Mindhunter (Sem explicação)
A ideia de que é possível perceber as motivações das pessoas ouvindo com atenção o que dizem e interpretando as suas palavras de modo a dar sentido ao que fizeram e a prever o que vão fazer é apresentada como ingénua na série televisiva Mindhunter. Holden Ford, Bill Tench e a Dra. Wendy Carr são personagens baseadas nos agentes especiais John E. Douglas e Robert K. Ressler e na psicóloga Ann Burgess, que na década de 70 criaram a primeira Unidade de Ciência Comportamental do FBI especializada em elaborar perfis de assassinos em série, tendo criado o próprio conceito de “serial killer” – uma espécie que sobrevive num país com dimensão para isso e à época sem ser possível o cruzamento de dados.
As duas temporadas de Mindhunter revelam a tensão entre a actividade racional dos psicólogos criminais que querem catalogar o comportamento errático dos criminosos através do que dizem, sendo que o que dizem ou não é fiável ou não é compreensível. Ed Kemper surge como o assassino que manipula os agentes e os leva a pensar que há razões para os seus crimes. Saber que não há é afinal inimigo da ficção.
Carla Quevedo
Ficha técnica
Género: Drama policial; Duração: 34–60 minutos; Criador: Joe Penhall – baseado em “Mind Hunter: Inside the FBI’s Elite Serial Crime Unit” de John E. Douglas e Mark Olshaker; País de origem: EUA; Idioma original: Inglês; Produtor: Jim Davidson; Cinematografia: Erik Messerschmidt; Distribuíção: Netflix; Transmissão original: 13 de outubro de 2017 – presente. Nº de temporadas: 2; Nº de episódios: 19.
The Handmaid’s Tale
Disponibilizada há pouco na sua terceira temporada, a série The Handmaid’s Tale retrata uma sociedade idealmente perfeita, onde a perfeição é alcançada à custa do sacrifício das vidas.
A ordem e a harmonia procuradas, forçadas mesmo, nas mais diferentes áreas acabam por transmitir a sensação de uma grande artificialidade. A fotografia recorre a luz suave aliada a elevado contraste que ajuda a concentrar o olhar no centro das cenas; as cores usadas são suaves e uniformes; os cenários evocam nostalgicamente uma época de prosperidade e paz; nas ruas e lojas não há ruído; os nomes são harmonizados conforme as funções sociais; a vida doméstica está perfeitamente organizada; a linguagem usada é educada e pia e o tom de voz é doce… e assim se procede a uma despersonalização dos indivíduos e se abafa, como que com um véu semitransparente, uma violência que deveria ser gritante. Acaba por ser evidente que até os construtores desta sociedade vêm ser vítimas da violência que criaram.
Recorrendo a termos bíblicos, a sociedade apresentada em The Handmaid’s Tale é uma Babel contemporânea, uma sociedade construída caindo na tentação da uniformidade (uma só língua, o uso de tijolos de fabricação humana, em vez de pedras), com um ideal que é tocar o céu. Mas o reino dos céus é uma proposta e não uma imposição e é daqui que surge a violência, fazendo deste modo uma crítica evidente a regimes políticos ideológicos nacionalistas, oligárquicos, proteccionistas e teocráticos.
P. Frederico Lemos, SJ
https://www.youtube.com/watch?v=SAXy_NyUN6k
Ficha técnica
Género: drama / distopia; Duração: 47-60 min; Criador: Bruce Miller – baseado no romance “The Handmaid’s Tale” de Margaret Atwood; País: EUA; Idioma original: Inglês; Produtores: Margaret Atwood e Elisabeth Moss; Distribuíção: Hulu; Transmissão original: 26 de abril de 2017- presente; Nº de temporadas: 3; Nº de episódios: 36.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
Sugestão Cultural Brotéria
Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.
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