Beira: cooperar para recuperar

Cinco meses após a passagem do ciclone IDAI, o P. Abel Bandeira, sj conta como a cidade da Beira recupera de uma das maiores catástrofes que afetou o território moçambicano.

Cinco meses após a passagem do ciclone IDAI, o P. Abel Bandeira, sj conta como a cidade da Beira recupera de uma das maiores catástrofes que afetou o território moçambicano.

Cumpriram-se há poucos dias cinco meses da passagem do ciclone IDAI que afectou, dentro do território moçambicano, as províncias de Sofala e Manica. A cidade da Beira, foi aquela que, mediaticamente, se tornou o rosto da destruição dos ventos e chuvas que ultrapassaram os 200km/hora. Telhados de zinco e lusalite destruídos, árvores centenárias arrancadas, postes eléctricos caídos, inundações por todos os lados, um cenário apocalíptico narrado na primeira pessoa de muitos que falaram comigo.

Apesar da dimensão da tragédia, a cidade da Beira reagiu. O presidente do Conselho (Câmara) Municipal, Daviz Simango, no mesmo dia veio para a rua e começou, juntamente com alguns populares, a operação de limpeza. O seu exemplo contagiou muitos. Ficou famosa a cena de Daviz Simango a receber representantes estrangeiros, não no seu gabinete, mas na rua onde ele coordenava as operações de limpeza.

A ajuda internacional não se fez esperar. Por cima da nossa casa na Manga, passaram vários aviões ruidosos de grande porte, que aterravam no aeroporto internacional da Beira, num movimento aéreo fora do comum.

Já foram retelhados vários edifícios, muros levantados, tudo sobre a coordenação de uma pequena equipa bastante eficaz. Para além disso, o arcebispo tirou o carro e transformou a garagem num pequeno banco alimentar, onde as famílias mais pobres das paróquias podem levantar alimentos.

A Beira não tardou muito a recuperar os serviços de água e de electricidade. Apesar disso não conseguiu evitar um surto de cólera que assustou as autoridades sanitárias. Houve uma ajuda de alimentos que começou a ser distribuída dentro e fora da cidade. Sabemos que estes processos são difíceis de controlar e que há sempre esquemas de corrupção pelo meio.

Volvido este tempo, ainda se veem, em vários pontos da cidade, casas sem telhado. Mas o movimento de reconstrução é imparável: aumentou o número de empresas na cidade ligadas ao sector. A Cruz Vermelha Portuguesa está empenhada na reconstrução de um pequeno hospital no bairro do Macurungo com os donativos recebidos e a obra esta a andar a um bom ritmo. Diga-se de passagem, que o serviço de saúde prestado pelos médicos voluntários ligados a esta instituição é altamente apreciado pelos pacientes.

A Arquidiocese da Beira esta a fazer um trabalho notável de recuperação de várias Igrejas, casas paroquiais e escolas católicas. Já foram construídos novos telhados em vários edifícios, muros levantados, tudo sobre a coordenação de uma pequena equipa bastante eficaz. Para além disso, o arcebispo tirou o carro e transformou a garagem num pequeno banco alimentar, onde as famílias mais pobres das paróquias podem levantar alimentos.

A época das chuvas chegará em dois meses. A Companhia de Jesus e as instituições a si ligadas terão que correr contra o tempo. Há pessoas que ainda não têm casa e escolas que não têm telhados. É urgente agir!

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.