Estender a mão. O gesto é proposto por Francisco como imagem e chave de leitura para o Dia Mundial dos Pobres, que se assinala domingo. Este é um importante apelo para todos, num ano em que muitos se isolaram do mundo na expectativa de um sentimento de proteção perante uma pandemia que nos trouxe todo o tipo de questionamentos e confrontações connosco e com os outros.
Apesar dos enormes desafios globais deste ano, Francisco desafia-nos enquanto humanidade. Desafia a trazer, para a tão falada linha da frente, o Amor que não entra em confinamento nem se fecha aos pobres e vulneráveis quando eles mais precisam. “Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor. Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas!”
Mas o que significa isto para cada um de nós? O que significa para mim enquanto Igreja? Enquanto Organização? Enquanto Comunidade? Enquanto Família? Cada pergunta encontrará respostas diferentes em cada pessoa, mas uma coisa é certa: a escuta com humildade e a solidariedade têm de estar presentes na resposta que se queira dar a esta mensagem do Papa Francisco.
Muitos perguntam o que é isso de celebrar o Dia Mundial dos Pobres. Na mensagem que enviou à família Cáritas, Monsenhor Pierre Cibambo, Assistente Espiritual da Caritas Internationalis, lembrou: “Não nos esqueçamos que este dia especial em honra dos nossos irmãos e irmãs necessitados é nomeado ´Dia Mundial DOS Pobres´ e não ´Dia Mundial PARA os Pobres´. É, por isso, um momento para recordar e aprofundar a nossa dedicação aos outros e a forma como colocamos, ou não, os pobres no centro, assegurando que as suas vozes serão sempre ouvidas.” Lá está, novamente, a escuta humilde!
Sejamos uma organização de solidariedade ou uma comunidade paroquial, uma iniciativa pessoal ou familiar, a mensagem de Francisco lembra que a mão que estendemos aos pobres não é apenas uma mão que distribui, mas também uma mão que precisa. Quando nos encontramos com os pobres e os ouvimos e os acompanhamos, são eles que nos evangelizam. Convidam-nos a abrir os nossos corações e a transformar as nossas perspetivas mundanas e restritivas para ver Cristo na sua presença aqui na Terra.
O presidente da Caritas Internacional, Cardeal Luis Antonio Tagle, disse, a certa altura: “a maior lição da minha vida como pastor tem sido ir ao encontro dos pobres, não só com palavras, mas com um coração disposto a ouvir e a aprender com eles. Antes de dizer uma palavra sequer, é importante compreender a pessoa que temos diante de nós. Escutando com respeito os pobres, afirmamos a sua dignidade.”
Este é o dia para que todos possamos refletir sobre o que aprendemos com os mais pobres, a um nível pessoal e comunitário, é um dia para garantir que são eles quem está no centro dos nossos pensamentos e ações.
“Numa verdadeira comunidade cristã, não há membros que estejam apenas a receber, nem membros que estejam apenas a dar. Há apenas vizinhos que partilham, porque, em Cristo, somos apenas um.” – Monsenhor Pierre Cibambo.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.