O Divino Senhor envia assim o Seu Filho. O Mestre da Dança do Descanso. Encarnando, o Mestre veste a nossa roupa de pele e carne humanas. Desce do céu para ser Jesus. Homem. Príncipe da paz, Mestre do Descanso.
“Le Roi dance!”
Durante trintas anos o Mestre dançou com os seus, primeiro em casa, com sua mãe e pai, depois, na pequena sinagoga nas colinas de Nazaré, só mais tarde entre as multidões de coxos e paralíticos do cansaço. Cegos, prostitutas, eunucos, bissexuais, assexuais, filantropos, levitas e bandidos, leprosos e amigas. Toda a nossa humanidade numa imensa coreografia liderada pelo Mestre da Dançado Descanso. E como dançou bem o Rei dos Judeus! Como foi bela e verdadeira a Sua coreografia! Como tornou clara a dificuldade da sua promessa. Como iluminou as trevas da sua compreensão. E por fim, como deu espaço a que cada um pudesse ser ele próprio nessa dança, dançando-a à sua maneira, tal como é, sem fingimentos nem medo de ser confundido. Ajudou-nos a descobrir que cada um de nós só pode ser ele mesmo nessa dança. Quando dança. Quando dança com o Mestre. Quando descansa com o Mestre dançando, dançando com Ele na Dança do Descanso. E para que não faltem os mortos à festa também eles foram convidados a dançar no final de tudo isto, depois da estreia oficial da Dança na “soirée” na Última Ceia, depois da morte imobilizada numa cruz onde o Mestre pregado e manietado ainda dançou. E dançou tragicamente a parte da coreografia mais exigente a que ninguém podia dançar sem ele a dançar primeiro. E dançou sangrando e trespassado, entrando na luz gloriosa do seu corpo glorioso já sem roupa de dançarino, mas dançando de dentro para fora, nu em todos nós e em cada um para sempre – qual hóstia santa.
E dançou tragicamente a parte da coreografia mais exigente a que ninguém podia dançar sem ele a dançar primeiro. E dançou sangrando e trespassado, entrando na luz gloriosa do seu corpo glorioso já sem roupa de dançarino, mas dançando de dentro para fora, nu em todos nós e em cada um para sempre – qual hóstia santa.
Num mundo onde o cansaço é a primeira causa de tristeza do ser humano, a coreografia do Mestre do Descanso, em quatro volumes, tem de ser recuperada para todo o ser humano. Ela é oferta sublime, gratuita, tesouro inesgotável, pérola sagrada comprada ao preço de todas as outras. O Mestre deixou-nos a Sua vida, a Sua coreografia, o seu estilo. Deixou-nos pequenos mestres de dança, seus apóstolos e suas discípulas amadas, que foram testemunhas oculares que com ele dançaram e comeram. E deixou-nos, finalmente de Si, o “ar” de seus pulmões, o Espírito Santo que o habitava quando dançava e voava na terra, e a Quem não podemos deixar de invocar cada vez que quisermos dançar a Sua dança. Esse Consolador amigo que em nós grava a melodia, a letra a coreografia, e nos faz memória Dele, como Mestre da Dança.
Num mundo, onde o cansaço tanto nos tem desumanizado, somos criaturas amadas e visitadas. Levamos conosco, em vasos de barro os mandamentos de uma nova Dança como filhos no Filho. Temos algo mais para oferecer ao mundo do que mentiras, desassossego ou falsas promessas. Como corpo de ballet, dançamos para Todos, a única dança que importa, aquela que convence porque não se impõe, aquela que deslumbra porque bela, porque verdadeira, una. A Dança do Descanso.
*A primeira parte desta reflexão pode ser lida aqui.
** A fotografia que ilustra esta reflexão é da autoria de P. Paulo Teia, sj
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.