A Bíblia: que história é esta?

Há algum modo simples de entender o essencial da Sagrada Escritura? Antes de mais, há que ter a noção que a Bíblia não é um livro, mas uma biblioteca cujos livros focam os diferentes aspectos da relação entre Deus e o seu povo.

Há algum modo simples de entender o essencial da Sagrada Escritura? Antes de mais, há que ter a noção que a Bíblia não é um livro, mas uma biblioteca cujos livros focam os diferentes aspectos da relação entre Deus e o seu povo.

A Bíblia tem sido a grande protagonista todos os domingos no Ponto SJ através do PRIXM. Num momento em que interrompemos, por algumas semanas, a publicação desta proposta da responsabilidade dos Frades Dominicanos da École Biblique et Archéologique Française de Jerusalém, republicamos ao longo das próximas três semanas textos sobre a Bíblia publicados originalmente na revista Mensageiro. 

 

Conhecemos decerto pessoas que num momento de generosidade decidiram começar a ler a Bíblia… a maioria não durou muito neste propósito, por não entender o que estava a ler! Pressentimos que a leitura bíblica é essencial, mas sentimo-nos muito longe desta história… Contudo, sabemos mais sobre a Bíblia e suas histórias do que pensamos! A Escritura está omnipresente no nosso modo de falar e de entender o mundo. Quando dizemos de um amigo que teve uma “paciência de Job” ao ter sido feito “bode expiatório” de uma injustiça, mesmo estando em “ano sabático” – ou quando nos queixamos das chuvas “diluvianas” de ontem – citámos quatro vezes o Antigo Testamento sem dar conta disso. Não é por isso estranho que alguém se tenha referido à Bíblia como o “Grande Código” a partir do qual se pode entender a cultura ocidental.

No entanto, só conseguiremos entender a lógica desta história se acolhermos a sua razão teo-lógica: há coisas essenciais sobre a vida que o Deus-Amor nos quer revelar, pois escapam à nossa capacidade de intuir, investigar ou decidir!

Há algum modo simples de entender o essencial da Sagrada Escritura? Antes de mais, há que ter a noção que a Bíblia não é um livro, mas uma biblioteca cujos livros focam os diferentes aspectos da relação entre Deus e o seu povo, ao longo de uma “História de Salvação”. Comecemos pelo Antigo Testamento, confiando que se todas as histórias têm uma lógica, o mesmo acontecerá com estas! Ao arrumar estes 46 livros em “prateleiras” chamadas géneros literários vamos encontrando um fio condutor que nos ajuda a entender esta história. No entanto, só conseguiremos entender a lógica desta história se acolhermos a sua razão teo-lógica: há coisas essenciais sobre a vida que o Deus-Amor nos quer revelar, pois escapam à nossa capacidade de intuir, investigar ou decidir!

No pentateuco (os cinco primeiros livros) Israel reconhece Deus como o seu criador e como aquele que lhe propõe uma aliança. Deus está atento à sorte do seu povo e manifesta-se como libertador. A aliança especifica-se então numa lei e na promessa de uma terra de abundância. Os livros “históricos” e proféticos falam-nos da entrada na terra prometida: o sinal da realização da promessa divina. Israel começa a sua história como povo, uma história narrada ao longo de vários livros. Sucedem-se líderes carismáticos e reis que vão conduzindo o povo na fidelidade – ou infidelidade – à lei de Deus e à sua aliança. Vão surgindo também profetas: homens e mulheres que através de gestos e palavras anunciam a Palavra de Deus denunciam as injustiças e infidelidades do povo e dos seus líderes. A história da relação entre Deus e o seu povo dá origem a uma série de orações (os salmos), máximas, poemas e narrativas (a literatura sapiencial) que condensam a espiritualidade de Israel, a sua sabedoria de vida. Neste ponto da história estamos já muito próximos de um acontecimento que dará pleno sentido – e uma nova luz – a todo este caminho: o nascimento de Jesus.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.