É a festa das tendas…

Esta semana, partimos de uma gafe de um sedutor agente secreto francês para lhe revelar as vantagens de dormir quase ao relento… Boa “Festa das Tendas!”

Esta semana, partimos de uma gafe de um sedutor agente secreto francês para lhe revelar as vantagens de dormir quase ao relento… Boa “Festa das Tendas!”

1. Como mel para a boca

Não nos cansaremos nunca desta cena de «OSS 117 – Perdido no Rio», em que o agente especial francês, depois de uma tentativa falhada de sedução, revela a sua frustração através de um ataque desajeitado à religião judaica (cujos preceitos confunde com os do Islão). Se puder, não deixe de ver este excerto (em francês, sem legendas).

E, para evitar que lhe aconteça o mesmo que ao agente Hubert, o PRIXM deixa-lhe agora uma boa dose de sólida tradição judaica! Bom proveito!

 

2. Um texto bíblico 

O Senhor disse a Moisés:

“- Anuncia aos filhos de Israel que ao décimo-quinto dia do sétimo mês, celebrar-se-á a Festa das Tendas, durante sete dias, em honra do Senhor. […]
A partir do décimo-quinto dia do sétimo mês quando tiveres terminado as colheitas, celebrarás as festas do Senhor durante sete dias.

O primeiro dia será um sabbath, tal como o oitavo dia, o quer dizer repouso.No primeiro dia colherás o fruto da árvore mais bela, ramos de palmeiras, de árvores frondosas e de salgueiros e regozijar-te-ás perante o Senhor, teu Deus.
Celebrarás a festa do Senhor durante sete dias, todos os anos.
Esta é uma lei eterna para as tuas gerações – todos celebrarão a festa no sétimo mês.
Viverás durante sete dias em tendas – todos os homens de Israel ficarão em tendas – para que os teus descendentes saibam que os filhos de Israel ficaram em tendas quando os levei do Egipto.
Sou o Senhor vosso Deus.”

Assim falou Moisés aos filhos de Israel sobre as festas do Senhor. (Lv 23,32-34.39-44)

 


3. O esclarecimento

| A festa de Souccoth |
Este domingo, 13 de outubro, marca o início da “festa das tendas” para os judeus. Esta festa de Souccoth é a mais alegre e a mais simbólica festa de outono: é a festa das colheitas. Souccoth significa literalmente “cabanas, choupanas”. Uma Souccoth é uma casa provisória que deve ser destruída ao fim de um ano.

Cada ano, os judeus fiéis constroem uma nova cabana com ramos de palmeiras, murta, cedro e salgueiro, na qual dormem e tomam as refeições durante uma semana. Esta cabana deve obrigatoriamente ser construída ao ar livre e não sob um abrigo. Em Jerusalém, vemos centenas de cabanas floridas pelas ruas, nos terraços, nas varandas ou nos telhados.

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A Biblia enfeita as cidades. É o caso de Jerusalém, onde os vendedores imobiliários constroem prédios assiméticos para permitir que a casa tenha um terraço sob o céu. Isto permite construir a sua souccah durante a Festa das Tentas sem ter que o fazer na rua…

 

| Significado : a abundância no deserto |
Esta festa revela traços essenciais do Judaísmo: permite mergulhar no coração da experiência dos seus antepassados judeus, salvos por Deus no deserto. Ao dormirem numa cabana, olhando para o céu e para as estrelas, os judeus relembram e alegram-se por esse tempo abençoado, em que Deus caminhou fielmente com o Seu povo no deserto.

Morar numa cabana durante uma semana coloca-nos ainda mais facilmente face à questão da precariedade da nossa vida. De uma maneira muito mais contundente do que qualquer discurso… e é assim que o povo crente é levado a redescobrir a alegria simples de viver debaixo do céu, sob a bondade divina.

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Leopold Pilichowski (1869-1934), Sukkot in the Synagogue (pintura sobre tela,1894/95), Museu Judeu de Nova Iorque, Nova Iorque.

Agora a questão que toda a gente se coloca: porque é que os Judeus vivem numa cabana de madeira durante uma semana? Se lerem bem, a resposta encontra-se no texto bíblico:

  • Em primeiro lugar porque Deus assim lhes ordena. Parece um argumento fraco, mas é, na verdade, o mais perfeito: Deus fala e o povo obedece (literalmente, escuta com atenção… para pôr em prática, subentenda-se!)
  • Para além disso, porque ordens divinas são raramente destituídas de sentido. Dormir numa cabana modesta pretende relembrar os quarenta anos passados no deserto pelo povo eleito. O crente sai do conforto da sua vida quotidiana e volta a desfrutar de uma vida simples. Assim, lembra-se de que faz parte do resto das coisas criadas, e que nem tudo depende dele… Numa cabana singela, recorda e repete a experiência dos seus pais: estar no deserto, sem nada, tendo Deus como única segurança!

4. Uma palavra final

Fazer memória da salvação realizada por Deus, no passado, e reconhecer a bênção do presente é assegurar ao crente que Deus o salvará de novo no futuro, até à Bênção final. Todas as noites, o sacerdote  pede a Deus que Ele seja a souccah do seu povo:

Deixa-nos repousar em paz, Senhor nosso Deus. E faz que nos levantemos de novo, ó nosso Rei, vivos e na tua paz. Estende sobre nós a souccah da tua paz e dá-nos a alegria em tua presença. Salva-nos depressa, em honra do teu Nome. Defende-nos e afasta-nos de Satanás; e esconde-nos à sombra das tuas asas, porque Tu és um rei Bom e Misericordioso.
(Suplemento do Cahier Évangile 86, “As festas judaicas”, 49-50)

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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