … judaico! Saboreie o significado de Roch Hachana, o Ano Novo judaico, Jerusalém numa canção e a importância da memória, sob o pincel de Domenichin e as palavras de Georg Simmel.

1. Como mel para a boca

https://youtu.be/aa_hgHxOAII

Com a melodia encantadora do salmo 137, ”Se me esquecer de ti, Jerusalém”, misturemo-nos com os peregrinos do Roch Hachana, o Ano Novo judaico…

 


2. Um texto bíblico 

O Senhor falou a Moisés nestes termos: «Diz aos filhos de Israel: No primeiro dia do sétimo mês, fareis um descanso solene, celebrado ao som da trombeta, um dia de recordação e de aclamação com uma assembleia sagrada. Não fareis nenhum trabalho servil, e oferecereis uma oferta queimada ao SENHOR.» (Lv 23, 23-25)

 


3. O esclarecimento 

Este domingo coincide com o início do ano litúrgico judaico. Uma boa ocasião para falar desta festa. Nas próximas segunda e terça-feira, os judeus do mundo inteiro vão festejar o Roch Hachana, que significa literalmente: «cabeça (ou seja, início) do ano». O «sétimo mês» religioso na Bíblia, com o fim das colheitas de verão e o início dos trabalhos de preparação dos terrenos, corresponde ao primeiro mês «civil» para o judaísmo. De facto, o Roch Hachana celebra o aniversário da criação do mundo, datada pelo judaísmo (a partir dos dados cronológicos da Bíblia) a 6 de outubro de 3761 a.C.! A ideia do contar o tempo a partir da criação do mundo surgiu no séc. IV para se demarcar do calendário cristão que começa, claro está, a partir de Jesus.

Esta festa do Ano Novo ganhou uma grande importância na tradição judaica. Os cristãos, esses, começam o seu ano litúrgico com o Advento…

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Domenichino (1581-1641), O sacrifício de Isaac (1627, óleo sobre tela), Museu do Prado, Madrid, Espanha

O Roch Hachana é uma festa marcada pela memória:

  • Os judeus recordam a criação do mundo. Para começar bem o ano, lembram que o mundo também teve um início e que é bom voltarmo-nos para Aquele que o trouxe à existência.
  • O segundo elemento é mais delicado, pois implica o ano que está para vir: Deus lembra-Se do ano que termina e fixa o destino de cada um para o ano que se anuncia. Mas resta ainda um adiamento (felizmente!) para os que possam ter cometido más ações no ano findo: esses têm 10 dias para pedir perdão àqueles a quem fizeram mal. Tudo será selado definitivamente no dia do grande perdão, o Yom Kipur (literalmente, «dia da propiciação»), que este ano se celebra de 8 para 9 de outubro. Este dia é marcado pelo arrependimento, expressado tradicionalmente com um período de 24 horas de jejum e de oração intensos (tínhamos vontade de lhe contar coisas mais divertidas, mas a vida é assim, não podemos escolher sempre o que apetece…)
  • Por fim, Israel recorda o sacrifício de Isaac, ou melhor – como os rabinos gostam de dizer –, a «atadura de Isaac» ou Aqeda. O crente relembra a Deus o momento bendito em que Ele segurou o braço de Abraão que ia sacrificar o seu filho. O crente convida Deus a lembrar-Se da sua misericórdia e do juramento que Ele fez a Abraão em favor da sua descendência: «E todas as nações da Terra se sentirão abençoadas na tua descendência».
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No quadro de Domenichino (mais acima), podemos ver um carneiro que vai ser sacrificado em vez de Isaac, por Abraão. É em memória da intervenção de Deus – que salvou a vida de Isaac, sacrificando este carneiro – que, em cada ano, se toca o shofar (um corno de carneiro) na festa do Roch Hachana.

 

Esta jornada de memória é um caminho de diálogo entre o crente e o seu Deus: lembram as maravilhas realizadas e os erros cometidos, recordam-se das promessas que fizeram um ao outro. Esta memória torna-se a base para as promessas do ano que começa.

 


4. Uma palavra final

No ensaio “Fidelidade e gratidão” o sociólogo Georg Simmel escreveu, em 1908, uma pequena pérola que relaciona a memória como uma outra experiência muito presente na história do Povo de Deus e no começo de cada ano, a gratidão.

“A gratidão é, por assim dizer, a memória moral da humanidade.” 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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